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15/05/2019 às 08h23min - Atualizada em 15/05/2019 às 08h23min

Estado de Flow

FERNANDO CUNHA | JORNALISTA E PALESTRANTE
Em uma de suas apresentações no reality show America’s Got Talent, exibido pela NBC, a garota Courtney Hadwin, de apenas 15 anos de idade, interpretou uma versão by Janis Joplin da música Hard to Handle, de Otis Redding, de maneira incrível. A performance de Hadwin mais pareceu uma encarnação da “Rainha do Rock n Roll” do que algo ensaiado. Na ocasião, a jovem cantora chegou toda tímida, sem graça. Parecia que não ia sair nada, mas ela se concentrou e arrasou na sua apresentação. Tanto que um dos jurados apertou o chamado Golden Buzzer, aquele botão "milagroso" que permite a um artista pular etapas e ir direto para os shows ao vivo. Isso significa que o jurado considerou aquela candidata extraordinária logo de cara, mesmo ela demonstrando traços marcantes de timidez e aparente despreparo. Se você ainda não viu este vídeo, vale a pena conferir após ler este artigo.

Conto essa pequena história para abordar o conceito de “Estado de Flow”, que é a capacidade mental de operação em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo, caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. Na tradução simples, flow significa fluxo. Proposto pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikzentmihalyi, o conceito tem sido utilizado em uma grande variedade de campos, inclusive na arte de se apresentar em público e no desenvolvimento de uma comunicação de alta performance. Segundo Mihaly, na medida em que nós, seres humanos, melhoramos as nossas habilidades em determinada atividade, conseguimos galgar e alcançar maiores desafios, ao passo que, na medida em que novos desafios vão surgindo, sentimos a necessidade de melhorar as nossas habilidades. Ou seja, nenhuma atividade que executamos fica mais fácil. Nós é que ficamos melhores ao longo do tempo.

Mas alcançar o estado de “flow” não é assim tão fácil. Exige determinação e coragem. Tenho certeza que você, leitor, em alguma circunstância, já foi convidado a fazer um discurso, foi obrigado a apresentar um trabalho na escola ou algum projeto na empresa e sentiu-se despreparado e ansioso. Talvez até estava preparado, mas, na hora H, não conseguiu se concentrar naquilo que estava fazendo. Isso é natural, pois a nossa mente sempre busca maneiras de nos dispersar daquilo que nos exige concentração plena. Diariamente, travamos uma batalha interna em nossas mentes, onde, de um lado sabemos exatamente o que devemos fazer e dizer, mas, de outro, nos preocupamos se vamos realmente conseguir. É justamente essa nossa bipolaridade mental que nos impede de executarmos algumas tarefas mais difíceis com mais tranquilidade e confiança, como uma apresentação em público, por exemplo.

A maneira mais eficaz de alcançarmos o estado de flow na arte de se apresentar em público ou de termos uma comunicação de alta performance com nossos subordinados, pares e superiores é seguir três passos simples. O primeiro é o preparo. Estudar sobre o tema que será abordado é a essência de qualquer apresentação de sucesso. O maior erro que podemos cometer é acharmos que somos capazes de improvisar. Nem os melhores oradores do mundo se arriscam. O improviso também exige preparo e técnica. Então, devemos buscar conhecimentos que podem nos dar sustentação para o nosso speech. O segundo passo é o treino. Assim como os grandes atletas treinam todos os dias para chegar a uma competição, devemos treinar exaustivamente para encarar o público, independentemente do seu tamanho. O terceiro passo é a execução. De nada adianta muito preparo e treino se não criamos situações que exijam de nós a colocação de tudo isso em prática.

Uma sugestão que ofereço é: prepare toda semana um conteúdo relevante para apresentar à sua equipe, aos seus colegas de trabalho ou faculdade ou para pessoas que convivem com você diariamente. Busque na internet algum texto que possa agregar valor à sua carreira e à vida dessas pessoas. Treine a leitura desse texto pontuando e marcando os trechos mais importantes. Escolha um dia e horário específico na agenda para uma rápida reunião e apresente isso ao pessoal. Desta forma, você estará adquirindo conhecimento constantemente, desenvolverá cada vez mais a sua capacidade de síntese e colocará em prática o aperfeiçoamento das habilidades necessárias para fazer uma apresentação em público com mais confiança. Como diz o psiquiatra e meu mentor como palestrante profissional, Roberto Shinyashiki: “melhor errar com segurança do que acertar inseguro”.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia,
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