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03/07/2021 às 08h00min - Atualizada em 03/07/2021 às 08h00min

O clima frio e as doenças cardiovasculares: existe relação?

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Os dias frios desta época do ano sempre despertaram preocupação em relação a um aumento na incidência de doenças respiratórias, como gripes, resfriados, rinites alérgicas e até pneumonia. Esta preocupação foi ainda mais exacerbada com a pandemia da COVID, aonde o pavor de adquirir uma doença respiratória grave só aumentou na população.

Mas poucas pessoas sabem que as baixas temperaturas representam também um risco para a ocorrência de eventos e de complicações cardiovasculares. Estudos mostram que, quando a temperatura alcança médias diárias abaixo de 14°C, os casos de morte por infarto do miocárdio (ataque cardíaco) aumentam em até 30%!

A cada 10 graus Celsius de diminuição na temperatura mínima, o risco de infarto agudo do miocárdio aumenta em quase 10%. O clima frio também está associado a uma maior ocorrência de outras doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC), angina (um tipo de dor no peito), isquemia no coração (falta de circulação nas artérias coronárias que irrigam o coração) e arritmias cardíacas, que têm a poluição atmosférica como outro dos agentes responsáveis.
O que provavelmente explica este aumento na incidência das doenças cardiovasculares nesta época do ano é que, com a queda da temperatura, algumas mudanças acontecem instantaneamente e reflexamente no nosso corpo. Em geral, há uma tendência à vasoconstrição de artérias do organismo. Isto se faz para que a pele e o subcutâneo (camada de gordura abaixo da pele) sejam menos irrigados para permitir uma menor perda de calor para o ambiente. É por causa desta vasoconstrição que nossas mãos ficam frias, pálidas e, algumas vezes até arroxeadas: é a diminuição da circulação sanguínea para a periferia. Além disso, esta vasoconstrição pode também ser reflexa para as artérias do coração, levando à diminuição da circulação sanguínea ao músculo cardíaco, ocasionando isquemia miocárdica, ou, até mesmo, um infarto agudo do miocárdio associado ou não à morte súbita.

Além disso, as reações reflexas do organismo às baixas temperaturas (hipotermia, com a temperatura corporal abaixo de 36º) levam a necessidade do organismo de aumentar o seu metabolismo, a fim de gerar maior produção de calor. Desta forma, é normal observarmos um aumento da frequência cardíaca e um aumento da capacidade de contratilidade cardíaca. Estes fatores associados também sobrecarregam o sistema cardiovascular, que, assim, trabalhará mais para manter o equilíbrio térmico. Essas reações incluem constrição (espasmos) dos vasos sanguíneos, respiração superficial pela boca, aumento da frequência cardíaca e consequente aumento do consumo de oxigênio pelo coração.

Além disso, no inverno, como já destacamos, observamos uma maior ocorrência de doenças respiratórias.  O surgimento destas doenças inflamatórias aumenta o risco de pessoas com problemas cardíacos apresentarem uma descompensação da sua condição. A presença de infecção e de inflamação sistêmica pode levar à instabilização de uma placa de gordura na artéria do coração ou cérebro, ou mesmo piorar uma falta de ar de uma pessoa com insuficiência cardíaca estável, hipertensão arterial ou outras comorbidades já existentes.

Dessa forma, idosos, pessoas com predisposição a problemas cardíacos e hipertensos devem redobrar a atenção à saúde nessa época do ano. Os riscos também são maiores para as pessoas que já apresentam alguma predisposição aos distúrbios cardíacos ou que já apresentam problemas do coração. Para os idosos, os perigos são ainda maiores. O frio pode agravar os sintomas da angina de peito, aumentar a pressão arterial e o risco de terem um acidente vascular, um evento cardíaco, neurológico ou das extremidades. Outros fatores também contribuem para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares nos períodos de frio, como obesidade, colesterol elevado, hipertensão arterial e diabetes. Especialmente pessoas com doença aterosclerótica, caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias, também devem ficar alertas. O frio excessivo pode levar à ruptura de uma placa aterosclerótica, causando trombose intravascular e a obstrução abrupta da artéria.

A orientação é que durante os meses de frio, além de se manter bem agasalhados sejam realizados exames de rotina para acompanhar os níveis de colesterol e de glicose no sangue e da pressão sanguínea. A prática regular de atividades físicas deve ser uma recomendação constante. Além disso, manter uma dieta saudável, evitar fumar e evitar ingerir quantidades excessivas de álcool, uma vez que essas combinações elevam o risco de pressão alta, infarto do miocárdio e derrame cerebral. Nossos hábitos alimentares mudam durante o inverno, o que pode motivar alterações no perfil metabólico. Os níveis de colesterol aumentam com o consumo de alimentos mais gordurosos e é frequente um ganho de peso neste período. Em excesso, esse consumo favorece a formação de placas de gordura que, com o tempo, podem obstruir e comprometer o fluxo sanguíneo nas artérias do coração e do cérebro.

Outras medidas também podem ajudar na tentativa de diminuição do risco de infarto no inverno, especialmente nos idosos. Isso porque, com uma infecção, nosso organismo fica em estado maior de inflamação, que, por sua vez, agrava a inflamação das placas de aterosclerose e que torna maior a chance de rupturas e infarto do miocárdio. As vacinações contra Influenza e contra a COVID têm contribuído na redução da mortalidade em por doenças cardiovasculares e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Isso porque as infecções virais costumar agravar os problemas relacionados a doenças crônicas cardiovasculares, pulmonares, metabólicas (particularmente diabetes), podendo provocar infarto agudo do miocárdio e AVC, além de causar manifestações neurológicas como convulsão e encefalite.

Cuide-se! Mantenha sua pressão arterial e seus níveis de glicose e colesterol bem controlados. Pratica atividade física. Tenha uma boa alimentação. Controle o estresse e a ansiedade. Pratique meditação e gratidão. Evite aumentar a carga de atividade física habitual durante o inverno e agasalhe-se bem para malhar por estes dias.

Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
               
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