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15/08/2020 às 08h51min - Atualizada em 15/08/2020 às 08h51min

A felicidade plena dos filhos

IARA BERNARDES
Essa semana, em conversa com duas pessoas diferentes, o mesmo questionamento surgiu: Por que tantos pais se preocupam em deixar seus filhos sempre felizes? Em contextos completamente diversos, vários pontos foram levantados: a dificuldade em auxiliar os filhos nas tarefas escolares e todos os desafios emocionais que isso implica, afinal, quem acompanha realmente a formação dos filhos, sabe que essa tarefa não é fácil; lidar com as birras quando os pequenos são frustrados; e dar autonomia sabendo impor limites; foram alguns deles.

Para começar, devemos ter em mente que o papel dos pais não é proporcionar a felicidade incondicional dos filhos e sim educá-los para que possam ser pessoas autorreguláveis, cidadãos de bem, que saibam respeitar o próximo e, principalmente, entender que o mundo não gira em torno de seus umbigos, a partir daí vem a felicidade. Não estou dizendo que devemos ser carrascos e não cultivar momentos de alegria para nossas crias, pelo contrário, podemos e isso é muito necessário, mas também é importante ensiná-los que a vida não é feita apenas de sorrisos e situações prazerosas e mesmo quando precisamos fazer o que não gostamos, devemos ter responsabilidade e compromisso para executar.

Isso se reflete muito nas tarefas de casa e, agora, durante a pandemia, nas aulas online. Quem não surtou em algum momento com isso, não sabe o que é uma birra para não assistir ao vídeo com conteúdo da aula, ou a apatia em terminar as atividades escolares. Minhas filhas morrem de preguiça quando chego com as folhas de tarefas que a escola disponibiliza. Para quem não sabe, meus filhos estudam em uma unidade escolar da Prefeitura e todas as semanas vou à escola buscar os deveres de casa. Quando chego com as folhas, sem nem falar nada, já começam as lamúrias: “ah, não quero fazer!”, “é muita tarefa, mãe!”, “não aguento mais esses planinhos”, e por aí vai. No entanto, em meio a todo esse desgaste das reclamações, nunca demos a possibilidade de elas não fazerem: faz, ou faz, não tem meio termo. O que podemos negociar é a quantidade de folhas que serão realizadas por dia, mas não fazer não é uma opção. Cansada de tantas reclamações, resolvi propor uma atividade para a mais velha, que é quem mais tem preguiça. Conversei com ela e com minha mão sob sua cabeça, fui reclamando e soltando o peso do meu braço, exemplificando que quanto mais nos lamuriamos, mais difícil fica. Hoje eu pergunto: vai fazer com peso ou sem peso? A resposta nem chega, já pega as folhas e começa. Ela entendeu que reclamar não adianta, afinal, vai ter que cumprir com sua responsabilidade de qualquer maneira e a decisão de como ela irá fazer, só cabe a ela.

Outro ponto relevante nas conversas com amigas, uma inclusive dona de escola e pedagoga, foi sobre como os pais querem que seus filhos sejam responsáveis, carinhosos, ativos, sendo que eles mesmos não o são. Por exemplo, a mãe quer que o filho acorde cedo para ir à escola, com disposição, contudo no dia anterior não programou sua agenda pessoal para proporcionar isso à sua criança, foi jantar fora com a família, chegou tarde da noite, acordou atrasada e despeja toda sua frustração no filho que não descansou o suficiente para cumprir com a obrigação educacional do dia seguinte. Ou seja, a mãe tem o desejo que seu filho seja e aja diferente de si, não compreendendo que os pais são sempre o primeiro exemplo para os pequenos. Eles aprendem muito mais observando nosso comportamento que com nosso discurso e percebem rapidamente quando nos contradizemos, sendo assim, é impossível terem um comportamento oposto àquilo que vivenciam. Atente-se, a criança não faz isso por birra ou para implicar com os pais, como alguns destes colocam, ela simplesmente não consegue entender o paradoxo da situação. O cérebro da criança não tem maturidade para compreender a diferença entre atitude e discurso e como aprende por repetição e observação, o caminho mais óbvio é a imitação, logo, ela replica o seu comportamento. Por isso, comece a observar como sua criança age e se perceberá nele.

Por isso, também, pela falta de maturidade cerebral, seu filho dá as tais temíveis birras. Quando a criança não ganha o que quer, não consegue suportar o sentimento de frustração e a maneira como ela lida com isso é chorando, gritando, esperneando e, consequentemente, te matando de vergonha em frente à loja de brinquedos. Porém, o que percebemos no dia a dia é que, por muitos pais apresentarem o mesmo comportamento infantil da criança, isto é, não conseguirem lidar com as próprias frustrações, não permitem que os pequenos sejam submetidos a esse sentimento, concedendo-lhe absolutamente tudo que é pedido. Afinal, é mais fácil dar o carrinho de controle remoto que suportar o peso dos olhares de reprovação pelos berros do seu filho.

Todas essas atitudes do adulto diante da criança, como conceder às vontades, permitir que não cumpra com responsabilidade os afazeres, ceder às birras e não ser exemplo da atitude esperada por nós, faz com que seja reforçado na criança que ela sempre tem razão, provocando exatamente o oposto da felicidade, que não é a tristeza, mas a insegurança. Somos os encarregados em assegurar que os infantis se sintam protegidos, inclusive dos seus desejos egocêntricos, para formar adultos autoconfiantes e equilibrados. Por isso, comece a observar como tem lidado com a condução da educação dos seus rebentos e mais que isso, perceba na atitude deles, as suas próprias e retome o controle do que acredita ser realmente importante na criação deles, sendo exemplo antes de ser enunciado.




Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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