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26/01/2022 às 08h00min - Atualizada em 26/01/2022 às 08h00min

Globalismo e Globalização: são as “duas faces de uma mesma moeda”?

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
O conceito de globalismo é demasiadamente amplo e reúne interpretações muito distintas, em ramos que relacionam a geopolítica, as relações internacionais, a sociologia, a filosofia e outras ciências. 

O globalismo não se reduz ao neoliberalismo e muito menos se expressa apenas nessa ideologia. Tanto compreende o neoliberalismo como o socialismo. Pode e tem sido inclusive o cenário de outras tendências ideológicas, tais como o social-democratismo e o nazismo. O termo é usado por inimigos da globalização. Embora principalmente associado a sistemas mundiais, outros fenômenos com alcance global também foram descritos como "globalistas", é frequentemente usado por movimentos de extrema-direita e teóricos da conspiração. 

Historicamente, tem sido associado a esforços internacionais após a Segunda Guerra Mundial, como as Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE), e às vezes com as políticas neoliberais e neoconservadoras de "construção da nação" e com o intervencionismo militar dos Estados Unidos entre 1992 e o começo da Guerra ao terror, que significou um esforço de mobilização em diferentes planos ideológico, político-diplomático, econômico, militar, de inteligência e contrainteligência. 

Paul James define o globalismo, "pelo menos em seu uso mais específico, ... como ideologia dominante e sua subjetividade associada a diferentes formações historicamente de extensão global. A definição implica, portanto, que existiam formas pré-modernas ou tradicionais de globalismo e globalização muito antes de a força motriz do capitalismo procurar colonizar todos os cantos do globo, por exemplo, remontar ao Império Romano no segundo século II, e talvez para os gregos do século V a.C..". 

Manfred Steger distingue entre diferentes globalismos o globalismo da justiça, o globalismo da jihad e o globalismo do mercado. O globalismo de mercado inclui a ideologia do neoliberalismo. Em algumas interpretações, a redução do conceito de globalismo à ideologia única do "globalismo de mercado" e do neoliberalismo levou à confusão. Por exemplo, em seu livro de 2005, o colapso do globalismo e a reinvenção do mundo, o filósofo canadense John Ralston Saul tratou o globalismo como coincidente com o neoliberalismo e a globalização neoliberal. Ele argumentou que, longe de ser uma força inevitável, a globalização já está se dividindo em partes contraditórias e que os cidadãos estão reafirmando seus interesses nacionais de maneira positiva e destrutiva. Alternativamente, o cientista político estadunidense Joseph Nye, cofundador da teoria das relações internacionais do neoliberalismo, generalizou o termo ao argumentar que o globalismo se refere a qualquer descrição e explicação de um mundo caracterizado por redes de conexões que abrangem distâncias multicontinentais; enquanto a globalização se refere ao aumento ou declínio no grau de globalismo. Esse uso do termo originou-se e continua a ser usado em debates acadêmicos sobre os desenvolvimentos econômicos, sociais e culturais que são descritos como globalização. O termo é usado de maneira específica e restrita para descrever uma posição no debate sobre o caráter histórico da globalização. 

Vamos refletir: O globalismo é um movimento pouco reconhecido, mas muito atuante no mundo ocidental. O Brasil, palco frequentemente demandado para laboratórios ideológicos, não está imune aos seus efeitos. A cada geração, o mais ingênuo observador é capaz de perceber mudanças culturais que conseguiram alterar profundamente a hierarquia de prioridades e de valores que regem o nosso comportamento social. De acordo com Alexandre Costa (2018), o Brasil é, no momento, o alvo principal das investidas globalistas, aquele que está sendo atacado com mais voracidade. As influências do globalismo na construção atual de colisões ideológicas foi descrito por Octavio Ianni (1999), como tendências de homogeneização, simultaneamente à criação e ao agravamento de problemas sociais; põe em causa o parâmetro estado-nação; implica fragmentação e provoca a ressurgência de localismos, provincianismos, nacionalismos, racismos e fundamentalismos. Por tudo isso podemos dizer que o globalismo é problemático e contraditório.

Pensando estrategicamente:.  Globalização econômica significa livre comércio e livre mercado. Trata-se de um arranjo que não necessita da intervenção de governos e burocratas, trata-se de um arranjo que surge naturalmente quando não há políticos e burocratas impondo obstáculos às transações humanas.

Já o globalismo pode ser entendido como uma nova forma de colonização, não apenas de países, mas de todo o mundo. Uma dominação total sem a predominância do poder militar, mas com controle econômico amparado pela submissão cultural. O objetivo do globalismo é determinar, dirigir e controlar todas as relações entre os cidadãos de vários continentes por meio de intervenções e decretos autoritários.

O argumento central do globalismo é o de lidar com os problemas cada vez mais complexos deste mundo, que vão desde crises econômicas até a proteção do ambiente que requer um processo centralizado de tomada de decisões em nível mundial. Consequentemente, leis sociais e regulamentações econômicas devem ser "harmonizadas" ao redor do mundo por um corpo burocrático supranacional, com a imposição de legislações sociais uniformes e políticas específicas para cada setor da economia de cada país.  

Os globalistas deram-se conta que, para obter êxito em suas conquistas, não precisavam controlar os meios de produção econômica, mas sim os meios de produção de ideias. Esse controle se dá, sobretudo, com o discurso politicamente correto, uma máquina de censura que castiga qualquer opinião dissonante. Controlando o discurso, controla-se o pensamento humano. Controlando o pensamento humano, controla-se o mundo.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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