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11/06/2022 às 08h30min - Atualizada em 11/06/2022 às 08h30min

​André Janones, pré-candidato à presidente, diz que ponto de partida é pacificar o país

De passagem pelo Triângulo Mineiro neste sábado (11), atual deputado federal falou com exclusividade ao Diário

DHIEGO BORGES e SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Advogado foi eleito em 2018 com 178.660 votos I Foto: DIVULGAÇÃO
Do primeiro emprego como cobrador de ônibus a advogado, deputado federal e presidente da República. Essa é a história que o mineiro de Ituiutaba (MG), André Janones (Avante), almeja conseguir contar ainda em 2022. Aos 38 anos, o pré-candidato ao cargo mais alto do Executivo diz que quer, antes de tudo, “pacificar” o país e acabar com a polarização política.
 
Eleito em 2018 com 178.660 votos, sendo o terceiro deputado federal mais bem votado em Minas Gerais, Janones ganhou visibilidade durante a greve dos caminhoneiros, em 2018, quando assumiu a bandeira dos trabalhadores que pararam por dez dias contra o aumento no preço do óleo diesel.
 
A popularidade garantiu a ele a alavancada necessária na corrida à Câmara dos Deputados. Utilizando da plataforma digital como ferramenta de campanha, ficou popular nas redes sociais. Atualmente, conta com 7,9 milhões de seguidores no Facebook, 2 milhões no Instagram e seu canal no Youtube possui 1,39 milhões de inscritos.
 
De passagem pelo Triângulo Mineiro neste sábado (11), Janones, que cumpre agenda em Araguari (MG), conversou com o Diário de Uberlândia e comentou sobre o cenário político atual, sua candidatura e como pretende vencer a “polarização” para chegar ao almejado cargo de presidente da República.


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DIÁRIO: Fale um pouco sobre sua história, o jovem cobrador de ônibus de Ituiutaba que virou advogado, deputado federal e, agora, pré-candidato à presidência da República.
 
ANDRÉ JANONES: Minha história já é bem conhecida. Sobretudo nesse momento em que a pré-campanha está na rua e aumentou o interesse por conhecer minha história. E é essa que você resumiu na pergunta. Mas, isso não é algo que aconteceu em um estalar de dedos nesses meus 38 anos de vida. Foram anos de muito esforço e também de oportunidades pelas quais sou muito grato e que vendo a minha própria história sei que muitos brasileiros poderiam construir histórias diferentes daquelas às quais muitos estão condenados. Como o acesso a bolsas de estudo que tive na faculdade, ter acesso a um ensino gratuito. Isso tudo foi que possibilitou o filho da doméstica com um cadeirante, do interior de Minas, estar hoje na Câmara atuando pra garantir esses caminhos para o brasileiro. Foi isso que chegou ao Janones e que formou um advogado que por anos lutou pelo direito à saúde de muitos conterrâneos meus. Mas, alguns desses direitos ainda são vistos como assistencialismo, como populismo, infelizmente. Mas dêem o nome que quiserem. Somos um país com um enorme abismo social e, sem esse apoio, muitas pessoas simplesmente não teriam por onde começar. Onde eu estaria hoje sem aquele ensino público gratuito das escolas Israel Pinheiro e Clóvis Salgado de Ituiutaba? Não há talento e mérito pessoal que tire de um lugar pobre, alguém pobre, com gerações de pobreza. A minha história e a de muitas pessoas que hoje conseguiram superar essas dificuldades, pode ver, contaram com uma ONG, um plano de governo, uma assistência da Igreja, da vizinhança, de um benfeitor. Alguém que chegou ou viabilizou essa mudança. Trouxe uma oportunidade. Eu como político, deputado, assumi pra mim essa missão de lutar por quem, como eu, encontrou oportunidades. Não é sobre dar o peixe ou ensinar a pescar. É sobre dar o peixe e ensinar a pescar. Pra sairmos dessa inércia em que estamos. Então eu sou esse político que você resumiu bem na pergunta, mas que encontrou a oportunidade, a graça, a sorte, não me atenho a rótulos. Seja como chamar, foi algo que me tirou de uma situação a qual estava condenado e me colocou em uma melhor de ajudar outros a trilharem caminhos diferentes.
 
DIÁRIO: Como o senhor avalia o cenário político atual com essa polarização entre direita e esquerda? Dentro dessa polarização, existe um caminho, um espaço para o crescimento de uma “terceira via” no país?
 
