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17/04/2021 às 17h35min - Atualizada em 17/04/2021 às 17h35min

Abraços quentinhos

IARA BERNARDES
Por muitos anos eu jurei que não teria filhos, que não trabalharia com crianças e que aqueles olhos encantadores nunca iriam me hipnotizar. Confesso que tentei, lutei e quis me afastar, no entanto quando temos um chamado, ele não costuma se calar. Logo que a Maria nasceu, eu já comecei a planejar a segunda gestação e antes de o Benjamin nascer eu já estava novamente na faculdade estudando pedagogia, pois não queria mais saber de outra coisa que não fosse conhecer e me aprimorar no desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo desses pequenos seres humanos.

Desde então, foram muitas horas de estudo, palestras, leituras, cursos e lives com especialistas, além de MUITA pesquisa. Fora um caminho sem volta, me apaixonara loucamente por aquelas mini pessoas e por todas as possibilidades que estar em contato com eles me proporcionaria. Decidi então migrar da educação dos adolescentes para esse novo universo da educação infantil e como não podia deixar de ser, me joguei de cabeça, afinal, do que adianta dar uma guinada sem ser tipo um cavalo de pau?

Prestei outro concurso, passei bem colocada e na expectativa de já iniciar imediatamente minha nova colocação, dei de cara com o cancelamento das aulas presenciais e tudo virou do avesso. Mas a esperança, por ser a última que morre, seguiu firme comigo que começaria minha nova jornada recheada de abraços quentinhos.

Kkkkkkkkkkkkk, sonha não minha filha, você está numa pandemia! Rolou mesmo foi uma sala BEM vazia e nada daqueles sorrisos que sonhava receber. Mais medidas restritivas e nem na escola podia ir mais. Olhava ansiosa as aulas on-line, querendo absorver cada movimento das professoras da escola particular que eu trabalho, naqueles momentos eu ficava vidrada, captando a entonação, os desafios das aulas remotas e cada conquista daquelas profissionais encantadoras de crianças.

Agora é a minha vez. A Secretaria Municipal de Educação de Uberlândia lançou uma normativa que nos instrui a interagir com as crianças diariamente. Quando fiquei sabendo, fui à forra, já tinha fichas de nomes prontas, milhares de atividades e muita disposição. Tinha certeza que faria uma aula show logo na primeira semana, então convoquei reunião de pais, ajeitei a sala virtual, ajustei os detalhes com muita ansiedade para que nada saísse errado.

Mais uma vez eu me enganei: o som falhou, eu suei igual tampa de marmita, fiquei super nervosa e parece que tudo saiu da minha cabeça. Respirei e pensei nos meus filhos, em como seria uma aula bacana para eles e tudo começou a fluir. Não foi perfeito, mas foi o que eu consegui fazer naquele momento sem os abraços que eu tanto queria. O que havia planejada EXATAMENTE não rolou, porém, o que vi foram crianças ansiosas e alegres por poderem ver os colegas e interagir de alguma maneira, então meu coração se aquietou: eu havia conseguido.

Na vida é bem assim, fazemos planos, cortamos cartões, elaboramos planejamentos, criamos rotas, objetivos e estratégias, enfeitamos a nossa sala, passamos nosso melhor perfume para receber o novo e a expectativa nos leva a pensar alto, porém a realidade nem sempre corresponde. Isso significa que devemos reduzir todo o plano a baixas expectativas, com medo de se frustrar? JAMAIS! Temos que sempre aumentar, na certeza que o ideal nem sempre chega, mas não podemos nos curvar e bater em retirada buscando nossa zona de conforto, viver no raso não é uma opção quando se quer mudar o mundo.

Por isso, sugiro que não siga a manada com o discurso: “não crie expectativas para não se frustrar.” Faça o oposto, crie altas expectativas, se planeje com base nelas, faça com o que você tem de melhor, entendendo que o “feito é melhor eu o perfeito”, mas o bem feito é o ideal e o mal feito sempre precisa ser refeito. Ensine seus filhos a criar expectativas, incentive-os a pensar alto e a longo prazo, precisamos de pessoas mais comprometidas e resilientes nesse mundo, faça com que sejam os seus.
 


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