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09/03/2022 às 08h00min - Atualizada em 09/03/2022 às 08h00min

Guerra entre Rússia e Ucrânia reserva surpresas para a economia brasileira

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
Nas últimas semanas o mundo voltou seus olhares para o conflito entre Rússia e Ucrânia. O cenário macroeconômico já demonstra mudanças e não deve demorar para as variáveis externas impactarem os planos do governo e das empresas.

Não se deixe iludir, qualquer um que acreditar em alguma previsão certeira para os próximos meses será ingênuo.  Então é chegada a hora de colocar a simulação de cenários para funcionar! Se as previsões são incertas, sairá na frente quem mapear, entender e elaborar estratégias alternativas para cenários possíveis que se desenham no horizonte de curto e médio prazos. O Brasil deve sentir os efeitos do conflito por meio de pelo menos três setores: combustíveis, alimentos e câmbio. 

Segundo a pesquisa Sondagem da América Latina, divulgada no final de fevereiro pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), as turbulências na Ucrânia devem agravar as incertezas que pairam sobre a economia global. No Brasil as razões são a exposição aos fluxos financeiros globais com o dólar subindo e a bolsa caindo mais que na média do continente latino-americano.

Grande parte das incertezas deve-se ao Índice de Situação Atual, um dos componentes do indicador, que reflete o acirramento das tensões internacionais e o encarecimento do petróleo no início de 2022. O preço internacional do petróleo, cujo barril do tipo Brent encerrou a semana em US$ 105, no maior nível desde 2014. O mesmo ocorre com o gás natural, produto do qual a Rússia é a maior produtora global, cujo BTU, tipo de medida de energia, pode chegar a US$ 30, segundo disse nesta semana em entrevista coletiva o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa.

Em relação à gasolina, a recuperação da safra de cana-de-açúcar está reduzindo o preço do álcool anidro, ajudando a segurar a pressão do barril de petróleo no curto prazo. 

O governo federal pode apoiar medidas para segurar reajustes da Petrobras enquanto durar o conflito. Para fontes do governo é melhor conter os preços agora, de forma transitória, do que depois, talvez de forma permanente, pelo próprio governo é o que dizem interlocutores do governo.  

Vamos refletir: Na produção de alimentos, nas três últimas décadas, o Brasil passou de uma safra anual de 100 milhões para quase 300 milhões de toneladas de grãos. Consolidando-se como um dos maiores e mais importantes produtores e exportadores agrícolas globais, uma potência em segmentos como café, milho, soja, cana-de-açúcar e laranja, entre outras culturas.  

Para sustentar o crescimento das lavouras e garantir essa posição, foi necessário ampliar a importação dos fertilizantes. Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em 2020 o mercado brasileiro consumiu 40,6 milhões de toneladas.  Desses, 32,9 milhões (81%) vieram de fora. Uma boa parte disso, da Rússia. E, com o mercado russo fechado por causa das sanções provocadas pela guerra na Ucrânia, o Brasil tem um problema de razoáveis proporções para ser resolvido.

“Precisamos fomentar a produção aqui dentro”, diz Ricardo Tortorella, diretor executivo da Anda. Segundo ele, o Brasil vai precisar de 10 milhões de toneladas de cloreto de potássio para a próxima safra e a expectativa é de que 3 milhões venham da Rússia. “Se não vierem, vamos ter de comprar de outros países, como o Canadá. O problema é que o mundo inteiro se abastece na Rússia e muitos países vão procurar alternativas, não só o Brasil.”

No momento, a capacidade de produção de fertilizantes não acompanhou a demanda do agronegócio. Havendo inclusive um recuo - em 2017, o País produziu 8,2 milhões de toneladas, em 2020 esse número caiu para 6,5 milhões.
De acordo com dados da (Anda), o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes, atrás da China, da Índia e dos Estados Unidos, mas é o maior importador mundial desses insumos - basicamente nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). Isso se explica pela composição dos solos brasileiros, pobre em nutrientes, devido à sua característica tropical, principalmente na região do cerrado, onde se concentra a maior produção de grãos.

O governo prepara o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, cujo principal objetivo do programa é diminuir a dependência externa de adubos do País, atualmente em 85%, por meio da ampliação da produção local.

A Rússia é um dos maiores produtores de fertilizantes. É o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos. Os russos são os principais fornecedores de adubo ao Brasil, com cerca de 20% do volume utilizado anualmente. Disse ao Estadão o diretor de Programas da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, Luis Eduardo Rangel. 

Pensando estrategicamente:  As variáveis externas impactam nos negócios e como o governo e as empresa irão se comportar com essas mudanças é o foco dos analistas no momento.

No mercado financeiro, as bolsas internacionais avançam, recuperando parte das perdas do início da semana, quando o S&P 500 registrou sua maior queda desde outubro de 2020, pressionado pelas preocupações sobre as consequências da guerra. Além da busca por oportunidades, expectativas de que o Banco Central Europeu irá liberar novos estímulos que movem a melhora de humor de investidores estrangeiros. A expectativa também é positiva no mercado de futuros americano, ainda que em menor ritmo. Os principais índices de Nova York sobem menos de 0,20%. No Brasil, discussões sobre possível congelamento temporário de preços da Petrobrás tem provocado reações negativas no mercado. As ações ordinárias da estatal tombaram mais de 7%, em meio às dúvidas sobre a capacidade de repasse de preços da empresa.

O Índice de Expectativas, continuou crescendo, tanto no continente como no Brasil, mas a própria FGV adverte que o indicador que projeta o futuro também pode deteriorar-se caso o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongue. 


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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