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29/07/2022 às 15h30min - Atualizada em 29/07/2022 às 15h30min

Tuberculose contaminou quase 600 pessoas e matou 17, em Uberlândia, nos últimos três anos

Vacina da BCG, que auxilia na imunidade contra doença, está com apenas 63% de cobertura no Município

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Vacina da BCG previne contra casos graves da doença | Foto: Agência Bahia
Uberlândia registrou 587 casos de tuberculose nos últimos três anos e meio, de acordo com a Superintendência Regional de Saúde (SRS). Em 2019, o município teve 155 notificações da doença, índice que saltou para 172 em 2020. Já no ano passado, 162 pacientes foram contaminados pela bactéria e em 2022, 98 pessoas haviam sido diagnosticadas até a última sexta-feira (22).

Os dados divulgados pela SRS apontam que na comparação semestral, 2022 apresenta o pior cenário para a tuberculose. Entre janeiro e junho deste ano, foram 95 diagnósticos positivos, número maior do que os mesmos períodos anteriores. Em 2019, 2020 e 2021, Uberlândia contabilizou 73, 94 e 71 casos, respectivamente.

A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria “Mycobacterium tuberculosis”, também conhecida como “Bacilo de Koch”. A enfermidade afeta prioritariamente os pulmões, mas também pode acometer outros órgãos e sistemas, tais como os rins, ovário e ossos.

Apesar de ser uma doença antiga, a tuberculose continua sendo um problema de saúde pública relevante, de acordo com a infectologista Silvia Nunes Szente Fonseca. Em todo o mundo, cerca de 10 milhões de pessoas adoecem pela enfermidade anualmente. Na escala global, a doença é responsável por mais de um milhão de mortes todos os anos. Segundo o Governo Federal, no Brasil são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da enfermidade.

Em Uberlândia, 17 pessoas morreram por tuberculose nos últimos três anos e meio. Entre 2019 e 2020, foram duas vítimas da enfermidade. Em 2021, o município totalizou 12 óbitos por conta da bactéria e o número de fatalidades em 2022 chegou a três até a última semana.

“A tuberculose, antes da covid-19, era a causa infecciosa que mais levava a óbito. É uma doença que mata mais do que a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS) e está espalhada em todo o mundo. No Brasil, todos nós estamos expostos à doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1/4 da população abriga a tuberculose”, disse.

Conforme a infectologista ouvida pelo Diário, a doença ficou conhecida mundialmente no século XIX, no período da Revolução Industrial. A especialista aponta que a enfermidade era chamada de “peste branca”, já que foi a principal causa de mortalidade no momento da urbanização em massa nos grandes centros europeus. “É uma bactéria que vem acompanhando a humanidade há séculos e que depende muito das condições de imunidade da pessoa”.

Ainda de acordo com a médica, a tuberculose geralmente acomete pessoas com maiores índices de desnutrição e fome. Dessa maneira, um paciente contaminado com o vírus HIV tem chances de desenvolver uma forma mais grave da doença. O mesmo é válido para a população prisional, usuários de droga, moradores de rua, crianças e indígenas, na visão da infectologista.

“Infelizmente, temos muitas pessoas que vivem mal, comem mal e dormem mal. No Brasil, nós somos expostos à doença quando pegamos o transporte público. A maioria das pessoas adquire imunidade pela alimentação e bons hábitos. As pessoas que vão envelhecendo acabam adquirindo doenças como a diabetes, artrite, e é aí que uma doença com a tuberculose tem uma chance”, comentou.

SINTOMAS E TRANSMISSÃO
A transmissão da tuberculose pulmonar ou laríngea ocorre de pessoa a pessoa pela via respiratória, quando um indivíduo com tuberculose elimina bactérias pela tosse, espirro ou fala, e essas são inaladas por um indivíduo saudável. Quanto maior a intensidade e a frequência da tosse, maior é o tempo de permanência do indivíduo com a enfermidade e de transmiti-la aos seus contatos (pessoas que vivem no mesmo domicílio, que trabalham ou dividem o mesmo ambiente). Além disso, quanto menor a ventilação do local, maior a probabilidade de infecção.

De acordo com a infectologista Silvia Nunes Szente Fonseca, o principal sintoma da doença é a tosse, que pode vir acompanhada de febre ao final da tarde, suor noturno e emagrecimento. Recomenda-se que todas as pessoas com tosse de duração de três ou mais semanas sejam investigadas para a tuberculose. Para isso, deve-se procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua residência.

O diagnóstico da tuberculose é realizado pela avaliação clínica do paciente, por exames bacteriológicos e exames complementares, como o raio X do tórax. “A tuberculose é um problemão. As pessoas precisam saber que se estiverem tossindo há mais de três semanas, com febre vespertina e febre de peso, é necessário procurar o médico imediatamente”, disse.

De acordo com a médica, a rede de saúde oferece um tratamento eficaz contra a doença nos dias atuais. Segundo o Ministério da Saúde, são utilizados quatro remédios para o tratamento dos casos da doença, utilizando a rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol.

“O tratamento é eficaz, mas pode ser um pouco longo. Nas primeiras semanas, o paciente já se sente melhor. Ele faz o uso dos comprimidos e com alguns dias ele para de transmitir a doença para o outro”, informou Silvia. 

Ainda segundo a médica, é importante lembrar que o tratamento irregular pode complicar a doença.

IMUNIZAÇÃO
A tuberculose pode ser controlada pela vacina BCG, de acordo com Silvia Nunes Szente Fonseca. Entretanto, a médica alerta que a imunização não oferece eficácia de 100% na prevenção da tuberculose pulmonar, mas sua aplicação em massa permite a prevenção de formas graves da doença.

Apesar de ser oferecida gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SMS), a imunização em massa da população tem sofrido queda na adesão. Em Uberlândia, por exemplo, o imunizante havia atingido apenas 63% do público alvo na cidade até 27 de maio, data da última atualização do Programa Nacional de Imunização (PNI).

Segundo a médica, a BCG é recomendada em dose única para recém-nascidos, mas também pode ser administrada em crianças com menos de cinco anos. “Esse público pode tomar uma dose da vacina. No Brasil, geralmente faz a dose no primeiro mês de vida. Não temos uma vacina que previne a doença, mas quem toma fica protegido da forma grave”, ressaltou a infectologista.

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