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28/12/2018 às 08h55min - Atualizada em 28/12/2018 às 08h55min

Sinais da maturidade

MARIANA SEGALA
Quando o assunto é inovação, costuma-se chamar de ecossistema o ambiente que reúne vários atores capazes de contribuir para que ela, de fato, aconteça. O termo foi importado do campo das ciências biológicas, onde designa conjuntos que vivem juntos e interagem na natureza. Aqui em Uberlândia, o ecossistema de inovação é chamado de Uberhub. Tradicionalmente, esse conjunto envolve a presença de empreendedores dispostos a arriscar, instituições de ensino que formam profissionais para abastecer as empresas, grupos que se disponham a orientar quem está chegando sobre como tirar suas ideias do papel, negócios inspiradores que já tenham dado certo, poder público empenhado em proporcionar boas condições institucionais, entre muitos outros. Em todo o mundo, existem ecossistemas em diferentes estágios de maturação, segundo as características que predominam em cada um. Dos nascentes até os autossustentáveis, passando pelos que estão em fase de desenvolvimento, as diferenças são brutais. Mas há um sinal inequívoco de que um ecossistema está amadurecendo: a profusão de investimentos e negociações envolvendo as empresas que fazem parte dele.

Aos poucos, notícias desse tipo começam a se tornar mais frequentes na região. Estima-se que as empresas do ecossistema tenham recebido R$ 40 milhões em investimentos de terceiros entre o início de 2017 e meados de 2018, segundo a edição deste ano do Censo do Uberhub. São casos como o da Kanttum, startup que desenvolve soluções para formação continuada de professores, que em julho anunciou ter recebido um aporte de R$ 1,6 milhão do fundo Cedro Capital. Ou da Vitta, nascida em Uberlândia, hoje com a maior parte das suas operações instaladas em São Paulo. Especializada em sistemas de gestão para clínicas médicas, a empresa recebeu uma terceira rodada de investimentos neste ano, de R$ 19 milhões, vindos de investidores do calibre de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e de fundos internacionais. Ou ainda da Uai Paguei, empresa de pagamentos vendida há poucos anos, numa operação que precipitou a instalação do Social Bank (integrantes do grupo comprador) aqui na cidade.

O caso mais recente, anunciado duas semanas atrás, foi o da Softbox, dedicada ao desenvolvimento de sistemas de gestão para o varejo e a indústria de bens de consumo. Fundada há 13 anos, a Softbox foi comprada pela Magazine Luiza. Com quase 260 funcionários, sendo mais de 170 desenvolvedores, a empresa tem cerca de 80 clientes, entre eles Unilever, Coca-Cola, Basf e Red Bull. A gigante de móveis e eletroeletrônicos – que tem investido fortemente em inovação nos últimos anos – enxergou na aquisição uma maneira de acelerar a sua transformação em um “ecossistema de empresas com o propósito de digitalizar o varejo e a indústria”, conforme detalhou em um comunicado. A Magazine Luiza tem se dedicado cada vez mais às operações de e-commerce, desenvolvendo projetos ousados – como um modelo logístico que permitirá encurtar os prazos de entrega para até 12 horas. É um contexto em que a expertise da Softbox poderá fazer diferença.

E por que operações como essa são um sinal da maturidade de um ecossistema de inovação? Em primeiro lugar, porque atestam a qualidade dos projetos desenvolvidos nele. Empresas sólidas que entregam soluções eficientes são valorizadas pelo mercado, e atraem o interesse de quem delas pode se beneficiar. Um segundo aspecto é o fato de que uma negociação de grande porte tende a munir empreendedores bem-sucedidos com recursos para que façam mais, uma outra vez. Costumam ser mentes cheias de novas ideias, à espera apenas de tempo na agenda e de um pouco de dinheiro para que se tornem novos negócios. Fora isso, bons exemplos de empresas criadas e desenvolvidas servem como uma das mais importantes referências para um ecossistema – elas são um indicativo de que outras também podem ter um desfecho semelhante.

É difícil precisar em que estágio de maturidade se encontra um ecossistema de inovação como o de Uberlândia. Certamente, já passou da fase dos nascentes – inclusive porque há aqui uma geração inteira de empresas estabelecidas há mais de década. Mas ainda há quilometragem a percorrer para que alcance o nível dos autossustentáveis. Possivelmente está em algum ponto do espectro entre os ecossistemas em desenvolvimento e os maduros. Novas notícias de investimentos e negociações serão bem-vindas em 2019, atestando a direção para a qual ele está se dirigindo.
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