Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
06/02/2019 às 08h41min - Atualizada em 06/02/2019 às 08h41min

O irrefreável WhatsApp

FERNANDO CUNHA | JORNALISTA E PALESTRANTE
Virada de ano. Todos estão muito animados com o evento da companhia. É uma festa à fantasia que promete arrebentar a boca do balão. Trata-se de uma grande multinacional de tecnologia, onde a criatividade de seus colaboradores sempre foi um grande diferencial. Todos capricham em suas fantasias. Inúmeras fotos são compartilhadas pelo WhatsApp, até que uma delas viraliza e chama a atenção da alta cúpula da empresa nos Estados Unidos, que considerou racista a fantasia de um dos colaboradores. A brincadeira culminou no desligamento de três pessoas. Ao questionar sobre a demissão do fantasiado, o diretor de vendas também recebeu cartão vermelho. O CEO no Brasil teve o mesmo destino ao considerar radical o posicionamento da empresa. Tudo isso por que a situação feriu os valores da companhia.

Esta é somente uma das inúmeras polêmicas envolvendo a ferramenta que invadiu de vez o mundo corporativo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 95% dos brasileiros usam o WhatsApp para se comunicar, inclusive no trabalho. Para reduzir custos com telefonemas, algumas empresas aderiram em 100% o aplicativo para a comunicação entre seus colaboradores. Um estudo encomendado pela Revista Você RH (Ed. Abril) à empresa de consultoria de comunicação corporativa 4CO, com 1.321 profissionais entrevistados, constatou que 94% das pessoas fazem parte de grupos virtuais com colegas de trabalho. Até aí, tudo bem! O problema é que os dois lados da moeda ainda não estão tomando os devidos cuidados e as providências necessárias para evitar certos desconfortos.

O estudo revelou também que 46% dos colaboradores já participaram de interações na plataforma com divulgação de conteúdo sigiloso de sua companhia, enquanto que 15% compartilharam ou viram alguém compartilhar informações confidenciais com pessoas externas via WhatsApp. De um lado, empresas se chocam com questões relacionadas aos limites de privacidade, pois a maioria dos colaboradores usa aparelhos pessoais e são quase que obrigados a estarem conectados mesmo fora do horário de expediente, o que pode configurar sobreaviso. No lado oposto, colaboradores publicam e compartilham acontecimentos que podem comprometer a imagem e reputação das empresas e de seus colegas. É uma faca de dois gumes que precisa ser afiada o mais rapidamente possível.
Diversas companhias já criaram e implantaram regras e políticas claras de uso do WhatsApp, mas a dificuldade está na conscientização dos colaboradores. Mesmo que haja tópicos específicos relativos a essa questão em contratos de trabalho atuais, muitos deles parecem não entender a seriedade disso e ignoram possíveis consequências. Mais do que utilizar o WhatsApp como ferramenta de comunicação corporativa e estabelecer normas claras, é preciso, entre outras ações, implantar uma cultura organizacional específica para uso de aplicativos de comunicação e redes sociais diversas, o que demanda atualização constante de códigos de ética, treinamentos e preparo de colaboradores e suas lideranças.

Os treinamentos das equipes devem envolver a exposição de diversos casos reais e fictícios com simulações que ilustrem possíveis conversas que possam caracterizar desvios éticos e morais e que vão contra os princípios e valores da empresa ou instituição, como no caso citado no início desse artigo. A capacitação das lideranças demanda também conhecimentos específicos sobre as legislações trabalhistas que versam sobre questões relacionadas à carga horária de trabalho e atitudes que possam configurar assédios moral e sexual, pois um simples “coraçãozinho” mal colocado, por exemplo, pode soar como paquera ou uma carinha brava pode ser mal interpretada, entre tantas outras situações.

De toda maneira, a imposição excessiva de regras pode desmotivar os colaboradores a usarem a ferramenta no trabalho, tornando-a um meio ineficaz de comunicação. Não há como as empresas e instituições controlarem o uso irrestrito e inconsequente do aplicativo, inclusive em grupos formais. De acordo com o portal de pesquisas virtuais Statista, 65 bilhões de mensagens são enviadas, 4,5 bilhões de fotos são compartilhadas e 1 bilhão de vídeos são trocados todos os dias pelo WhatsApp. Ele se tornou uma versão moderna e amplificada do chamado “rádio peão”, que exigirá cada vez mais aperfeiçoamento constante e doses excessivas de bom senso daqueles que o utilizam pessoal e profissionalmente.      
 
         
 
 
       
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90