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14/07/2019 às 16h00min - Atualizada em 14/07/2019 às 16h00min

Cura da AIDS é possível?

ANGELA SENA PRIULI

Em meio a tantas notícias pouco animadoras que recebemos diariamente, a leitura dessa chamada é no mínimo de intrigar, não é mesmo? Você já nem pensava mais sobre isso ou já tinha perdido as esperanças sobre essa possibilidade? Na ciência é assim: nunca perca a fé! Paradoxal...

Sim, pesquisadores, pela primeira vez, eliminaram o DNA do vírus HIV-1, o vírus responsável pela AIDS, do meio dos genomas de mamíferos vivos. O estudo marca um passo crítico para o desenvolvimento de uma possível cura para a infecção humana pelo HIV. Lembrando que, apesar da banalização que AIDS sofreu depois de os famosos coquetéis aumentarem a sobrevida das pessoas "HIV-positivo", o mundo ainda tem que enfrentar mais de 30 milhões de infectados e um número crescente de jovens despreparados, para não dizer desavisados (já que há muito não se vê uma campanha que atinja a massa), entrando em contato com o vírus e sendo sua casa por toda sua sobrevida.

Em um grande esforço de colaboração, pesquisadores da Escola de Medicina Lewis Katz da Universidade de Temple e do Centro Médico da Universidade de Nebraska (UNMC) publicaram um artigo em 2 de julho na revista Nature Communications que já é motivo de celebração para a ciência e uma luz para nós, a população do mundo ."Nosso estudo mostra que o tratamento para suprimir a replicação do HIV e a terapia de edição de genes, quando administrados sequencialmente, podem eliminar o HIV de células e órgãos de animais infectados", disse Dr Kamel Khalili, que é Professor no Laura H. Carnell e Chefe do Departamento de Neurociência, Diretor do Centro de Neurovirologia e Diretor do Centro de NeurAIDS da Escola de Medicina Lewis Katz da Temple University (LKSOM). "Essa conquista não poderia ter sido possível sem um esforço extraordinário da equipe que incluiu virologistas, imunologistas, biólogos moleculares, farmacologistas e especialistas em produtos farmacêuticos", disse Gendelman, a outra chefe do estudo.
 
Entendendo o novo cenário
O tratamento atual para o HIV concentra-se no uso dos coquetéis, ou terapia antirretroviral (TARV). A TARV suprime a replicação do HIV, mas não elimina o vírus do corpo. Portanto, se a pessoa parar o tratamento, os vírus que vivem no DNA de suas células voltam a se replicar e levam ao desenvolvimento da AIDS, assim o TARV não é uma cura para o HIV, e requer uso por toda a vida. Para que possamos entender: o alcance do HIV é diretamente atribuído à capacidade do vírus de integrar sua sequência de DNA aos genomas das células do nosso sistema imunológico (aqueles glóbulos brancos, sabe?), onde ele fica inativo e fora do alcance dos medicamentos antirretrovirais.

Em trabalhos anteriores, a equipe do Dr. Khalili usou a biotecnologia chamada CRISPR-Cas9 para desenvolver um novo sistema de edição genética (quase uma cirurgia a nível molecular) e de terapia gênica que visa remover o DNA do HIV dos genomas que abrigam o vírus. Em ratos e camundongos, eles mostraram que o sistema de edição de genes poderia efetivamente retirar grandes pedaços de DNA de HIV das células infectadas, impactando significativamente na expressão gênica viral. Porém, semelhante ao Tarv, a edição genética não pôde eliminar completamente o HIV por conta própria.

Para o novo estudo, os cientistas combinaram seu sistema de edição genética com uma estratégia terapêutica desenvolvida recentemente conhecida como TARV de liberação lenta de longa duração (Laser), resultado das alterações farmacológicas na estrutura química dos medicamentos anti-retrovirais. O Tarv-Laser tem como alvo os santuários virais (como células que vivem no intestino) e mantém a replicação do HIV em níveis bem baixos por longos períodos de tempo, reduzindo a frequência de administração de TARV. A nova droga modificada foi empacotada em nanocristais, que prontamente se distribuem para os tecidos onde o HIV pode estar dormente. A partir daí, os nanocristais, armazenados dentro de células por semanas, liberam lentamente a droga.

Para testar sua ideia, os pesquisadores usaram camundongos manipulados para produzir células T humanas suscetíveis à infecção pelo HIV, permitindo a infecção viral a longo prazo e a latência induzida pela terapia antirretroviral. Uma vez estabelecida a infecção, os ratos foram tratados com Tarv-Laser e subsequentemente com CRISPR-Cas9. No final do período de tratamento, os ratos foram examinados quanto à carga viral (exame comum nos indivíduos HIV-positivos) e as análises revelaram a eliminação completa do DNA do HIV em cerca de um terço dos ratos infectados pelo HIV. Viva!!!
 
O que vem pela frente?
A grande mensagem deste trabalho é que é preciso tanto o CRISPR-Cas9 (aquela "cirurgia molecular" que corta do DNA do vírus que está no meio de nosso DNA) quanto a supressão de vírus por meio de um método como o Tarv-Laser, administrado em conjunto, para produzir uma cura para a infecção pelo HIV. "Agora temos um caminho claro para avançar para testes em primatas não humanos e possivelmente ensaios clínicos em pacientes humanos durante o ano", diz Dr Khalili.

Querido leitor, eu particularmente adoooro quando encontro ótimas notícias vindas da ciência para alegrar seu domingo! Até porque há uns meses te contei que receber boas notícias faz bem saúde, né? Então celebre a novidade - porque celebrar aumenta sua dopamina, aproveite os benefícios, conscientize-se ainda mais sobre a AIDS, e bora sair do sofá que domingo também é dia de viver o presente!
 
Fonte:
Prasanta K. Dash, Rafal Kaminski, Ramona Bella, Hang Su, Saumi Mathews, Taha M. Ahooyi, Chen Chen, Pietro Mancuso, Rahsan Sariyer, Pasquale Ferrante, Martina Donadoni, Jake A. Robinson, Brady Sillman, Zhiyi Lin, James R. Hilaire, Mary Banoub, Monalisha Elango, Nagsen Gautam, R. Lee Mosley, Larisa Y. Poluektova, JoEllyn McMillan, Aditya N. Bade, Santhi Gorantla, Ilker K. Sariyer, Tricia H. Burdo, Won-Bin Young, Shohreh Amini, Jennifer Gordon, Jeffrey M. Jacobson, Benson Edagwa, Kamel Khalili, Howard E. Gendelman. Sequential LASER ART and CRISPR Treatments Eliminate HIV-1 in a Subset of Infected Humanized Mice. Nature Communications, 2019; 10 (1)

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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