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16/10/2019 às 08h40min - Atualizada em 16/10/2019 às 08h40min

A regra dos três segundos

FERNANDO CUNHA

Chove muito. As pessoas se escondem embaixo das marquises das lojas. Foram pegas de surpresa e estão sem guarda-chuvas. Uma pessoa em especial chama a sua atenção. Num outro dia, você está no trabalho e resolve sair um pouco para respirar um ar puro no horário de intervalo. Se depara com uma nova colega, recém-contratada. Dias depois, a caminho de casa, você decide tomar um cafezinho. Percebe que no balcão da cafeteria uma pessoa simpática se mostra aberta a um diálogo. Em qualquer uma dessas situações, como você iniciaria uma conversa? Os primeiros segundos de qualquer encontro são ricos em oportunidades, mas, na maioria das vezes, não as aproveitamos. Não sabemos como nos aproximar e estabelecer um diálogo envolvente. A timidez nos impede de conhecer pessoas importantes ou prospectar novos clientes.

Quantas vezes já encontramos alguém interessante para uma relação de negócios ou um possível relacionamento amoroso e não tivemos a coragem necessária para iniciar uma conversa saudável? Um sentimento de tristeza nos invade nessa hora, pois sabemos que, muito provavelmente, nunca a veremos novamente. Quem nunca desperdiçou uma grande oportunidade só por não ter aceitado o convite para uma rápida exposição oral? As situações são inúmeras. É um telefonema que temos de fazer e não fazemos. É uma primeira visita a um novo cliente que sempre adiamos. É um e-mail ou uma mensagem de texto que nunca enviamos. Sempre deixamos para depois e esse “depois” não chega. Certa vez me disseram que depois é sinônimo de nunca!  

Um “capetinha” e um “anjinho” dialogam em nossas cabeças o tempo todo. O primeiro, localizado no lado direito de nosso cérebro, é extremamente corajoso. O segundo, do lado esquerdo, é medroso e desconfiado. Esses dois extremos são denominados pelos psicólogos de self 1 e self 2. Quando surge alguma situação inusitada, o “capetinha” quer avançar, mas o “anjinho” logo arranja uma desculpa para impedir a nossa ação. Em situações que podem causar acidentes, isso é salutar. Mas, em ocasiões importantes para o nosso avanço pessoal e profissional, esse diálogo interno pode ser prejudicial. As “desculpas” que o “anjinho” arranja, em sua maioria, são provenientes de experiências frustradas que tivemos em momentos anteriores da vida.

Mas há como neutralizar essa intervenção. O processo de decisão sobre fugir ou enfrentar um desafio leva apenas três segundos. Temos este pequeno espaço de tempo para tomarmos, ou não, a coragem de abordar uma outra pessoa numa balada ou num evento de networking. Três segundos, inclusive, para aceitarmos, ou não, o convite para um discurso improvisado. A regra consiste em não deixar os três segundos passarem. Decida-se por enfrentar as situações antes que o “anjinho” arranje mais uma desculpa, pois, com certeza, ele vai tentar inibi-lo. Ele dirá: “você se lembra que, quando pequeno na escola, gaguejou e riram de você”? “Você se lembra do ‘fora’ que tomou daquela garota quando era jovem?”

Às vezes, até encaramos o desafio de puxar uma conversa, mas, sem saber o que dizer, não criamos uma primeira boa impressão. Aí vem um segundo desafio: antever a primeira fala. Não devemos falar sobre nós ou nosso interlocutor e jamais iniciar uma conversa reclamando de algo do tipo “como está quente aqui”, “o som está muito alto” ou “está muito cheio aqui, né?” Ninguém gosta de ficar perto de pessoas que reclamam. Devemos dizer algo positivo sobre o ambiente e sincronizar a nossa postura verbal e corporal com a do interlocutor. Se ele fala baixo, falamos baixo. Se fala alto, elevamos o tom da voz. Se faz algum movimento com o corpo, fazemos um gesto parecido. Tudo com muita sutileza. Em determinado momento, ele pensará: “essa pessoa parece com alguém que eu conheço”. Essa “pessoa”, a qual ele se refere, é ela mesma. Este “espelhamento” serve para criar sintonia.

Outra atitude, talvez a mais importante, é entregar o seu cartão de visitas e pedir o contato da pessoa. Para isso, devemos criar uma espécie de comprometimento. Ao invés de, simplesmente, pedir o número do telefone ou e-mail, devemos oferecer algo importante que podemos enviar posteriormente, como um link de um vídeo ou filme interessante relacionado ao negócio, a indicação de um livro útil ou um e-book de sua autoria, se tiver. Agora, se o seu pedido for negado, então educadamente diga “foi bom conversar com você” e cuide dos seus problemas com sua confiança intacta. Só não deixe passar os três segundos na próxima.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 

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