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29/05/2019 às 08h00min - Atualizada em 29/05/2019 às 08h00min

Comunicação é prevenção!

FERNANDO CUNHA | JORNALISTA E PALESTRANTE
Era noite de sábado, 2 de março de 1996, quando o avião que transportava a banda Mamonas Assassinas se chocou com a Serra da Cantareira, em São Paulo. O acidente pôs fim às vidas dos cinco integrantes da banda, de um segurança, de um assistente de palco e do piloto e copiloto do LearJet. O grupo chegava de Brasília (DF), onde havia feito um show, e iria desembarcar no aeroporto de Guarulhos por volta de 23h15. O tempo estava fechado em São Paulo e uma espessa neblina cobria parte da Serra. Uma sequência de falhas de comunicação entre o piloto e a torre de controle do aeroporto fizeram com que o avião dos Mamonas arremetesse para a esquerda, em vez de ir para a direita. Após investigações, incluindo a escuta da caixa preta do avião, a responsabilidade pelo acidente recaiu sobre o piloto, que na conversa com o operador da torre alegou que tinha condições visuais para realizar as manobras.

Oito anos antes, em 6 de julho de 1988, no mar norte da Escócia, houve vazamento de gás combustível e uma série de explosões e incêndios numa plataforma de petróleo chamada Piper Alpha. 167 pessoas morreram no acidente e mais de cem ficaram feridas. Tudo porque a equipe de manutenção que fazia o reparo de uma das bombas no primeiro turno não comunicou adequadamente à equipe do turno seguinte que não havia finalizado o procedimento. Quando a bomba primária saiu de operação no período noturno, a outra equipe acionou a bomba reserva que ainda estava em manutenção. Segundo aponta o relatório de investigação, “numa instalação industrial, o conhecimento das ordens de serviço em andamento é crucial para a segurança de um processo produtivo”. Novamente uma sequência de falhas de comunicação ocasionou um acidente, desta vez de grande proporção.

Falhas ou falta de comunicação estão entre as cinco principais causas de acidentes, segundo levantamento feito pela Dupont. Basta andar pelas ruas para se constatar esse dado. O que acontece quando um motorista ignora e avança um sinal de PARE ou um semáforo vermelho? Quando funcionários de uma indústria ignoram as placas indicativas de segurança ou as orientações quanto ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI)? Quando um fumante ignora o alerta de que “fumar é prejudicial à saúde” impresso no maço de cigarros? Quando não tomamos um remédio indicado pelo médico ou não seguimos às suas recomendações? Quando não respeitamos o limite de velocidade, estampado numa enorme placa ao lado da rodovia? Inúmeras situações catastróficas poderiam ser evitadas caso as pessoas levassem isso mais a sério.

Nós, seres humanos, não acreditamos que acidentes podem ocorrer também conosco. Estamos sempre com pressa. Somos extremamente autoconfiantes. Adoramos prazeres momentâneos. Nos esquecemos que alguns hábitos ruins, como fumar e beber álcool em excesso, por exemplo, podem ser prejudiciais ao longo do tempo. Não temos a sensibilidade de entender que atrás de uma bola na rua sempre vem uma criança (ou até mesmo um adulto). Não percebemos que a velocidade que emociona é a mesma que mata. Não alertamos um colega de trabalho quando o mesmo está fazendo algo que possa prejudicar a integridade física dele. Deixamos essa responsabilidade para algum membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) da empresa ou um técnico de Segurança do Trabalho. Ignoramos o fato de que regras são estabelecidas para serem cumpridas. Não usamos a faixa de pedestres e, quando usamos, nos esquecemos que ela nos dá o direito de passar, mas não nos protege se algum veículo avançar. Sou do tempo que, para atravessar a rua, devíamos antes olhar para os dois lados.

Por que alegamos que a nossa vida não tem preço se, vez ou outra, sem que percebamos, estamos vendendo-a por muito pouco? Quando riscamos os pneus do carro ou da motocicleta para durar mais alguns poucos meses, não trocamos uma pastilha de freio, não compramos o medicamento que o médico receitou, não pagamos uma consulta médica, não trocamos um capacete trincado. Nestas e outras inúmeras situações estamos arriscando a nossa vida por muito pouco ou quase nada. O poder de decisão é só nosso e de mais ninguém. A boa comunicação para prevenir acidentes é responsabilidade de todos e não só de profissionais do SESMT. Da mesma forma que ficamos felizes quando alguém nos alerta de algo errado que estamos fazendo com o intuito de proteger a nossa vida, outras pessoas se sentem gratas quando fazemos o mesmo. Cuidar do outro é cuidar de si!
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