Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
05/06/2019 às 08h01min - Atualizada em 05/06/2019 às 08h01min

O Elefante de Circo

FERNANDO CUNHA
Durante a Segunda Guerra Mundial, príncipe Albert estava em ascensão ao trono da Inglaterra como Rei Jorge VI. Entre as suas atribuições como majestade, ele tinha a missão de proferir discursos à nação através do rádio e em diversas aparições públicas. Para ele uma difícil missão, pois lutava contra uma gagueira e timidez extrema para encarar o microfone e a plateia. Ele mesmo não acreditava que um dia conseguiria superar essa limitação até que sua esposa, conhecendo o potencial do marido, toma a iniciativa de convencê-lo a buscar ajuda. Contrata então um ator australiano e fonoaudiólogo chamado Lionel Logue, que, a princípio, encontra inúmeras dificuldades para extrair o melhor do monarca. Em pouco tempo de convivência os dois desenvolvem uma grande amizade e Logue usa de meios fora do comum para ensinar o príncipe a falar com segurança.

A história do príncipe Albert, retratada no filme O Discurso do Rei (2010), nos mostra que, por mais que não acreditemos, somos muito capazes de realizar grandes feitos, inclusive fazer apresentações memoráveis controlando melhor a nossa ansiedade e o medo de falar em público. Porém, algo nos impede de melhorar nossas habilidades nesse sentido até que desafios inesperados nos coloquem à prova. Nos esquecemos que a qualquer momento uma excelente oportunidade pode nos bater à porta. Mesmo assim, preferimos investir nosso tempo e dinheiro em distrações quase sempre inúteis e que nos aprisionam em nossa zona de conforto. Não percebemos que a maior riqueza que temos é a capacidade de nos desenvolvermos como seres sociáveis que necessitam de instrumentos e meios que permitam articular melhor as nossas relações no sentido de um crescimento sempre constante.

Uma coisa é certa: todo esforço é recompensado! E os benefícios pessoais e profissionais de uma boa comunicação oral são incalculáveis. As chances de sermos promovidos no trabalho e mais bem remunerados são maiores quando articulamos e expomos melhor as ideias, seja num diálogo, numa reunião ou numa apresentação formal de negócios. A capacidade de se relacionar bem com os colegas, incluindo a maneira como nos expressamos, está entre as habilidades mais desejadas pelas empresas. E para um profissional de vendas, então? Não há como mensurar a quantidade de negócios fechados diariamente talvez apenas pela forma com que foi feita uma abordagem a um cliente. Temos de estar preparados, mas, para isso, precisamos de um pouco mais de empenho e dedicação também no aperfeiçoamento de nossas habilidades sociais, inclusive da arte de nos comunicarmos melhor, seja para uma apresentação em público ou não.

É um ciclo. Tudo parte do princípio de que “penso, logo existo”, do filósofo francês René Descartes. A maneira como pensamos determina o nosso estado físico e psicológico para a criação de comportamentos que moldam as nossas crenças e estabelecem os nossos resultados. A condição de nossa existência, ou seja, se somos confiantes ou não, se falamos bem ou não em público, se lideramos melhor ou não às nossas esquipes depende, primeiramente, de como pensamos sobre isso. Quando acreditamos que somos capazes de desenvolver determinadas habilidades para superar maiores desafios, encontramos razões para agir e incorporamos em nós a crença de que seremos aquilo que desejamos ser, mesmo que vários desafios surjam no caminho. No caso do príncipe Albert, a sua esposa foi quem procurou ajuda, pois sabia que seu marido se sentia como um elefante de circo. 

O elefante de circo passa a vida toda com o pé amarrado a uma pequena estaca fincada no chão sem se dar conta da força que tem. Talvez ele até se dê conta de que é bastante forte, mas foi condicionado desde filhote a viver daquela maneira. Para ele, basta um simples movimento sem nenhum esforço para se livrar da condição de aprisionamento. Inclusive, sempre que um elefante foge do circo causa um estrago danado por onde passa, não é mesmo? Isso porque, após se soltar da estaca, desperta para o poder interior que tem e, aproveitando daquela liberdade momentânea, inconscientemente se sente na necessidade de extravasar fisicamente. Por isso, derruba a tenda do circo, ultrapassa cercas, destrói veículos e invade casas. Impossível pará-lo sem um dardo tranquilizante. Mahatma Gandhi, líder que usou apenas de sua oratória para libertar a Índia do domínio inglês, disse certa vez: “Tu nunca saberás que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados”.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Tags »
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90