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08/01/2020 às 08h30min - Atualizada em 08/01/2020 às 08h30min

O efeito manada

FERNANDO CUNHA
O pequeno Pedro, que aparenta ter uns cinco anos de idade, se perde dos seus pais em meio à multidão numa praia bastante movimentada do litoral brasileiro. Ele chama pela mãe, mas não a encontra. Os pais dele também o procuram desesperadamente. Cinco minutos se passam e o pavor toma conta do menino e do casal. Pedrinho começa a chorar. Seus pais clamam pela aparição dele. Um desconhecido percebe a situação do garoto e se compromete a ajuda-lo. Então, o coloca sentado em seus ombros, começa a bater palmas e a gritar o nome dele ininterruptamente: “Pedrinho, Pedrinho...”. As pessoas ao redor repetem o mesmo ato até que, em poucos segundos, uma onda sonora se forma. Em pouco tempo o chamado chega aos pais de Pedrinho, que logo o encontram, graças à iniciativa daquele estranho e à ação conjunta dos outros banhistas, inclusive eu.

O relato acima é só uma entre tantas histórias envolvendo crianças perdidas nos litorais de nosso país e do mundo todo, principalmente durante períodos de férias. O caso de Pedrinho aconteceu há poucos dias em Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ). Dizem que esta forma de chamar a atenção para crianças desaparecidas em praias é originada na Argentina e, assim como no litoral carioca, outras localidades do Brasil também têm adotado esta prática. Além de contribuir para a fácil localização dos pequenos, ela tem evitado que os guarda-vidas que ficam próximos à água desviem a atenção deles de sua verdadeira missão, que é dar segurança aos banhistas. Mas, de toda forma, orienta-se que o posto do Corpo de Bombeiros mais próximo seja imediatamente avisado para que outras providências também sejam tomadas caso a criança sumida não seja rapidamente encontrada pelos pais.

Além desta incrível estratégia de comunicação, aplicada para a solução de um grande problema, o que me chamou a atenção neste episódio é a involuntária inclinação que nós temos para imitar os outros. Assim como eu, muitos aplaudiram o Pedrinho sem saber a razão daquilo. Fomos levados pelo chamado “efeito manada” ou síndrome do “Maria vai com as outras”, como preferir. Uma série de experimentos realizados no ano de 1951 pelo psicólogo social Solomon Asch revelou que os seres humanos fazem isso por inúmeras razões. A principal delas é por que acreditamos que um conjunto de pessoas, quando age de maneira homogênea, tende a saber mais do que nós mesmos sobre algo que pode ser benéfico para todos. Daí seguimos a “manada” com a intenção de ajudar e, com isso, suprir a necessidade de pertencimento àquele grupo social. Até aí, tudo bem! O problema é que, muitas vezes, também acreditamos que é melhor errar com muitos do que tentar acertar sozinhos.

Propagamos as mesmas ofertas e oferecemos os mesmos descontos que a concorrência. Os clientes perfeitos, que são aqueles que valorizam o nosso trabalho e não nos pedem desconto, nunca nos encontrarão dessa forma. Sem diferenciação, que é o que nos torna incomparáveis e inimitáveis, seremos sempre comparados com os demais. Porém, não adianta termos uma comunicação eficaz e uma presença digital diferenciadas se a qualidade de nossos produtos e serviços não for compatível ou superior àquilo que comunicamos. Para o nosso negócio ter vida longa e próspera precisamos superar as expectativas daqueles que nos contratam. Por isso, antes de se comunicar com seus possíveis seguidores e clientes, avalie de que forma a sua comunicação pode distanciar você dos demais concorrentes ao ponto de torná-los insignificantes.

Então, como ser uma referência ao invés de mais uma opção? O primeiro elemento é a integridade. As pessoas se conectam com conceitos verdadeiros. Aja conforme aquilo que prega. As aparências podem enganar, mas logo decepcionam. Com tanta informação disponível por aí, qualquer incoerência é rapidamente descoberta. O segundo ponto é a credibilidade. Para surpreender, cumpra mais do que a promessa. É melhor oferecer algo de nível sete e entregar oito ou nove (e se possível 10) do que prometer 10 e entregar algo de nível oito ou nove. Isso seria o fim! O terceiro e último item é a criatividade. O tradicional “arroz com feijão” todo mundo faz. Descubra outros ingredientes que possam incrementar o seu prato e use a inovação como tempero. Ou seja, identifique aquilo que você tem e que os seus concorrentes não têm e evidencie isso. Independentemente do produto ou serviço que ofereça, crie e dissemine a sua própria onda. Muitos o aplaudirão e os “pais do Pedrinho” logo o encontrarão.  


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.








 
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