A artista plástica Lionizia Goyá elegeu Uberlândia como sua cidade há duas décadas. É goiana da cidade de Caçu e graças a esse berço foi aprovada para atuar como membro da Associação Goiana de Artes Visuais (Agav) em março do ano passado. Sempre que possível está entre os colegas goianos produzindo e mostrando seu trabalho. Hoje, na capital goiana, ela participa da abertura da exposição “O Novo Grito”, nas galerias de arte Frei Nazareno Confaloni e Sebastião dor Reis, situadas no Centro Cultural Octo Marques, Centro de Goiânia.
Foram selecionados 70 artistas plásticos, (44 pertencentes à Agav e 26 artistas recém-admitidos escolhidos pela curadoria da Agav) que esteve pintando, fotografando e esculpindo em um happening em público na praça universitária sempre nas manhãs dos finais de semana durante três meses consecutivos entre 24 de setembro e 19 de dezembro do ano passado.
A exposição “O Novo Grito” fica em cartaz até 12 de março com aproximadamente 200 trabalhos entre pintura, escultura e fotografia. Lionizia Goyá participa com as obras: “Consumida”, “Combalida” e “Consternada”, nas quais trabalhou por cerca de seis meses, quando tomou conhecimento do projeto. “Quando tenho em um tema, vou a fundo na pesquisa. Uma indagação pessoal e intransferível toma conta de meu existir. Busco eleger sua melhor representação. Penso como melhor representá-lo. Vislumbro os materiais e recursos que tenho disponíveis, pois trabalho com assemblage de memória, ou seja, objetos ofertados a mim que seriam jogados fora. Uma reciclagem”, explica a artista.
Nestas obras ela utilizou retalhos de tecido, sobras de renda e barras de vestidos e o que para muitos seria lixo, transformou, de certa forma em “luxo”, mais a tinta acrílica e o óleo sobre tela. “Considero-me uma 'pensadora' de um construir com diversas possibilidades de leitura. Meus trabalhos estão sendo, carinhosamente, pronunciados como "textos poéticos visuais" após a apresentação da amiga Léa Carneiro de Zumpano França, Artista Plástica, Mestre em Educação e Especialista em Educação”, comenta Lionizia Goya.
Segundo o presidente da Agava, Nonatto Coelho, a entidade tem o objetivo de agregar artistas profissionais nas suas variadas maneiras de expressões. “Desde de sua fundação, em 2006, até hoje temos adensado nosso contingente de associados aglutinando nomes proeminentes e novos valores da arte que se respeitam e trabalham com objetivos de dinamizar o meio artístico e social intercambiando ações entre artistas e amantes da arte em múltiplas maneiras socioculturais”, afirma.
Perspectivas
Lionizia Goyá afirma que começou bem o ano com a participação na exposição “O Novo Grito”, em Goiânia e afirma que tem à frente, uma grande exposição, parte de um amplo projeto com o apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, Seduce e Governo de Goiás. “Tenho vários projetos em andamento, nas Artes Plásticas e na Literatura, pois acredite: escrevo com os pincéis e pinto com as letras. Reconheço a importância de ambas, em meu existir. Não consigo desvencilha-las”, afirma.
INSPIRAÇÃO
Quadro de Evard Munch é um dos mais importante do Expressionismo
REPRODUÇÃO
“O Grito” (original Skrik, 1893), de Edvard Munch em Óleo, têmpera e pastel
A exposição “O Novo Grito” é inspirada no quadro “O Grito”, do artista Norueguês Edvard Munch (1863-1944). Para Nonatto Coelho, o artista deixou nesta obra uma iconografia seminal para que possamos entender a germinação do Expressionismo que eclodiu no início do século passado, que fala da angústia e dos conflitos que acometem a vida humana em todas as épocas, mas que parece acentuadamente muito atual em um mundo pontuado por antagonismos e conflitos de ordem político social.
“Quando recebi a carta de Nonatto Coelho explicando sobre o projeto ‘O Novo Grito’ o tema encantou-me imensamente. Esta é uma das obras mais significativas e expressivas da História da Arte”, disse Lionizia Goyá.
“O Grito” traz uma figura andrógina em um momento de angústia e desespero. O plano de fundo é a doca de Oslofjord, em Oslo, Noruega, ao pôr-do-sol. Nas obras de Lionizia Goyá vemos mulheres em situações difíceis, em que o grito é de certa forma impedido e obras que dialogam com o momento em que vivemos. “Como pensar algo menor que uma denúncia?! O não grito. O oposto. O brado reprimido. A tortura guardada. O sentimento não dito. Verdades ocultadas. A dor não declarada... Estamos vivendo um momento difícil em nossa sociedade. Percebemos vários ‘rostos’ aflitos e inseguros. Optei por eleger a mulher amordaçada em sua dor, por minha condição de igual. E por sua peregrinação, submissão e subordinação. Estas madamas continuam frágeis e maltratadas como há séculos... São histórias de donas, mas que poderia ser de qualquer um que deseja mudar o que está acontecendo ao seu redor e encontram-se sem forças necessárias para ser ouvido”, explica Lionizia Goyá