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20/03/2020 às 08h00min - Atualizada em 20/03/2020 às 08h00min

Final de partida

WILLIAN H STUTZ
Nada de original no dizer, mas tenho que. Cada dia de nossas vidas um aprendizado, um susto, uma decepção, cada vez um pouco mais atento.

Um domingo. Fui assistir clássico das letras, UEC versus URT.

Tempos sem estádio visitar. Estranhamento ao ver o belo gigante do Sabiá quase às traças, a conservação exterior e de acesso um horror, bateu um calafrio. Deu uma saudade dos tempos da Dona Maria do Estádio. Cuidava do Sabiá como se fosse a casa dela. Zelosa, não deixava nada passar. Um sujinho aqui, já gritava por limpeza. Nem pombo fazia ninho na fiação exposta. Hoje, me lembrou a decadência do velho Juca Ribeiro.

O gramado não. Está impecável. Levando-se em conta os times que agora o Uberlândia Esporte enfrenta, com exceção os da capital, podemos considerá-lo o décimo segundo jogador do Verdão, pois não é fácil para a várzea, sem desmerecer ninguém, suportar a correria naquele tapete.

Falta time? Claro que sim. O pessoal está dando sangue, correndo feito louco, mas cadê investimento? Por onde andam patrocinadores de peso? Tiro o chapéu para o Café Cajubá. Este nunca abandonou o futebol local. A tão pujante Uberlândia é pobre em visão e, para variar, dão mais força para os de fora. Soube que uma grande empresa de nossa cidade patrocina um time de São Paulo. Tem base? Até em carnaval de outro estado a prefeitura já participou.

Pronto. Domingo fui assistir ao jogo. Já estava feliz com a vitória de meu Galo sobre o Cruzeiro no dia anterior e queria fechar a semana com festa dupla. Interessante como quase todos se conhecem pelo nome na pequena, mas fiel torcida. Parece encontro de amigos em churrasco.

Tinha tudo para ser um domingo normal. Enquanto aguardava em frente à bilheteria o companheiro de futebol domingueiro, sogro de minha filha e grande companhia, ao qual tive a liberdade de me convidar para acompanhá-lo, sabedor de que ele não costuma perder nem um jogo do Periquito, um pequeno corre-corre se formou à minha esquerda. Logo a ambulância dos Bombeiros chegou em sirene. Um torcedor foi ao chão de asfalto quente devido a um mal súbito e foi levado para uma UAI (Unidade de Atendimento Integrado). A notícia veio antes do início do jogo. O torcedor não resistiu e faleceu em pleno domingo de muito sol e céu azul. Fiquei muito tempo a olhar o gramado sem nada ver. Quem seria este homem? Como acordou naquela manhã? Despediu-se da mulher e filhos, vestiu a camisa de seu time e feliz foi ao jogo vibrar. Quem sabe depois comemorar uma vitória com os amigos ou tristemente encarar uma derrota? Custei a sintonizar no jogo e ter a grata satisfação de ver nosso Uberlândia Esporte vencer com placar de 2 x 1, com gol aos 47 minutos do segundo tempo.

Caro torcedor, que partiu tão precocemente, tinha 57 anos. Não o conhecia, mas acho que esta vitória deveria ser dedicada a você. Minhas condolências à família.  Sim, houve um minuto de silêncio para uma pessoa que, apesar de não a ter conhecido, merece todo nosso respeito. Infelizmente, como em tantas partidas, poucos vão lembrar seu nome. Justa homenagem. Mas morrer tão cedo?

Será que ele sabia seu destino ao sair de casa, depois de tomar seu café, despedir-se da família e beijar as crianças? Sentiu em algum momento que não retornaria?

Efêmera vida.

Cada dia de nossas vidas um aprendizado, um susto, uma decepção. Cada vez um pouco mais atento e aberto a cada segundo, pois o próximo pode nem chegar.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.








 
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