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20/11/2019 às 07h59min - Atualizada em 20/11/2019 às 07h59min

Metáforas e parábolas

FERNANDO CUNHA

Fiz um check-up há alguns meses e o resultado do hemograma revelou algumas anomalias. O endocrinologista disse que eu deveria levar uma vida mais saudável. Todo médico nos diz isso, não é mesmo? Mas ele fez de uma maneira diferente. Usou uma metáfora para que eu entendesse a importância de mudar alguns hábitos alimentares. Atualmente, estou com 46 anos de idade. Então, ele disse: “imagine que eu sou o seu técnico e você é meu time de futebol. Você está aos 45 minutos do primeiro tempo e o jogo está em dois a um para o adversário”. Ele continuou: “cada alimento que você ingere é um jogador do seu time. Que alterações você vai fazer no intervalo para virar o jogo no segundo tempo? A gordurinha da picanha é o zagueiro do seu time. Se continuar jogando com ele sempre, você corre o risco de levar mais um gol. A salada de frutas no café da manhã é o melhor atacante da equipe. Esse você deve manter em campo.”

Tenho certeza que já lhe disseram para parar de fumar o quanto antes. Acredito que já lhe asseguraram que suas veias irão entupir se continuar comendo alimentos gordurosos. Da mesma forma, se você tem o costume de pagar sempre o “mínimo” do cartão de crédito, o seu gerente já lhe alertou que uma hora ou outra sua conta vai estourar. Por mais que saibamos que devemos nos afastar de alguns hábitos, não mudamos. Até que algo mais grave nos aconteça em consequência dos nossos maus comportamentos, vamos “empurrando com a barriga”. O mesmo acontece com nossos liderados na empresa. Os advertimos sobre algo que está errado e eles não nos dão ouvidos. Continuam insistindo nos mesmos erros, até que a demissão é inevitável. É nessa hora que muitos prometem melhorar, mas aí já é tarde.

Sempre digo que comunicação não é o que falamos, mas o que os outros compreendem sobre aquilo que dizemos. Inúmeras barreiras impedem a compreensão de nossas palavras. Uma delas é a resignação. Lidar com pessoas desmotivadas já bloqueia metade do entendimento. Outro obstáculo são as limitações. Talvez, a maneira como estamos nos comunicando não esteja de acordo com o nível intelectual do nosso receptor. Uma terceira dificuldade diz respeito aos valores e crenças de nossos ouvintes. Se o que dissermos ir contra àquilo que o outro acredita como o certo, dificilmente ele atenderá às nossas solicitações, principalmente se for algo relacionado à legislação trabalhista, política ou religião.

Desde o tempo das cavernas, os seres humanos foram condicionados a ouvir histórias. E cada uma delas apresenta um desfecho que nos remete à uma reflexão sobre uma realidade vivida, seja no âmbito pessoal ou profissional. É a chamada “moral da história”. Daí a importância de incorporar este recurso ao nosso cotidiano com o intuito de tornar a nossa comunicação mais eficaz. As palavras de Jesus Cristo, por exemplo, se referiam a coisas incompreensíveis aos olhos humanos. O “Reino de Deus” era algo inconcebível para grande parte das pessoas. Por isso, ele usava metáforas e parábolas para que sua doutrina e seus princípios fossem assimilados mais facilmente. É a parábola do filho pródigo e a metáfora do joio e o trigo, entre tantas outras.

Certa vez, quando eu ainda trabalhava no rádio e não possuía formação superior, surgiu uma oportunidade de atuar na TV. Solicitei ao diretor da emissora que me ajudasse a ingressar na nova atividade. Ele perguntou se eu tinha diploma. Respondi que não. Então ele disse: “como você pretende ‘decolar’ sem diploma?” A pergunta dele, fundamentada numa metáfora, me fez entender que eu precisava “decolar” e, para isso, era necessário me dedicar aos estudos. Foi aí que busquei inspiração e energia para cursar a faculdade de jornalismo. Desde então, não parei mais de estudar, pois, além de “decolar”, entendi que é necessário sempre galgar voos mais altos. Uma simples metáfora mudou a minha vida para sempre!

Conte histórias e faça comparações para orientar os seus subordinados na hora de delegar funções, definir metas, dar feedback ou fazer discursos motivacionais. Use-as também para incrementar as suas aulas, palestras e apresentações. Histórias educam, despertam emoções, criam relacionamento e ganham a lealdade das pessoas. Busque-as nos livros, nas revistas, nos filmes. A internet está cheia delas, gratuitamente. Descobri que uma boa metáfora pode mudar hábitos nutricionais e melhorar a qualidade de vida das pessoas e parábolas têm o poder de direcionar e impulsionar carreiras. Experimente!                 

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.








 

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