ANDRÉ JANONES: Essa polarização já deu o que tinha de dar. E como toda polarização, não deu nenhum fruto que preste. Temos uma sociedade dividida. Isso sai dos noticiários, passa pelas salas das universidades, pelas redes sociais e entra até nas famílias. Fala-se tanto de proteger a família brasileira, mas olha o que essa polarização fez dentro dos nossos lares. Não tem um momento da nossa história que a polarização produziu algo positivo. Foi assim na queda da Monarquia, no fim da política do café com leite e em 64. Todo mundo precisa criar um inimigo para se mostrar como solução. E não digo que em cada momento histórico desses não tínhamos algo a melhorar e uma crise a resolver. Mas, abdicamos do diálogo pela polarização e pelos golpes. Os candidatos que hoje representam a direita e a esquerda são os líderes nas pesquisas, mas também os líderes em rejeição. Como você explica isso? Estamos dizendo que qualquer um que ganhar vai governar com mais da metade dos brasileiros torcendo contra. Então, há um enorme espaço para a terceira via, uma quarta, uma quinta se preferir. É preciso que o eleitor abandone o espírito de torcida e pense em gestão, em diálogo, em governabilidade. Porque com esses dois extremos que temos, todos já sabem o que sobra pra conseguir governabilidade depois. Um acórdão com o Centrão que desmente tudo que eles gritam nos palanques.
 
DIÁRIO: Qual a estratégia que o senhor pretende adotar para atacar essas duas lideranças políticas e tentar captar votos de eleitores insatisfeitos tanto com Lula quanto com Bolsonaro?
 
ANDRÉ JANONES: Sendo o ponto de equilíbrio. A minha candidatura é a única que você pode enxergar em primeiro de janeiro de 2023 se reunindo com a esquerda e com a direita para traçar ações de fato que nos levem adiante. Os demais concorrentes ao cargo principal da República se orgulham de dizer que não concordam com os demais. De atacarem as crenças alheias. Eu, ao contrário, coloco que se tivermos pontos de concordância eu sou muito favorável a implementarmos eles juntos. Que aquilo que não concordo, precisamos discutir. E isso não é falta de um plano. Esse é o plano para destravar o governo. Veja no retrospecto. Enquanto se discutiu kit gay, mais armas ou não, se batia boca com artista, se ex-ministro era traidor ou não, se a terra é plana, se vacina cura, o que melhorou na alimentação do brasileiro? O que melhorou na educação? Nossas florestas que valem ouro com créditos de carbono, renderam quanto? Quanto caminhamos para a nova economia? Ou vamos ser sempre o exportador de commodities? Então, minha estratégia de ataque a Lula e Bolsonaro é muito simples. Eu estou aqui no meio convidando o eleitor a levantar a bandeira branca e reconstruir a terra arrasada que esses dois deixaram fomentando a polarização.
 
DIÁRIO: O senhor é natural de Ituiutaba. Acredita que possa se repetir o chamado “Efeito Zema”, que em 2018 recebeu grande parte dos votos aqui na região?
 
ANDRÉ JANONES: Sem dúvida. E não é um efeito Zema. É o efeito Bolsonaro. É o efeito Janones. Foi o efeito Pimentel um dia. Todo mundo se coloca como especialista desse jogo e esquece que lá na ponta estamos falando de gente. Gente que muda de ideia com base na comida no prato, na dívida no cartão, numa entrevista ruim de um candidato. Gente que quer sim um presidente de um partido, mas vota no governador de outro porque este é conhecido, confiável, já fez entregas importante pra comunidade. Isso não é de hoje. Veja o ciclo do PSDB em Minas. Um dia o PT virou o jogo. Não foi bem. Todo mundo esperava pelo histórico que o eleitor voltaria ao PSDB. Mas, tinha um Zema no caminho. Alguma surpresa? Não! Aconteceu lá na eleição do Collor. Muitos apostavam em Ulisses por causa da redemocratização, da Constituinte. Então, não é algo que me surpreenderia. O eleitor é soberano. E são milhões de cabeças que ali na hora de votar escolhem o que preferem. E se agora tivermos o “efeito Janones”, vamos ter oportunidade de fazer mudanças porque esse efeito foi gerado pelo eleitor e não por um analista político.
 
DIÁRIO: O senhor ganhou notoriedade, principalmente, durante a greve dos caminhoneiros, em 2018, onde ficou bastante conhecido defendendo os direitos dos motoristas, o que alavancou sua candidatura, sendo o terceiro candidato mais bem votado em Minas. Sua plataforma principal foram as redes sociais. É a estratégia para esse ano?
 
