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13/04/2022 às 08h00min - Atualizada em 13/04/2022 às 08h00min

Falso moralismo e o país da impunidade

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
O falso moralista é uma pessoa que prega a moral e os bons costumes, porém no seu dia a dia não pratica a moral que ele defende ou julga correta. São aquelas pessoas que fazem o oposto do que falam, que cometem erros, mas são bastante severos com os mesmos equívocos cometidos por outras pessoas.

Na sociedade em geral, e principalmente no ambiente de trabalho e na política, existem pessoas que criticam a ideia alheia, são julgadoras e acreditam estar sempre certas.

Essas pessoas com postura inflexível, que consideram seu código de conduta sagrado, que em seu discurso de forma explícita ou velada sempre querem prejudicar os demais são os falsos moralistas.

O falso moralista é também aquele político que deprecia e censura as atitudes dos concorrentes, mas quando precisa, faz aliança com eles para conseguir seus objetivos, agindo de forma hipócrita, muito comum em época de eleições.

O discurso do falso moralista é permeado de acidez e de hipocrisia, por isso a sua máscara não demora a cair; ninguém consegue se mostrar perfeito durante todo o tempo.  Como disse Miriam Naomy Nishi, “Às vezes podem demorar dias, meses ou anos, mas a verdade sempre prevalece! As máscaras caem e a realidade se sobressai!

Um dos problemas mais preocupantes do Brasil é a criminalidade, estou certo? É bem provável que você concorde comigo. Mas nesse caso, o problema é muito mais profundo. Por trás da criminalidade existem vários impulsores. Os mais lembrados sempre são: fome; falta de condições básicas para a população; e até problemas relacionados à estrutura familiar. Mas você já parou para pensar na impunidade que se esconde às sombras dos discursos falso moralistas?

Te convido a refletir comigo: ... se em nosso país, os pequenos delitos não resultam em prisão, e os crimes hediondos ficam impunes por causa das brechas de leis que beneficiam os criminosos; se no Brasil não temos prisão perpétua, mas temos prisão domiciliar para crimes por motivos torpes; isso não significa que estamos estimulando a violência, ao invés de combater?

Vamos um pouco mais além. E quando falamos sobre os exemplos? Quem são essas figuras que deveriam ser modelos na sociedade, mostrando que delitos são delitos, independente da gravidade deles, e que TODOS deveriam ser responsáveis pelos seus atos? Isso mesmo, os políticos e a alta corte da justiça brasileira.

Mas ao contrário disso, vivemos na ilha da impunidade dos colarinhos brancos. A corrupção é a mãe e o pai dos crimes, pois começa de onde não deveria nem existir, e acaba corrompendo uma sociedade inteira. E as consequências? Parecem mais uma brincadeira. Embora a pena máxima, de 12 anos, queira impressionar, observe: na prática essa punição é quase sempre a mínima, ou seja, de 2 anos - quando é aplicada.

É como diz aquele ditado, não no palanque, mas na realidade: "Façam o que eu falo, mas não façam o que eu faço". Quem deveria ser exemplo, prega honestidade mas entrega roubalheira. Jura lealdade, mas só é leal aos próprios interesses, esquecendo o coletivo. Promete cuidar do país, mas cuida apenas para que sua própria riqueza cresça, e a do povo diminua. 

E ainda piora: você sabia que os crimes de corrupção prescrevem? É como se esses atos ilícitos e criminosos jamais tivessem existido, embora tenham sido amplamente provados e os réus tenham sido condenados. Temos exemplos de políticos, que tiveram seus crimes prescritos sem que eles tenham sido sequer condenados, embora tenham sido encontradas centenas de milhões de dólares em suas contas no exterior. 

O fato é que quando se fala em punição de colarinhos brancos, não somos experientes. Tanto que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) realizou um estudo que aponta que, entre 1988 e 2009, o Supremo Tribunal Federal não condenou nenhum agente político julgado pela prática de crimes contra a administração pública. Seria isso possível?

A pesquisa apontou ainda a demora no julgamento das ações penais originárias no STF e no Superior Tribunal de Justiça, tanto que dos 130 processos distribuídos no Supremo nos últimos 19 anos, apenas seis foram julgados, e absolvidos, enquanto outros 46 foram remetidos à instância inferior, 13 prescreveram e 52 continuam em tramitação.

A impunidade é tão grave que dos 22 réus que respondem por formação de quadrilha dentro do “Processo Mensalão”, que tramita no STF, todos podem ficar livres em breve, quando o crime prescrever. Fica fácil entender por que cada vez mais políticos preferem o caminho da improbidade, ou seja, na política o crime compensa sim.

Nesse ritmo, voltamos automaticamente aos mesmos problemas de sempre, e quem paga a conta é a população brasileira. É um círculo vicioso, o cachorro correndo atrás do próprio rabo.

Vamos pensar estrategicamente. ... ou interrompemos esse padrão, ou ele irá - cada vez mais - desgastar e destruir a nossa gente, nossas riquezas, nossa economia e a nossa reputação de nação séria. Ou mudamos e criando um ambiente minimamente favorável à punição da corrupção, ou nos tornaremos cada vez mais o paraíso dos grandes e “competentes” corruptos que são o infortúnio daqueles que sofrem diariamente com a falta do dinheiro desviado na educação, saúde, saneamento e segurança pública.

Não adianta, nada se esconde para sempre. A autenticidade exige a verdade. A humildade exige a verdade. A dignidade exige verdade. Você pode até fugir, mas nunca se esconderá para sempre. A única coisa que a mentira te traz é a vergonha, a queda e a derrota, os exemplos estão ai!

É importante refletir que todas as situações que envolvem a falsa moral são prejudiciais; ou porque prejudicam o outro ou porque prejudicam a própria imagem.

Uma sociedade só evolui quando seus líderes praticam a moral e a ética. Tanto a ética quanto a moral são responsáveis por construir os alicerces que vão nortear a conduta do homem, definindo seu caráter e virtudes, e ensinar como ele poderá se comportar em sociedade.

 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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