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27/03/2019 às 09h40min - Atualizada em 27/03/2019 às 09h40min

Engajamento e propósito

FERNANDO CUNHA | JORNALISTA E PALESTRANTE
O que vemos hoje são tentativas desesperadas de empresas e governantes de incutir nas classes trabalhadoras e menos favorecidas a ideia de que todas as mudanças positivas necessárias para o desenvolvimento de uma empresa e de um país dependem exclusivamente de fatores econômicos. O que as pessoas realmente necessitam, além de poder de compra e serviços públicos de qualidade, são condições favoráveis para exercerem o papel de cidadãos de bem que contribuem para o desenvolvimento das empresas e do país. Líderes que não oferecem propósitos bem definidos aos seus liderados, seja na esfera privada ou pública, tendem a caminhar sozinhos. O ex-presidente Franklin Roosevelt certa vez disse: “é uma coisa terrível olhar por cima do ombro quando você está liderando e descobrir que não há ninguém lá”.

Um dos maiores desafios dos líderes de negócios e de nações da atualidade é o de conseguir despertar em seus colaboradores e seguidores o espírito de pertencimento e colaboração às aspirações dos empreendimentos e planos de governo. A incorporação da missão, visão e valores de uma empresa em seus funcionários, bem como a disseminação de uma ideologia progressista à custa do erário público, vai além de uma simples placa afixada na parede ou de discursos recheados de termos técnicos das ciências econômicas. Mesmo em tempos de crise e desemprego, as pessoas não querem se sentir frustradas e desanimadas no ambiente de trabalho, principalmente na iminência cada vez mais real de perderem o direito de terem um futuro que lhe proporcionaria um mínimo de dignidade nas últimas décadas de sua vida.

A melhoria nos processos de fabricação, redução de custos e aumento de rentabilidade dos negócios, entre tantas outras preocupações da empresa, não conseguem mais envolver os trabalhadores. As pessoas querem propósitos também para suas vidas. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, foi enfático ao se pronunciar em um discurso na Universidade de Harvard. “Não basta ter um propósito. Você deve criar uma sensação de propósito para os outros”, disse. Basta analisar os discursos dos candidatos e o resultado das eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos. A proposta de governo de Donald Trump, pelo menos a apresentada durante a campanha eleitoral, foi ao encontro aos interesses da população, infeliz com os rumos que a globalização anda tomando na atualidade. Os seus discursos proporcionaram aos norte-americanos a sensação de que Trump era um deles, diferentemente da linha seguida por Hillary Clinton, mais preocupada com estatísticas econômicas.

Assim como no meio político, as lideranças corporativas devem reavaliar a forma como estão se comunicando com seus públicos, principalmente os colaboradores, que são, em tese, o maior patrimônio de qualquer empreendimento. “Pessoas entregam números. Números não entregam pessoas”, prega o consultor indiano Ram Charam. Se as empresas insistirem em focar o objeto de sua comunicação em números, dificilmente terão pessoas engajadas. Foi-se o tempo em que o sucesso da empresa representava o sucesso dos funcionários. “O sucesso de cada um dos profissionais é que fará o sucesso da empresa”, alerta Max Gehringer, consultor de carreira e comentarista da rádio CBN.

Uma mudança drástica de mentalidade talvez não seja algo fácil, mas é extremamente necessária. Para que a “fatura” não saia cara no futuro, os líderes devem se conectar às mais profundas aspirações emocionais daqueles que são comandados. Uma das maneiras de se conectar é descobrir quais são os principais valores de seus colaboradores, ao invés de impor os valores da empresa a eles. Não estou dizendo que as empresas devem abdicar de seus valores, mas eles podem ser facilmente alinhados, assim como é possível promover uma conexão também da visão e missão de cada um.

Tais atitudes devem ir além do discurso e de frases afixadas em murais e cartazes. Isso deve ocorrer no dia a dia, na forma como nos relacionamos com nossos liderados pela arte da conversa e do convívio. Na era da informação, o poder econômico passou a ser um mero acessório. É certo que todos precisam de dinheiro para pagar as contas, mas de que adianta pagar as contas e não ter paixão por aquilo que se faz. De que adianta ter um emprego estável se no primeiro quarteirão rumo ao trabalho o funcionário já quer voltar para casa? Como diz Stéphane Garelli, fundador do Centro Mundial de Competitividade: “é necessário entrar no mundo deles”.                    
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