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20/05/2020 às 09h32min - Atualizada em 20/05/2020 às 09h32min

Reaprendendo a viver em época de coronavírus

ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA
A natureza tem nos mostrando que, do jeito que estamos vivendo não podemos continuar, os valores morais e éticos estão relegados a um segundo plano. Há alguns meses, toda a civilização vive angustiada com o vírus que, de tão contagioso, submete as pessoas ao isolamento para não se infectarem ou propagarem os riscos, atingindo em maior grau os idosos e pessoas com a imunidade comprometida por uma doença ou tratamento.

O que nos aguarda o amanhã? Nunca pudemos afirmar com muita certeza sobre o que nos espera, mas em meio às mudanças trazidas com a pandemia da COVID-19, essa pergunta ganhou outra dimensão e relevância. Muitos de nós vivíamos mergulhados em rotinas de compromissos com uma agenda cheia de planos, numa lógica baseada no rendimento e na produtividade, o indivíduo e sua felicidade eram deixados de lado.

Segundo o psicoterapeuta brasileiro Joel Birman, o conceito atual de felicidade humana está ligado ao "culto do indivíduo". Tal percepção dá autonomia ao indivíduo, relacionando felicidade à qualidade de vida e autoestima. Por isso, a depressão é o maior sofrimento na modernidade.

O filósofo grego Aristóteles, por exemplo, acreditava que a felicidade era uma atividade da alma, com princípio racional, ligada às ideias de virtude e satisfação. O depressivo resiste subjetivamente à cultura do imperativo de gozo, à alienação da felicidade consumista e à temporalidade acelerada. Mas, por que há um imperativo de que sempre devemos viver em alta se é justamente de oscilações que é feita a vida?

Ao longo de nossas vidas, passamos por diferentes fases e, muitas vezes, quando insistimos em uma fórmula que não serve mais à nossa evolução, somos surpreendidos por algum fato que nos diz basta, então, somos obrigados a mudar de direção.
A COVID-19 chegou dizendo não para todas as nossas certezas de estabilidade, colocou à prova o discurso tecnológico, ágil e humanizado de muitas empresas e nos relembrou que só é possível vencer um desafio quando ele é encarado de frente e dentro das nossas possibilidades.

É salutar enxergar que nem todos tem o mesmo conhecimento e sabedoria que gostaríamos que tivessem. A humildade também compõe o pacote - admitir e reconhecer os próprios erros, pedir desculpas por eles e aprender como consertá-los, é essencial à vida. Aí vem o altruísmo, a solidariedade, atos de amar e ajudar ao próximo sem esperar nada em troca. Não posso esquecer também do agradecimento, da gratidão por tudo aquilo que somos, temos e vivemos. Mesmo que algum momento tenha sido ruim, pois é na dor e no sofrimento que aprendemos mais.

Às vezes, nem imaginamos o quanto é simples adotar estas atitudes: basta querer! É simples, mas não é fácil. Estamos à toda hora sendo cercados por situações que nos tiram do sério e colocam abaixo tudo o que tentamos adotar. Enfim, há inúmeras questões que surgem cotidianamente para nos testar e nos colocar à prova. Como superar essas provações é que vai dizer se estamos no caminho certo.

Precisamos aprender que a nossa vida é um eterno aprendizado, que sempre há algo ou alguém que nos ensina alguma coisa, por mais maduros e experientes que pensamos ser.

Vamos refletir: o discurso capitalista com sua exigência de produtividade lança o sujeito numa temporalidade urgente contada pela medida do dinheiro, ou seja, não basta só produzir, consumir e gozar, é necessário fazer isso o mais rápido possível para “aproveitar bem a vida”. Mas, a questão é: por que o sujeito contemporâneo tem tanta pressa? Será que é de morrer? Porque parece que é o que resta ao depressivo. Já que a pressa contemporânea não lhe permite criar um sentido de vida pautado pelo desejo.

Não adianta ficarmos ansiosos pela retomada do mercado se antes não fizermos uma reflexão sobre o que essa situação veio nos ensinar e as transformações que, mesmo após o final da crise, irão permanecer.

Pensando estrategicamente... entre outros sentimentos, é necessário e imprescindível adotar a fé, a crença em um ente supremo, pois é isso que faz com que, imbuídos das demais atitudes, consigamos obter paz e harmonia na vida, no trabalho, em casa, no casamento e nas nossas relações pessoais e familiares.

O que importa é desfrutar das amizades sem interesse, curtir os momentos bonitos com a alma aberta e tirar o máximo de aprendizado daquilo que nos fez mal. Aprender a perdoar mais é o combustível mais eficiente dessa alavancada de mudanças, que começa por isso!

Ser feliz é a tônica da vida, não importa o quanto temos e onde pretendemos chegar. O que importa é o que somos e não que nós queremos nos tornar.  É preciso reaprendermos a viver em época de coronavírus.
 


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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