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09/02/2021 às 08h00min - Atualizada em 09/02/2021 às 08h00min

No tempo das máquinas pesadas

ANTÔNIO PEREIRA
Houve um tempo em que a cidade era tranquila, o trânsito maior era de carroças e charretes. Automóveis, quase que só os de praça, quando o usuário tinha urgência urgentíssima. As distâncias urbanas eram curtas. Nesse tempo, surgiram as primeiras motocicletas, entre elas, as de Dárdamo Comucci, Geraldo Alemão e Paulo Franco. Isso, lá pela década de 31 do século passado.

Nessa época, as possantes rodavam macio e quase não faziam barulho. Eram instrumentos de passeio e demonstrações previamente organizadas e autorizadas por quem de direito.

Depois desses pioneiros, veio uma geração mais larga com Alexandrino Garcia, João Batista de Souza, Ataliba Moreira, Sebastião Galvão, Ipe, Leopoldo Garcia, Gercino Mendes e outros.

Nos anos 40, a mania de moto tomou conta da cidade. Os motoqueiros andavam juntos, numa diversão sadia, quase sempre levando as esposas na garupa. Dona Maria e dona Zulmira, duas irmãs casadas com Garcia de famílias diferentes (Alexandrino e Leopoldo), gostavam da garupa dos maridos. É possível que dona Zulmira tenha sido a primeira mulher da cidade a usar calças compridas. Para montar na moto.                           

Certa ocasião ela passou por um susto tremendo.

Naquele tempo, nos fins de semana, os motoqueiros, quase sempre em grupo, mas sozinhos também, visitavam as cidades próximas. Quando chegavam com aquelas roupas estranhas, logo eram rodeados por curiosos. Eles andavam com blusão de couro fechado, gorro de couro como se fosse uma meia bola de futebol americano terminando em duas correias largas que cobriam as orelhas e eram afiveladas debaixo do queixo, luvas de couro e um par de óculos tapando um terço do rosto. Pareciam ETs.

Não havia rodovias asfaltadas. Nas estradas de terra, quase sempre sem cercas, o gado se deitava pachorrentamente. E não saía. Os carros buzinavam e aguardavam minutos, as motos desviavam e iam passando.

Numa dessas viagens, Leopoldo (que era mecânico e músico) e dona Zulmira estavam passando por entre uma boiada esparramada pelo leito da estrada quando uma delas ergueu-se furiosa com o incômodo casal que lhe tirava o sossego e partiu pra cima. Leopoldo tentou acelerar, mas como? A estrada estava cheia de buracos, com muita poeira e um boi aqui, outra vaca ali. Dona Zulmira não tinha coragem nem de olhar pra trás, mas dizia que sentia o bafo quente do bicho. E estavam naquele pega não pega, a moto pulando, dançando, desviando, quando apareceu um mata burro. A moto passou, o bicho parou. O casal suspirou, fez pequena folga pra ganhar tranquilidade e, logo, seguiu em frente.

Nessa turma dos 1940 há que serem acrescidos: Voninho (jogador do UEC), Buzineiro, Fioravente Pelizer, Pedrinho, Stecca, Joãozinho do Aluguel, João Batista, Aristeu Kremper e outros.

As máquinas possantes eram das marcas BMW, Halley Davidson, Matchless, Indian, Sambin. Eram motos pretas, grandes, com pneus balão e trabalhavam quase em silêncio.

Não incomodavam ninguém.
 
 Fontes: d. Zulmira e revista Uberlândia Moto Clube


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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