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24/10/2020 às 08h00min - Atualizada em 24/10/2020 às 08h00min

A difícil identificação da depressão infantil

TÚLIO MENDHES

A palavra depressão é usada com grande liberdade. Basta um pequeno problema, uma desfeita, um desencontro emocional, um prejuízo financeiro, para nos declararmos deprimidos. Embora seja empregada como sinônimo de tristeza tem pouco a ver com esse sentimento. Muitas pessoas podem acreditar que não, afinal, vemos muitos casos de jovens, adultos e idosos com depressão, mas quase nenhuma discussão adequada sobre os sintomas e realidade das crianças depressivas ou propensas ao diagnóstico. Embora não seja muito frequente, elas também podem sofrer com o transtorno. 

 

Pensamentos negativos como “eu sou inferior”, “ninguém gosta de mim” ou “se eu morrer ninguém vai sentir minha falta” não são restritos aos adultos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, até 2020 a depressão se tornará a doença mais incapacitante no mundo. Para mudar esse quadro, uma das medidas é tirar a depressão infantil da invisibilidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já revelou que o transtorno depressivo é a principal causa de incapacidade de realização das tarefas do dia a dia entre crianças e jovens de 10 a 19 anos. As crianças têm grande dificuldade para expressar que estão deprimidas. Primeiro, porque não sabem nomear as próprias emoções. Dependem do adulto para dar o significado daquilo que se chama tristeza, ansiedade, angústia. Por isso, tende a somatizar o sofrimento e queixa-se de problemas físicos, porque é mais fácil explicar males concretos, orgânicos, do que um de caráter emocional.

 

O desenvolvimento da depressão em uma criança geralmente envolve dois pontos: pré-disposição genética e problemas no entorno social e familiar como brigas entre os pais, dificuldades escolares, bullying, a perda de um parente próximo ou até mesmo de animalzinho de estimação etc. Temos ainda como estimulante pra esse triste diagnóstico o estilo de vida que impostas a elas. Nossos pequenos estão com a agenda mais lotada de compromissos do que as nossas. Isso tem provocado distúrbios do sono fazendo com que durmam cada vez mais tarde, além do uso excessivo de aparelhos eletrônicos, a permanência em ambientes fechados como shoppings e até mesmo a indisciplinada e isolada frequência dentro de seus próprios quartos sob-risco iminente de restrição do contato social.

 

Os sintomas na depressão infantil mudam conforme a evolução da idade. As crianças de zero a dois anos podem apresentar recusa de alimentos, desenvolvimento tardio, alterações no desenvolvimento psicomotor e na linguagem, problemas de sono e enfermidades somáticas. Já crianças em idade pré-escolar podem manifestar comportamento regressivo, principalmente no aspecto psicomotor, linguagem e distúrbios intestinais. Em suma, os sintomas são: humor deprimido na maior parte do dia, falta de interesse nas atividades diárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteração na atividade motora, sentimento de inutilidade, dificuldade para se concentrar. Juntando isso ao fato de que a manifestação dos sintomas nunca é muito clara, o diagnóstico pode ser confundido com outros transtornos, como o déficit de atenção e hiperatividade. 

 

Quando os pais começam a ligar muito para o pediatra, ou irem várias vezes ao pronto-socorro, é um sinal de alerta para a depressão. Contudo é importante ressaltar que os sintomas nem sempre são aparentes, pois crianças tendem a ter mais dificuldade de falar sobre o que sentem o que torna mais difícil o diagnóstico precoce. A partir dos 12 anos as crianças conseguem descrever melhor seus sentimentos, e é fundamental não ignorá-los. 

 

O Hospital das Clínicas de São Paulo aponta que cerca de 2% das crianças em idade pré-escolar e escolar sofrem de depressão. Esse número sobe para 11,7% quando elas passam para a puberdade. Para isso, pais, professores e pessoas próximas devem sempre observar e acompanhar as crianças. Diagnosticada a evolução da doença, deve-se avaliar o quanto ela está interferindo no desenvolvimento e socialização da criança. Nos casos de grau leve, o tratamento é focado em terapias e atividade física, nos casos de depressão moderada ou grave, o tratamento pode incluir o uso de medicamentos. Lembrando que, identificados os possíveis sintomas de depressão na infância, os responsáveis devem procurar um psiquiatra infantil, que poderá definir o diagnóstico com precisão após descartar outras condições clínicas capazes de provocar sinais semelhantes. É inegável a importância de se discutir sobre esse polêmico tema, então eu te espero no próximo sábado! Até lá.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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