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18/11/2020 às 08h30min - Atualizada em 18/11/2020 às 08h30min

Agricultura 5.0 rumo a uma viagem para o futuro

ANTÔNIO CARLOS

O Brasil do Século XX assistiu uma intensa movimentação interna da sua população nas migrações rurais a partir da década de 1950. Estudos indicam três grandes movimentos migratórios relacionados ao ambiente rural do país, que ocorreram em meio século de migrações (1950 a 1990). Nesse período, um em cada três brasileiros deixou seu local de moradia original e migrou para outras regiões do país.

O nordestino do meio rural encontra as grandes cidades - esse movimento que envolveu muitas pessoas e ocorreu principalmente entre 1960 e 1980, quando aproximadamente 30 milhões de brasileiros deixaram o seu lugar de origem nas regiões rurais em busca de novas oportunidades, notadamente na cidade de São Paulo e regiões próximas.

"Integrar para não Entregar" - a ocupação e o desenvolvimento da região amazônica na década de 1970 marcou o início de um intenso movimento rumo à Amazônia, motivados pelas oportunidades desta fronteira agrícola e pelas expectativas de mineração de metais preciosos.

Os sulistas descobrem o Cerrado Brasileiro - em busca de áreas de terra a menor custo, agricultores do Sul do Brasil empreenderam uma grande marcha na década de 1980.  Essa caminhada, inicialmente, atingiu o Oeste do Paraná e posteriormente Dourados (Mato Grosso do Sul), partes do Triângulo Mineiro, Sul de Goiás, Sorriso e Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Na década de 1990, avançou para o Norte, atingindo o Pará, e para o Leste, tendo como principal foco Luís Eduardo Magalhães (BA).

Mais recentemente estamos assistindo a um movimento migratório que evidencia uma natureza distinta e inédita na história rural brasileira. Neste caso, não foi simplesmente um movimento de pessoas, mas sim de capital. Homens e mulheres agricultores migraram com seus recursos financeiros, suas motivações foram, primordialmente, econômicas e financeiras. Os produtores buscam manter ou ampliar as suas taxas de lucratividade e, para isso, movimentam-se no interior do país em busca de novas terras cujo custo de aquisição seja mais baixo e onde possam ampliar os seus negócios.

Análises sobre possíveis mudanças, considerando aspectos relacionados à produção de grãos, à criação de rebanho bovino, aos abates de animais e aos preços de terras demonstram uma tendência contínua do deslocamento geográfico da produção do Sul e do Sudeste e sua consolidação na região central do país e no nordeste.

A região de MATOPIBA, que compreende terras da confluência dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde há tendência de ampliação de área plantada no Brasil, favorecidas pela mecanização e intensificação da produção, com projeções que indicam uma produção que deverá atingir 26 milhões de toneladas até 2026/2027.

A SEALBA é outra grande promessa e compreende áreas de Sergipe, Alagoas e Bahia. São 5 milhões de hectares nos biomas Mata Atlântica e Caatinga. Produzir nesta região pode ser vantajoso devido à existência de infraestrutura de terminais portuários marítimos nos três Estados.  

Para compreender o Brasil do presente, vamos voltar 50 anos no tempo, a agricultura brasileira era rudimentar em meados do século passado. A soja era uma curiosidade no Brasil, sem expressão para o mercado doméstico, menos ainda para o comércio internacional do país. Prevalecia o trabalho braçal na produção agropecuária. Naquela época, menos de 2% das propriedades rurais contavam com máquinas agrícolas. Homens e mulheres do campo sofriam com escassez de tecnologia e de informação. Ignorava-se quais as combinações de atividades mais lucrativas nas fazendas e poucas pesquisas eram feitas sobre as doenças tropicais dos rebanhos e lavouras.

Vamos refletir: nos últimos 40 anos, o Brasil saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo. A agricultura se modernizou, mas ainda existem desafios.

Um olhar para o futuro... para muitos destes problemas e desafios já existem soluções. Para outros, serão necessários novos investimentos em pesquisa e políticas públicas terão papel importante em muitos desses casos.

Pensando estrategicamente: a expectativa é que a população mundial atinja 8,5 bilhões de pessoas em 2030, 16% a mais que em 2016. O Brasil deve atingir a marca de 230 milhões de pessoas nos próximos 12 anos. Com quase 5 bilhões de pessoas, a Ásia terá aproximadamente 58% da população mundial. Estima-se que em 2023 a Índia ultrapasse a China como país mais populoso do mundo.

Até 2030, mais de 90% da população dos países em desenvolvimento, sobretudo na África Subsaariana e na Ásia, terá se urbanizado o que trará implicações importantes em termos de consumo de alimentos, água e energia.

O aumento da renda implica mudanças nos padrões de consumo, o que resulta na expansão da demanda por carne, frutas e vegetais, na redução do consumo de alimentos básicos, na diversificação da cesta de consumo, bem como no aumento da demanda por produtos mais elaborados.

Nas proteínas animais, a aquicultura é considerada emergente, em razão da crescente demanda de consumo nacional e internacional relacionada aos aspectos sociais, econômicos, de saúde e religiosos. O setor deve registrar um crescimento de mais 104% até 2025.

Existem fortes razões para que a ampliação da produção agrícola brasileira ocorra pelo aumento de produtividade e eficiência e não pela ampliação da terra utilizada para as atividades rurais. Cresce a consciência e a cobrança por sistemas de produção sustentáveis, que são aqueles que consideram, com mesmo nível de atenção, aspectos econômicos, sociais e ambientais.

É a Agricultura 5.0 rumo a uma viagem para o futuro!

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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