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13/07/2022 às 08h00min - Atualizada em 13/07/2022 às 08h00min

Guerra entre Rússia e Ucrânia ameaça a segurança alimentar no mundo

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, de onde cerca de quatro milhões de pessoas fugiram, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

A invasão russa "aumentou consideravelmente" os riscos de uma ruptura na economia mundial, admitiu a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. 

É dado como certo que a guerra na Ucrânia deve derrubar a economia russa com as sanções impostas por países ocidentais. Mas a grande pergunta dos mercados globais é o quanto os impactos do conflito no Leste Europeu podem respingar no resto do mundo, do Pacífico ao Atlântico.

Os cenários de inflação, desabastecimentos e desvios de mercados não esgotam as possibilidades. Entre os pontos de maior preocupação em nível mundial, destacam-se a explosão do preço das matérias-primas, o aumento generalizado do preço do barril do petróleo, do gás e dos derivados, provocando uma elevação da inflação global, e o aumento no preço dos grãos, com efeitos sobre os preços da proteína animal.

A guerra na Ucrânia coloca em risco a segurança alimentar global, bem como a recuperação econômica. O mundo “sofre o impacto dos efeitos da guerra na Ucrânia, nos preços dos alimentos e fertilizantes” que estão em alta, afirmou Qu Dongyu durante a abertura da 37ª Conferência para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). 

Ele argumentou que as consequências “podem ser ainda piores, dependendo de como o conflito se desenvolve” e pediu a “proteção das pessoas contra a fome”. 

A Rússia foi acusada pela ONU de causar uma “crise global de alimentos”. O diretor da FAO ressaltou que a América Latina e o Caribe, com cerca de 650 milhões de habitantes, segundo a ONU, produzem alimentos suficientes em termos de calorias para sustentar a vida de cerca de 1,3 bilhão de pessoas. “Mas até 2050 isso não será mais suficiente. Teremos que apoiar quase 10 bilhões de pessoas” globalmente, acrescentou.

Qu Dongyu indicou que a região é a mais biodiversa e possui uma riqueza ímpar, que representa 13% da produção agrícola e pesqueira mundial, além de 34% dos recursos de água doce do planeta.

No entanto, “a pandemia atingiu duramente a América Latina e o Caribe. A fome, a insegurança alimentar, a obesidade e a pobreza estão aumentando, e os recursos naturais e o ecossistema enfrentam degradação”, alertou.

Reflitam comigo: ... Especialistas apontam riscos para a segurança alimentar com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Principal exportador de fertilizantes para o Brasil, a Rússia sofreu sanções comerciais de países no ocidente.

A elevação de preços e a escassez de alimentos e combustíveis foram as principais consequências da guerra, apontam os participantes de audiência pública na Câmara dos Deputados aqui no Brasil. O debate promovido pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional reuniu representantes do governo, do setor produtivo e especialistas em geopolítica e comércio internacional. 

Segundo o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Paulino Franco de Carvalho, o Brasil procura manter uma posição de neutralidade e aposta na solução diplomática para pôr fim ao conflito. O embaixador criticou as sanções unilaterais impostas à Rússia, que podem colocar em risco a segurança alimentar de grande parte da população do planeta. 
Além da parcela da população que sofre com a fome, outras cerca de 2,3 bilhões de pessoas no mundo, ou seja, 29,3% da população global estavam em insegurança alimentar moderada ou grave em 2021. O valor é de 350 milhões a mais em comparação com antes do surto da pandemia da covid-19. Os resultados do relatório também apontam que quase 924 milhões de pessoas, ou 11,7% da população global, enfrentaram insegurança alimentar em níveis graves, um aumento de 207 milhões em dois anos. A insegurança alimentar atinge produtos essenciais à sobrevivência de grande parte da população, como os fertilizantes que nós no Brasil precisamos e são igualmente essenciais para garantir a segurança alimentar de países em desenvolvimento.

A representante da Confederação Nacional da Agricultura, Nathália Sampaio, apontou que o Brasil tem forte dependência da Rússia para importação de fertilizantes. E, por isso, o produto teve forte alta de preços no país em decorrência do conflito. O governo procura amenizar o problema com a busca de outros fornecedores no mercado mundial.

Pensando estrategicamente: O professor da Escola Superior de Guerra, Ronaldo Carmona, defende que o Brasil tem de investir na industrialização, a fim de garantir o abastecimento de produtos estratégicos, como combustíveis e fertilizantes. Carmona acredita que a guerra é uma consequência de mudanças que já vêm ocorrendo na correlação de forças mundiais nas últimas décadas. “Todos os grandes países passam a considerar como prioridade o fator de segurança nacional no que diz respeito à obtenção de bens ou insumos críticos e vitais. 

Um levantamento divulgado no dia 8 de julho mostra que o país soma atualmente cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente, quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020. Em números absolutos, são 14 milhões de pessoas a mais passando fome no país.

Para o professor, a solução do problema pode estar em buscar novos parceiros comerciais e firmar parcerias no próprio continente sul-americano, onde há países com plantas ociosas que podem suprir a falta do produto provocada pela guerra no leste europeu. “O Brasil precisa buscar a diversificação das importações com diferentes parceiros para não depender de um só país. E, ao diversificar as importações, buscar parceiros que são confiáveis do ponto de vista geopolítico, político e logístico. Do ponto de vista de vizinhança, a gente tem um favorecimento logístico na América do Sul", acrescentou.
 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
  


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