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23/02/2020 às 08h00min - Atualizada em 23/02/2020 às 08h00min

Não tem volta

ALEXANDRE HENRY

Há três meses, o chuveiro elétrico do banheiro da minha casa pifou. Coisa simples: bastava trocar a resistência, algo que eu mesmo consigo fazer, e tudo voltaria a funcionar. Acostumado a comprar pela internet, eu decidi consultar o valor da peça no mercado online e achei por R$ 28,00. O problema era o frete: mais R$ 11,00. Quando você pega algo assim, cujo frete custa quase 40% do preço da mercadoria, o melhor a fazer é ir a uma loja física mesmo e comprar por lá, mesmo que o conforto de receber sua encomenda em casa pague um pouco do preço. Foi o que eu fiz. Aproveitando que tinha que sair de casa, fui a uma grande loja de materiais de construção e pedi a mesma resistência, mas acabei desistindo da compra. Valor? Uma bagatela de R$ 44,00. Em resumo, comprando do conforto da minha casa, eu pagaria menos, economizaria combustível, não me estressaria no trânsito, nada disso. Claro, eu já estava na loja e deixar de comprar ali parecia, em um primeiro momento, uma idiotice. Só que não comprei pelo abuso do preço. Voltei para casa, liguei o computador e recebi a resistência em casa três dias depois.

O mesmo aconteceu com um livro para a minha filha. Na loja física, custava cerca de R$ 130,00 e ainda demoraria quinze dias para chegar. Entrei na internet, achei o mesmíssimo livro por R$ 92,00 (já com o frente), comprei às 14h00 de um dia e recebi em minha casa, acredite se quiser, às 13h00 do dia seguinte. Minha cunhada ficou sabendo, pediu para eu comprar um livro para a filha dela também e foi ainda mais rápido, pois pedi o livro às 16h45 e ele chegou às 12h30 do outro dia, vindo de um centro de distribuição lá no Estado de São Paulo.

Sou fã do comércio eletrônico e creio que esse é um caminho sem volta. Nos Estados Unidos, a crise já se alastrou no setor de shopping centers, que tenta se reinventar para não fazer de edifícios gigantes verdadeiros elefantes brancos. As empresas que vendem pela internet, por outro lado, não param de crescer. A razão, você já sabe, é bastante simples: o custo é muito menor. Montar uma loja física, por menor que seja, é caro, muito caro. Já hospedar um site na internet pode sair por um valor ridículo por mês, sendo que o custo de se criar uma loja virtual, se você não fugir muito dos modelos já prontos, é bastante acessível. Se você utilizar algum sistema de “market place” das grandes redes, pode montar algo praticamente sem pagar nada e não ter um custo fixo mensal, pagando apenas uma pequena porcentagem sobre o que for vendido. O vendedor é o site, não uma pessoa. Você vende 24 horas por dia e pode estocar a sua mercadoria em um imóvel mais simples, em bairro mais barato. A logística já é feita por empresas muito profissionais, fazendo com que você não precise se preocupar com essa parte, ainda mais se for apenas um pequeno comerciante. É tanto corte de custo, mas tanto, que fica difícil para uma loja física competir.

Por mais que seja uma situação difícil para quem tem seu comércio tradicional, não dá para evitar a evolução. Quem aqui se dispõe, ao invés de mandar uma mensagem pelo celular, a escrever uma carta, colocar dentro de um envelope, andar até a agência dos Correios, postar e esperar alguns dias até a sua entrega? A tecnologia traz transformações que aumentam a produtividade de tal maneira que não sobra razão para deixá-la de lado. Claro, há exceções, mas a regra é essa. Existe o lado ruim, especialmente na questão do emprego? Claro que existe. De novo, faço uma pergunta retórica: você deixaria de usar seu celular só para salvar o emprego dos profissionais que instalavam cabos telefônicos? Deixaria de assistir filmes pela internet só para salvar os donos de locadoras de DVD’s? Não, ninguém faria isso.

A inovação tecnológica tem seu lado triste, mas tentar evitar as transformações por ela trazidas pode ter um custo mais alto no longo prazo. O único caminho é tentar se adaptar, é não ficar para trás, não se tornar um dinossauro do mercado de trabalho ou do mundo empresarial. Para o trabalhador, buscar uma formação melhor, não se tornar avesso às novas tecnologias, procurar multiplicar suas habilidades. Nesse ponto, a participação do governo é essencial (infelizmente, não somos muito bem sucedidos na área educacional). Para o empresário, é tentar integrar a tecnologia ao seu negócio ou, se isso não for suficiente, investir em novas áreas que guardem mais harmonia com os novos tempos. Felizmente ou infelizmente, não há outra opção.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.












 

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