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17/04/2019 às 09h19min - Atualizada em 17/04/2019 às 09h19min

Promessas vazias

FERNANDO CUNHA | JORNALISTA E PALESTRANTE
Há mais de um ano eu venho tentando agendar uma rápida reunião com o gestor de um dos maiores grupos empresariais de Uberlândia. A resposta é sempre a mesma: “na semana que vem agendamos”. Mesmo após inúmeras tentativas, ainda não desisti da conversa, pois acredito que “uma hora vai dar certo”, parafraseando uma figura lendária de nossa cidade. Aprendi que devemos ser extremamente cuidadosos ao marcar algum compromisso ou prometer algo a alguém, principalmente se já sabemos que não iremos cumprir. Devemos também ficar atentos a alguns sinais que indicam que alguma pessoa está nos fazendo promessas vazias. Por exemplo, quando ouvimos alguém dizer “vou tentar”, pode esquecer. O que acontece quando você “tenta” perder peso? E quando “tenta” guardar algum dinheiro para as férias? A chance de obter sucesso é praticamente nula. O mesmo acontece quando vamos “tentar” agendar uma reunião.

Quem nunca ficou “P” da vida por que alguém prometeu algo e não cumpriu? A primeira reação é dizer: “por que fui confiar e perder tempo com essa pessoa?”. Por outro lado, qual pessoa se sente confortável prometendo algo, mesmo sabendo que não vai cumprir? Não levemos em consideração muitos políticos e seus asseclas, mas há momentos em que somos obrigados a fazer promessas vazias diante de alguma demanda mais urgente, talvez até para se ver livre de uma situação inesperada. Infelizmente, são dois pesos e duas medidas, pois a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Se estamos por baixo e prometemos algo que não iremos cumprir, perdemos a confiança da outra pessoa. Se estamos por cima e nos comprometemos com algo e não cumprimos, sentimos que não temos nada a perder. Ledo engano!

Nós, seres humanos, nos comprometemos fácil demais quando sabemos que não vamos cumprir e, normalmente, falhamos ao nos comprometermos com algo que pretendemos cumprir, pois não analisamos minuciosamente se é realmente possível o cumprimento de tal promessa. Existem muitos compromissos e promessas, mesmo que pequenas e sem importância, que fazemos sem atenção consciente. E é aí que mora o perigo. Quando usamos mecanicamente alguns termos “socialmente aceitáveis” não enxergamos o quanto são insignificantes e inconsistentes. São promessas que já nascem vazias. Quantas vezes já dissemos: “vou verificar, mas fique tranquilo que vai dar certo...” e depois não dá. Às vezes temos até a boa intenção, mas não vamos em frente quando não há consistência no comprometimento.

A melhor maneira de evitar situações como essas é criar o hábito de nunca prometer algo ou firmar um compromisso com alguém antes de verificar a real possibilidade de cumprimento. Sempre devemos parar pra pensar duas ou mais vezes. O certo é dizer simplesmente: “vou verificar...”. Não há necessidade do “fique tranquilo...”. E se disser que vai verificar, verifique mesmo. Melhor ainda é estabelecer prazo para respostas, dizendo, por exemplo: “vou verificar e lhe dou uma resposta até sexta-feira”. Essa atitude mostra comprometimento real com a situação, pois uma promessa só se torna verdadeira quando se transforma em ação.

Para isso, existem alguns comportamentos (que devem se transformar em hábitos) que podem tornar a nossa comunicação mais “confiável”, digamos assim. Primeiramente, devemos somente fazer compromissos e promessas quando sabemos que iremos cumprir; devemos trocar o “vou tentar” pelo “vou fazer”, ou é melhor nem nos comprometermos; outra estratégia é tornar os compromissos públicos, o que nos reforça o sentimento de dever. Outro passo importante é tornar o compromisso real, especificando quem fará o que, quando, como, onde e por que. Outro ponto importante é saber que não há problema algum em realinhar ou romper com algum compromisso caso haja alguma adversidade.   

Há alguns anos tive a oportunidade de entrevistar para a TV Band o Sr. Alair Martins do Nascimento, presidente do Martins Atacadista. Perguntei a ele qual o segredo do sucesso? Ele prontamente respondeu: “Credibilidade! Quando prometer que vai fazer algo, faça!”. Segundo ele, devemos ser conhecidos pela nossa capacidade e disciplina para assumir e cumprir compromissos e promessas. É bem melhor do que sermos reconhecidos como aquela pessoa que nunca mantém a palavra, não é mesmo? Por isso, devemos entender que, quando o assunto é compromisso, não existem concessões. O mundo corporativo já não suporta falsas promessas. As pessoas precisam de líderes e o mercado deseja profissionais que inspirem confiança.
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