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27/05/2020 às 10h44min - Atualizada em 27/05/2020 às 10h44min

Os paradoxos da economia pós coronavirus.

ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA
Os últimos anos foram marcados por uma série de mudanças na economia brasileira. Várias mudanças foram implementadas pela equipe do presidente Temer e várias delas dependiam da agenda de reformas colocada pelo governo. A maior delas seria a reforma da previdência, que por muitos momentos sacudiu o mercado e acabou sendo consolidada no congresso no ano passado já no governo do presidente Bolsonaro. Várias outras medidas implantadas tiveram papel fundamental para que o ano de 2019 se encerrasse com um resultado muito melhor do que o esperado no começo.

Entretanto, tudo transcorria muito bem, até surgir a pandemia. Na prática, ela atingiu em cheio todas as decisões estratégicas e táticas das corporações e de governos. E não há qualquer parâmetro usual de previsibilidade. “Agora trabalhamos cenários de curto prazo, que são mais analisáveis”, afirma Reichardt. O futuro está suspenso.

O que virá depois, ainda está no terreno movediço da incerteza. O desemprego gerado deverá criar dificuldade para a recuperação da economia.

É consenso entre todos, que a retomada exigirá políticas públicas de ajuda que precisam ser assertivas e cirúrgicas, sem empurrar o País para um ambiente de areia movediça no âmbito fiscal. “O Brasil é resiliente”, diz a esse respeito Glauco Humai, da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). “Um País que mesmo nas adversidades consegue seguir em frente.”

A economia, de maneira geral, estará ruim e a retomada será gradual, porém com muitas oportunidades. Quem conseguir enxergar nichos, se transformar, pegará carona nessas oportunidades. Alguns dizem que vivemos uma guerra e, geralmente, o pós-guerra vem acompanhados de crescimento.

A economia vai ter de repensar seu modelo de distribuição de renda, do tamanho dos lucros das empresas e da relação da sociedade com o consumo. Um novo formato econômico, que não é o socialismo, mas me parece que vai ser uma transição forte do capitalismo atual. Ficou claro que o coronavírus mostrou-se agente de um limiar. Um objeto transformador.

A crise causada pela Covid-19 prevê novas regras nas relações comerciais, nos hábitos de consumo e no peso do Estado frente ao mercado. Servir sempre para servir bem. Esse é o novo mantra. Se há algo que este vírus ensinou ao varejo e a empresas de todos os tipos de produtos e serviços é que o atendimento terá de ser full para ser bom.

Confiança: “O consumidor vai ficar mais próximo das marcas que se mostraram solidárias durante a crise.” E isso se estenderá no relacionamento pós-pandemia.

Stay home: ficar em casa será o novo padrão. “Haverá priorização para o ambiente doméstico, os espaços para o home office.
Customização: dentro das tendências, o varejo deverá viver de forma mais contundente.  “A customização e a experiência do cliente vão mudar.”

Delivery de serviços: não apenas o delivery ou e-commerce de produtos irão se sedimentar. “Irão aumentar potencialmente as demandas por serviços a distância.”

Relacionamento: o novo patamar na relação consumidor-marca. Uma fronteira ainda nem de perto resvalada. “A sociedade observará mudanças na intensidade das formas de consumir e de se relacionar com as empresas”.

Solidariedade: cuidar do outro será o novo ativo para as marcas trabalharem. O autocuidado vai crescer e impulsionar o cuidado mútuo. “A onda da solidariedade vai se enraizar culturalmente”.

Vamos refletir: ...Os choques econômicos deixam herança, recordações e feridas difíceis de serem esquecidas. É impossível pensar que essas experiências sociais, perdas humanas e cancelamento da vida não trarão consequências após o final da pandemia. Quanto mais longa for a crise, maiores serão os danos econômicos e sociais. Paradoxal, ou não, é que esse vírus explora as características da vida que nós mesmos buscamos. Superpopulação, turismo maciço, cidades imensas, viagens aéreas constantes, redes de fornecimento a milhares de quilômetros e uma extrema desigualdade na divisão da riqueza e nos sistemas de saúde públicos.

Pensando estrategicamente...“A epidemia traz uma mentalidade de tempos de guerra, mas uma mentalidade que une todo o planeta do mesmo lado. Os anos de guerra são períodos de uma grande coesão interior dos países e da preocupação pelos outros”, diz Robert J. Shiller, prêmio Nobel de Economia em 2013. E acrescenta. “Um efeito a longo prazo dessa experiência pode ser instituições econômicas e políticas mais redistributivas: dos ricos aos pobres, e com maior preocupação pelos marginalizados sociais e idosos”.

“Provavelmente a maioria das economias demorará de dois a três anos para voltar aos níveis de produção que tinham antes da epidemia”, diz a consultoria IHS Markit.

Por enquanto, a pandemia vive no presente. Acertar o futuro da economia soa complexo, porque ninguém sabe qual será seu custo humano e econômico final. Ainda que sempre existam otimistas.
 


O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


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