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24/04/2021 às 08h55min - Atualizada em 24/04/2021 às 08h55min

Os mecanismos de ação das vacinas

JOÃO LUCAS O'OCONNELL
Ao longo das nossas vidas, nosso corpo é invadido por vários microorganismos (vírus, bactérias, fungos e outros parasitas) que entram no nosso corpo por diversas maneiras diferentes (pela via respiratória, pela boca e trato digestivo, por lesões de pele, pela uretra...). Assim, a maioria de nós já experimentou e venceu algumas invasões de patógenos ao longo da vida... A maioria dos leitores deve se recordar de alguma gripe, diarreia, infecção de garganta, de pele, de urina ou outras agressões por microorganismos que tiveram no passado...

Na maioria das vezes em que somos agredidos por vírus ou bactérias, estes microoganismos começam a se replicar e a invadir e destruir células e tecidos do corpo. Para o nosso bem, o organismo consegue entender que o microorganismo é um invasor, reconhecendo algumas partes do invasor como estranhas (antígenos). Assim, a partir deste reconhecimento, o nosso sistema de defesa começa a reagir, produzindo células de defesa capazes de lutar contra aquele microorganismo, agredindo-o e diminuindo a sua replicação e poder de invasão. Para alguns vírus e bactérias, foram desenvolvidas também substâncias químicas capazes de ajudar na inibição da replicação do vírus ou da bactéria, atrasando o processo de agressão até que o número de células de defesa e de anticorpos se multiplique no sangue, a fim de neutralizar de vez o agente agressor: são os antivirais e os antibióticos.

O problema é que muitos dos vírus e bactérias existentes acabam se multiplicando muito rápido e, consequentemente, agridem muito rapidamente os tecidos do corpo humano, causando inflamações importantes e perda de função de alguns dos órgãos que estão sendo agredidos antes que o organismo consiga entender que o microorganismo é um invasor (como acontece na COVID, por exemplo). Assim, o organismo até acaba reconhecendo a invasão do vírus ou bactéria... Porém, até o sistema imunológico conseguir gerar uma reposta de contra-ataque, o patógeno já se multiplicou e nos agrediu demais. Além deste atraso na resposta, alguns vírus e, principalmente, bactérias, conseguem também desenvolver maneiras de driblar o sistema de defesa do corpo, dificultando o seu reconhecimento e destruição pelo sistema imunológico. 

As vacinas são substâncias produzidas em laboratórios que visam estimular o nosso sistema imunológico a produzir defesa contra a agressão produzida por alguns patógenos específicos, em especial, vírus e bactérias. O principal objetivo das vacinas é, portanto, apresentar antígenos ao nosso sistema de defesa, ensinando-o a reconhecer componentes de vírus ou bactéria como nocivos e a neutralizá-los, evitando, ou pelo menos diminuindo, a agressão usualmente causada pelo patógeno. Elas ensinam o sistema de defesa a reconhecer que determinado microorganismo que circula pelo sangue não faz parte do nosso corpo e que ele deve ser neutralizado. Esta neutralização é feita através do reconhecimento e ataque direto ao vírus por algumas células do sangue ou pela produção de algumas substâncias (anticorpos) por outras células. Assim, as vacinas ajudam na construção de uma resistência competente contra infecções específicas. A vacinação é uma forma simples, segura e eficaz de tentar proteger as pessoas contra doenças nocivas, antes de entrarmos em contato com elas. Muitas vacinas são consideradas esterelizantes. Isto é, elas garantem uma proteção total contra o desenvolvimento daquela doença. Outras, não. Algumas das vacinas contra a COVID, por exemplo, protegem metade das pessoas de desenvolverem a gripe e protegem uma grande maioria de desenvolverem pneumonia viral. Entretanto, elas acabam não protegendo adequadamente cerca de 10 a 20% das pessoas que entrarão em contato com o vírus.

Nos últimos 50 anos, inúmeras vacinas foram desenvolvidas e vêm ajudando a salvar inúmeras vidas. Uma vez expostos a uma ou mais doses de uma determinada vacina, normalmente permanecemos protegidos contra aquela doença por anos, décadas ou mesmo por toda a vida. É isso que torna as vacinas tão eficazes. Em vez de tratar uma doença depois que ela ocorre, as vacinas nos previnem, em primeira instância, de ficarmos doentes...
  Quando uma pessoa é vacinada contra uma doença, também é menos provável que ela transmita o vírus a outras pessoas. Reduzir a possibilidade de um patógeno circular na comunidade protege também aqueles que não podem ser vacinados (devido a problemas de saúde, como alergias ou idade) da doença visada pela vacina. 
  A maioria das vacinas já desenvolvidas age apresentando um vírus já inativado ao nosso sistema imunológico. Um vírus inativo não tem a capacidade de se multiplicar e agredir o organismo. Outras vacinas inoculam um microorganismo atenuado (um vírus ou bactéria artificialmente enfraquecido, com baixa capacidade de invasão e de gerar a doença). Mas, mais recentemente, foram desenvolvidos vacinas com outros mecanismos de ação. Algumas delas nos apresentam apenas uma parte do vírus, para que o sistema de defesa aprenda a reconhecer aquela parte do vírus como um agente agressor. Esta porção apresentada é carregada por outros vírus, que também são incapazes de promoverem agressão. Estas são chamadas vacinas de vetor viral não replicante. Por fim, um outro mecanismo de ação das vacinas mais modernas se dá a partir da replicação de sequências de RNA por meio de engenharia genética. O RNA mensageiro introduzido no nosso organismo mimetiza a proteína spike, específica do SARS-COV-2, que o auxilia a invadir as células humanas. Essa “cópia”, no entanto, não é nociva como o vírus, mas é suficiente para gerar uma reação das células do sistema imunológico. Uma vez injetado no organismo, eles entram nas células e fazem com que elas passem a produzir essa proteína. Isso alerta o sistema imunológico, que aciona as células de defesa e, desta forma, aprende a combater o SARS-COV-2. Na nossa próxima coluna, discutiremos um pouco mais sobre as vacinas específicas contra a COVID e explicaremos os mecanismos de ação de cada uma das disponíveis no mercado. 
 
 
 
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