ANDRÉ JANONES: A greve dos caminhoneiros realmente foi um ponto de projeção que eu tive. Ali eu ganhei notoriedade. Mas, meu papel na sociedade é bem anterior a isso. Como advogado, em Ituiutaba, com fila de gente no meu escritório procurando ajuda para questões que eram de vida ou morte mesmo. Procurando atendimento em saúde que eram urgentes. As redes sociais são um meio no qual eu estou desde sempre. São, sem dúvida, canais importantes em que todos devem estar. Mas, elas são pra mim muito mais que projeção. Muitos só olham esse aspecto. Pra mim elas são o canal de conexão com o público. Se for responder sua pergunta muito objetivamente, a resposta é que sim, a estratégia da campanha é a conexão com o público. Mas, numa eleição majoritária há muitos outros canais. A imprensa. Os debates. As conversas com lideranças. Nossa estratégia é levar para esses espaços aquilo que eu tenho nas redes sociais. Diálogo.
 
DIÁRIO: O senhor já teria uma reeleição praticamente garantida para deputado e seria um nome forte para senador. Por que essa candidatura à presidente?
 
ANDRÉ JANONES: Porque eu percebo que estou preparado. Que minha forma de ver as coisas é o que o Brasil precisa agora. Que exatamente por não ter amarras ideológicas e ter encontrado no Avante esse espaço, que eu posso contribuir no Executivo pacificando o país. O mandato de deputado me orgulha muito. Eu não vejo disputando nem o Senado e nem o Governo de Minas. Onde meu perfil de atuação é mais necessário neste momento é na Presidência. É lá de onde está saindo a ruptura. Eu não vejo o papel de um homem público como uma carreira em que você tem de disputar tal cargo porque ali está garantido. Isso faz sentido para quem pensa a política como uma carreira. Meu papel público eu exerci como advogado em Ituiutaba, exerci publicamente na greve dos caminhoneiros sem cargo algum, exerço na Câmara e quero levar essa missão para o Planalto.
 
DIÁRIO: Houve conversas com outros pré-candidatos sobre retirada da disputa e apoio a outras candidaturas?
 
ANDRÉ JANONES: Não posso negar que sim. Houve e há o assédio pelo resultado que temos nas pesquisas. Mas, esse é um assunto que é gerido pelo Avante. Eu me coloquei com um propósito de formarmos um governo que pacifique o país. Tive do partido o convite, o apoio e sobretudo a liberdade para essa candidatura. Ela existe e está se estruturando para ir pra rua. 
 
DIÁRIO: Como o senhor enxerga a retomada do desenvolvimento caso seja eleito?
 
ANDRÉ JANONES: Como já falei, o ponto de partida é a pacificação desse país. A pacificação do brasileiro. Isso por si só já é algo extremamente positivo para o mercado. Que vai poder ir dormir sem temer que amanhã seu presidente vai pronunciar algo que fará as ações da bolsa despencarem. Ou que soltará um tuíte que causará uma enorme crise diplomática com a China. Isso por si só já é uma ótima atitude para que aqueles que empreendem saber onde estão pisando. Mas, afora dessas cortinas de fumaça que prejudicam a governabilidade e o desenvolvimento, comigo vamos focar na diminuição das desigualdades sociais. Não teremos um ministério sequer que sua atuação não seja nesse sentido. E isso significa mais consumidores, menos crises, mais esforço coordenado da União. A economia não é inimiga do social. Não temos de escolher entre uma e outra como nos fizeram acreditar que a saúde era inimiga da economia. Quanto mais empregos, mais renda, mais negócios, menos desiguais seremos.
 
DIÁRIO: Quais seriam suas medidas nos 100 primeiros dias de governo, caso o senhor seja eleito?
 
ANDRÉ JANONES: Em primeiríssimo lugar será a pacificação da relação entre os poderes. Nós temos um sistema formado por três poderes. Mas, aqui o Executivo legisla por medida provisória, o Legislativo julga em CPIs cinematográficas e sem efeito e o Judiciário manda fazer. Isso gera reflexos lá na ponta. Lá na casa do cidadão que discutiu, discutiu, mas nada aconteceu. Vamos atuar massivamente para promover essa pacificação. Pois dela virão as reformas que precisamos, a destinação dos recursos para onde realmente precisam ir e a construção de novas prioridades.  Uma segunda frente é colocar a máquina pra funcionar onde deve funcionar. Pois o que temos hoje é toda estrutura de Estado focada em ideologia e não em suas entregas. Chegamos a politizar a Funai e o Ibama. Isso vai acabar.

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