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06/11/2019 às 08h50min - Atualizada em 06/11/2019 às 08h50min

O jogo dos balões

FERNANDO CUNHA

Acredito que eu não tenha contado essa história ainda, mas nos workshops e cursos de comunicação eficaz e oratória descomplicada que promovo gosto de realizar algumas dinâmicas em grupo para corroborar a aplicabilidade dos conceitos que trabalho no conteúdo programático. Uma delas é a dinâmica do jogo dos balões, na qual eu entrego uma bexiga de aniversário e um palito de dentes a cada participante. Após formar um círculo, eu peço para que cada um encha o seu balão e amarre a ponta. Em seguida, anuncio a única regra do jogo, que é a seguinte: “vence quem permanecer até o final com o seu balão cheio”. Regra simples, não é? O jogo dura cerca de um minuto e o resultado, na maioria das vezes, é desastroso. Logo alguém já estoura o balão do colega ao lado e desencadeia o chamado efeito manada. O que se vê depois é uma sucessão de estouros. Mas, espere aí! Em nenhum momento eu disse para furar o balão do vizinho.

Costumo dizer que comunicação não é o que a pessoa diz, mas o que ou outros entendem sobre o que a pessoa diz. Quando dizemos “temos que superar desafios”, muita gente entende “teremos mais trabalho duro pela frente”. Se dissermos na empresa que “haverá algumas mudanças”, muitos vão alegar que nos ouviu dizendo que “cabeças vão rolar”. Da mesma forma, se eu digo que “teremos de rever a nossa política de benefícios”, muitos vão espalhar a notícia de que “iremos perder o plano médico e odontológico”. Na nossa vida conjugal, então, nem se fala. Quantas frases ditas são mal interpretadas? Até entre os amigos a conversa anda difícil, ainda mais em tempos de política polarizada. Mas não vou entrar nessa discussão. O meu intuito aqui é oferecer duas ferramentas que podem tornar a nossa comunicação mais clara, objetiva e simples em qualquer situação, principalmente no ambiente corporativo.

Normalmente, quando delegamos alguma função, acreditamos que o nível intelectual e o entendimento das outras pessoas são iguais aos nossos. Não nos atentamos às limitações dos nossos colegas e subordinados. Simplesmente dizemos o que deve ser feito e nada mais! Dificilmente nos certificamos de que o interlocutor realmente tenha entendido a mensagem transmitida. É por isso que muitos colaboradores fazem as coisas totalmente diferentes da maneira como determinamos que elas sejam feitas. O resultado disso é muito aborrecimento, falta de confiança e retrabalho, o que ocasiona, inclusive, prejuízos financeiros, dependendo do caso. Quantas vezes já pedimos algum prato num restaurante e o atendente nos chega com outra refeição? E quando pedimos uma marca de cerveja ou refrigerante e o garçom vem com outra?

Se perguntamos para a outra pessoa se ela entendeu o que a gente disse, ela pensa: “será que ele acha que eu sou burro”? Então, uma forma de verificar o entendimento do outro sem gerar este tipo de stress é perguntando da seguinte forma: “gostaria de verificar se eu estou me comunicando bem. Você poderia repetir o que eu disse para que eu possa me certificar disso?” Desta forma, transferimos toda a responsabilidade da boa comunicação para nós e evitamos que o nosso interlocutor se sinta culpado caso não tenha entendido algo ou assimilado alguma informação importante. E quando acontece de ele não ter entendido, devemos explicar novamente com outras palavras, e não elevando o tom da voz, como habitualmente fazemos. Em certas ocasiões talvez seja necessário até desenhar numa folha de papel para que haja um real entendimento, mas sem tratar o outro como uma criança.

Uma segunda técnica para tornar a comunicação mais objetiva é esclarecer ponto a ponto as etapas da execução de algum trabalho. Podemos responder numa folha de papel, em duas cópias, as seguintes perguntas: quem? Vai fazer o que? Quando? Como? Onde? E por quê? Os dois assinam esta espécie de “ordem de serviço” e cada um fica com uma via. Caso o executor da tarefa tenha alguma dúvida posterior, consulta o manuscrito. As técnicas são inúmeras. O mais importante é não nos limitarmos em aplicar uma ou outra estratégia. Cada situação exige uma reação e cada reação exige um método. O líder mais poderoso é aquele mais flexível. O que vai determinar a nossa capacidade de superar desentendimentos e desafios é a maneira como nos recriamos todos os dias. Como nos diz Loretta Malandro, PhD em Comunicação Corporativa: “quanto maior a nossa flexibilidade em pensar e aprender, melhor será a nossa liderança”, o que inclui nos comunicarmos com mais clareza e objetividade.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.







 

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