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24/07/2019 às 08h36min - Atualizada em 24/07/2019 às 08h36min

Vocabulário Transformacional

FERNANDO CUNHA

Há alguns meses, a luz do painel que indica um possível problema na injeção eletrônica do meu carro acendeu. Em pouco tempo ele começou a engasgar. Tive que levá-lo ao mecânico de minha confiança e o conserto saiu por quase dois mil reais. Houve necessidade de trocar a junta do cabeçote, fazer uma retífica e substituir uma válvula queimada. Imagine a minha tristeza ao ter que desembolsar uma quantia consideravelmente elevada num único dia. Duas semanas depois a mesma luz no painel acendeu de novo. Fiquei desesperado. Quando cheguei ao mecânico novamente, dessa vez com a expressão mais triste que na situação anterior, questionei se era problema no tal do cabeçote. Ele me disse: “não pode ser o cabeçote, pois, do jeito que eu o consertei você pode dar a volta ao mundo nesse carro”. Ele estava certo. Foi só o entupimento de um bico injetor. Menos mal!

O que me chamou a atenção foram as palavras usadas pelo mecânico para me deixar despreocupado em relação ao conserto anterior. Ele poderia ter falado de várias maneiras sobre a garantia do serviço prestado, mas o fato de eu poder “dar a volta ao mundo no meu carro” me deixou extremamente confiante. Talvez sem nenhum conhecimento sobre técnicas de persuasão e influência, ele usou um artifício muito usado por palestrantes e mestres da oratória: o vocabulário transformacional. Esse termo, que mais parece um bicho de sete cabeças, foi criado por Tony Robbins, e se refere ao uso constante de palavras que transformam o estado emocional das pessoas e, com isso, melhorar a fisionomia e o padrão psicológico delas. Ou seja, é trocar palavras normais por termos poderosos que podem tornar o clima mais energizado diante de inúmeras situações.

Ao invés de dizer para a equipe “vamos melhorar as coisas”, diga “vamos buscar a excelência”. Quando alguém fizer algum trabalho bem feito, elogie dizendo “nossa, ficou impecável”. Ao invés de dizer para o funcionário “estou preocupado”, diga “estou um pouco apreensivo”. Isso cria um clima mais confortável para buscar a solução dos problemas. Diga para o seu marido “você está vigoroso hoje”. Diga para sua esposa “nossa, como você está esplendorosa”, ao invés de dizer “como você está bonita”. Eu garanto que você terá uma das melhores noites da sua vida! Quando você estiver irritado, não diga “eu estou com raiva”. Procure dizer “eu estou desgostoso”. Se estiver se sentindo sozinho, não diga “estou solitário”. Troque por “estou disponível” ou “estou livre”. Suas chances de conseguir uma companhia serão muito maiores. Se estiver cansado, diga “estou exaurido”. O cansaço some na hora.

Essa técnica também funciona em palestras, ministrações, aulas, discursos e até para o fechamento de mais negócios. Eu nem conheço pessoalmente o corretor de seguros do meu carro. Nunca o vi e há mais de 12 anos eu renovo a apólice com ele. Isso por que, quando ele me liga, eu pergunto: “bom dia, fulano, tudo bem”? Ele responde: “bom dia, estou otimamente bem, e você, tudo esplêndido”? O jeito que ele fala essa frase, carregada de ênfase e eloquência, me faz sentir bem, mesmo tendo que depositar uma grana para renovar o seguro. Experimente tratar os seus clientes dessa maneira. Você verá que eles terão uma melhor receptividade às suas abordagens.

Uma forma prática de ampliar o nosso vocabulário transformacional é buscar, pelo menos, três sinônimos de cada palavra que temos o costume de usar frequentemente. Faça uma “colinha” dessas palavras e pratique diariamente o uso delas. Experimente fazer isso por 60 dias ininterruptos, uma palavra por dia. Imagine só! Ao final do período você saberá 180 novas palavras. Se praticar isso por um ano, serão mais de 1.000 palavras transformacionais novas no seu vocabulário. Além de mudar o estado emocional de si próprio e das outras pessoas, isso também lhe dará mais segurança e desenvoltura na hora de se expressar em público. Experimente!

As palavras que habitualmente usamos podem determinar se a nossa vida e a vida das pessoas com as quais nos relacionamos será de fracassos ou sucessos. Uma pesquisa realizada na década de 1960 na Universidade da Califórnia de Los Angeles (UCLA) constatou que as palavras representam apenas 7% no processo de comunicação interpessoal e em apresentações diversas, mas não podemos desmerecer a importância de escolhê-las bem ao nos comunicarmos com nós mesmos e com as outras pessoas, pois uma única palavra proferida tem o poder de começar uma guerra ou acabar com ela.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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