Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
13/03/2017 às 09h04min - Atualizada em 13/03/2017 às 09h04min

A preservação da memória por meio de objetos

Reserva Técnica do Museu de Uberlândia toma conta de um acervo com mais de seis mil volumes

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Vânia Rende Candelot, historiadora responsável pela documentação do acervo da Reserva Técnica do Museu Municipal

O Museu Municipal de Uberlândia tem um acervo de 2.830 peças, o que desmembrado chega a 6.635 partes. A maioria delas, aproximadamente duas mil, não fica à disposição do público na maior parte do tempo e são apresentadas em distintas exposições temporárias que passam pelo imponente Palácio dos Leões, prédio que abrigou a Câmara Municipal de Uberlândia e hoje abriga o Museu, na Praça Clarimundo Carneiro.

A conservação e catalogação desse acervo fica sob os cuidados dos profissionais da Reserva Técnica, em outro prédio, localizado no bairro Martins. “Recebemos aqui objetos que remetem à formação do município. Eles trazem consigo parte da história. Também recebemos itens da região quando vem a complementar nossas coleções”, explica Vânia Rende Candelot, historiadora responsável pela documentação do acervo da Reserva Técnica do Museu Municipal.

Recentemente eles receberam um projeto de filmes de um senhor que costumava projetar filmes pelas ruas da cidade e uma máquina de escrever que possivelmente foi uma das primeiras na região. “Mais importante que o objeto é a história por trás dele, a forma como era usado. A senhora que fez a doação da máquina de escrever foi a primeira na escola a ter uma, conseguiu até um trabalho por conta disso e passou a datilografar trabalhos para os colegas”, comenta Vânia Candelot. Entre os artigos mais antigos do Museu está uma farda de 1895, doada pela esposa do major do 32º Regimento de Cavalaria da comarca de Uberabinha, José Rezende dos Santos.

A historiadora mostrou à reportagem do jornal Diário do Comércio toda a área da Reserva Técnica, que não é aberta para visitação, salvo estudiosos da área que estejam fazendo alguma pesquisa ou trabalho e pessoas que buscam algum conhecimento técnico. Geralmente as peças são encaminhadas para a Reserva Técnica depois de serem levadas ao Museu Municipal pelo dono.

“Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar formada por duas historiadoras, duas pessoas das Artes Plásticas e um técnico que nós trouxemos e ensinamos como trabalhar no acervo. Infelizmente não há museólogos na região. Nosso quadro de pessoal é enxuto, precisaria de mais gente. Mas isso não impede que façamos bem nosso trabalho. O conhecimento técnico adquirimos com o tempo através de estudo e visitas a museus de outras cidades”, disse Vânia Candelot.

Foi ela quem desenvolveu o sistema de classificação das peças que é feito quando dão entrada na Reserva, ainda não informatizado. Por meio de etiquetas coloridas diferenciam as 11 categorias. Por exemplo, dentro da Categoria Armaria tem subcategorias: arma de arremesso e golpe, arma branca, equipamentos de armaria, equipamentos de defesa. Em Comunicação estão equipamento de comunicação escrita, equipamento sonoro visual e equipamento de precisão ótica, e assim por diante.

As pessoas que manuseiam as peças devem usar luvas. Os objetos são acondicionados de forma a serem protegidos da ação do tempo que acelere a deterioração dos mesmos.

Hoje, além do Museu, o Teatro Municipal tem algumas dessas peças em exposição. Para o transporte há toda uma logística para evitar acidentes e danos aos objetos que podem ser desde um secador de cabelo portátil antigo a um pote de barro do início do século passado. Após o período de exposição, o material é novamente recolhido à Reserva Técnica.

ESPAÇO

Vânia Candelot afirma que a questão do espaço é o principal fator para que a Reserva Técnica fique em um prédio diferente do Museu. “Mas não é uma particularidade de Uberlândia, é assim em várias outras cidades que visitamos. Havia um projeto para ter a Reserva Técnica no Subsolo do Palácio dos Leões, mas se isso tivesse acontecido hoje esse espaço já não comportaria o acervo”, explica.

Sapatos usados pela esposa do primeiro prefeito de Uberlândia, Tubal Vilela, dividem espaço com teares, baús, rádios antigos e fogões de lenha. “Nosso acervo é muito variado, porém, há itens que temos demais, como moedas, e hoje só recebemos exemplares faltantes. Mas também faltam, por exemplo, exemplares de utensílios para servir à mesa, que temos poucos”, disse a historiadora.

Ela conta ainda que o papel da Reserva Técnica não é pegar uma peça e restaurar, deixar com cara de nova. “A gente recebe e preserva como veio. Algumas precisam somente de higienização e outras, que têm problemas de estrutura, podem vir a sofrer algum tipo de intervenção, o que não acontece se a peça estiver íntegra”, explica.

 

ALÉM DO OFÍCIO

Exposição temporária traz itens da época em que museu era dedicado a profissões

Vânia Candelot conta que o Museu foi, entre 1984 e 1993, dedicado a ofícios, profissões. A partir daí, tornou-se o Museu Histórico Antropológico. A primeira coleção foi comprada de um colecionador, Argemiro Costa, e um museu de ofícios era o mais indicado para o que ele tinha naquele momento. A historiadora lembra que fora essa coleção de Costa, nenhuma outra foi comprada. Tudo que o museu adquiriu desde aquela época foi por meio de doação.

“Se ficássemos só no ofício muitas peças que recebemos não poderiam ficar em exposição. O museu de ofício é um museu ligado ao trabalho. Temos muitas peças de sapateiro, de dentista, e foi só aumentando”, explica Vânia Candelot.

Thaís Tormin Porto Arantes, administradora do Museu Municipal, nos mostra os itens da exposição temporária “Do prático ao dentista: um recorte no tempo”. “Quando essa exposição sair de cartaz dará lugar a outra e essas peças retornam à reserva técnica. Outras exposições, como da Câmara Municipal e a história do início de nossa cidade são permanentes”, explica ela que trabalha atualmente no fechamento da programação da 15ª Semana Nacional dos Museus, que acontece de 15 a 21 de maio.

 

SERVIÇO

Para entrar em contato com a Reserva Técnica do Museu de Uberlândia ligue: 3235-0971.

 

ARTE

FOTOS: ADREANA OLIVEIRA

Secador portátil

Máquina de Escrever

Rádio


Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90