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30/03/2022 às 08h00min - Atualizada em 30/03/2022 às 08h00min

O Brasil visto pela ótica do quarto poder e as eleições

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
O Brasil é uma nação republicana, cujo aparelho governamental é instituído a partir dos preceitos do estado democrático de direito. Nossa república é constituída pelos Três Poderes: o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. Em tese, os três devem trabalhar em harmonia, fortalecendo o Estado e favorecendo o bem comum.

Desde os primórdios da civilização, tribos utilizavam sistemas de “castas” para definir seus líderes e indivíduos com mais ou menos influência na comunidade. Com a ascensão do capitalismo, essa influência passou a ser definida pelo montante de bens de um cidadão. Séculos depois, vivenciamos o auge deste sistema econômico, com grandes oligarquias exercendo sua influência de maneiras transcontinentais. Com a evolução das civilizações, surgiram os diferentes tipos de Estado, estabelecidos segundo suas respectivas legislações.

Mas, por que falarmos disso? Porque compreender as estruturas de poder é essencial para entendermos nosso atual cenário eleitoral. O poder, derivado do latim “possum”, representa o direito de deliberar, agir, mandar e, dependendo do contexto, exercer sua autoridade, soberania, a posse de um domínio, da influência ou da força. Inúmeras teorias das ciências sociais e aplicadas estão relacionadas ao poder, como a teoria dos jogos, o feminismo, o machismo, os campos simbólicos e muitas outras. Já no campo da política, podemos afirmar que se trata da capacidade de impor algo sem alternativa para desobediência. 

Entretanto, a evolução das civilizações – principalmente no ramo das tecnologias da comunicação e informação – acabou criando aquilo que chamamos de “quarto poder”: a mídia. Não é de hoje que vemos e sabemos da força que a mídia possui, e isso fica mais nítido quando por meio de toda essa força ela passa a inculcar nas pessoas uma ideia ou mesmo um ponto de vista já formado sobre determinado assunto. 

Por isso que se deve questionar: até que ponto a mídia deve atuar e quais os seus limites em um Estado verdadeiramente democrático? Esse questionamento consiste no fato de que em muitas ocasiões a sociedade não passa de massa de manobra na mão da mídia, utilizada toda vez que o apoio social é visto como preponderante para uma questão específica. Sempre que determinado assunto exigir o apoio social, e claro, havendo reciprocidade entre a mídia e os privilegiados com a ação, a sociedade passa a ser bombardeada com notícias, reportagens, propagandas e até publicidades, que possuem o mesmo objetivo, qual seja, conseguir o apoio da sociedade.

Isso acontece porque, em tese, a imprensa brasileira é responsável pela análise, denúncia, investigação da classe política e empresarial do país. Ela, portanto, tem o dever de levar a público os atos ilegais e ilícitos, corruptos e incorretos...

Precisamos refletir: ... é durante as eleições que podemos observar de maneira mais explícita a influência do “quarto poder” sobre a agenda pública. Dependendo das diretrizes do veículo, seja ele impresso, audiovisual ou digital, ele possui o poder de selecionar e preparar conteúdos de maneira a favorecer a si própria ou determinados partidos políticos e grupos. Alguns afirmam que, de certa maneira, isso desfavorece a democracia, uma vez que a mídia possui uma imensa capacidade de construir e destruir narrativas e personalidades.

Em outras palavras, aqueles candidatos exibidos como possíveis ganhadores (com vantagem de intenção de votos) acabam atraindo um número maior de votos. Além disso, uma grande projeção, ou o tempo longo de exposição na mídia, também faz com que a probabilidade de votos no adversário seja reduzida. A forma como a notícia é veiculada e a posição dos candidatos também importam para produzir efeitos, entretanto vários autores apontam esses efeitos de mídia como de curto prazo, de modo que, quanto mais próximo das eleições as informações são divulgadas, maior o efeito destas sobre os resultados eleitorais.

Pensemos estrategicamente:  Essa linha tênue entre informar ou persuadir é tema recorrente quando se discute se os veículos cumprem o papel de informar o eleitor acerca das eleições e/ou se são usados para direcionar/manipular resultados. Em alguns trabalhos buscam-se encontrar situações associadas ao fenômeno que possa corresponder a experimentos para lidar com a identificação dessa dualidade, além de lidar com o problema de causalidade já descrito de que a mídia afeta o eleitor e o eleitor afeta a mídia. 

É inegável a força do quarto poder no dia a dia de uma sociedade, notadamente quando o assunto se refere a algum tema de relevância nacional. Já passa da hora de exigir de nossos líderes o avanço em legislações específicas sobre o tema – que já tem ganhado espaço na maioria dos países democráticos. Os poucos países que não avançaram nesse pantanoso terreno buscam manter os privilégios dos grandes meios de comunicação calçados em decisões importantes para a sociedade. 

O problema é como ensinar aos novos brasileiros, que só conhecem os período da história por livros ou então por documentários, como ensinar para essas pessoas que toda essa liberdade defendida pela imprensa deve possuir limites, como explicar que ela não pode ser feita de forma indiscriminada. Isso não te soa como uma ameaça à nossa democracia? Pensar estrategicamente é, também, começar a analisar de maneira crítica os conteúdos que nos são oferecidos por todos os canais. 

Os últimos acontecimentos primordialmente têm nos impulsionado a mudar nossa percepção ao receber uma informação, não devemos considerá-la como verdade absoluta. Devemos sim, de outro modo, analisá-la, antes de qualquer coisa como uma mentira, mas uma mentira que possui potencial de se tornar uma verdade. Infelizmente, boa parte dos brasileiros ainda mantém uma displicente ignorância sobre a gravidade da manipulação midiática. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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