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16/06/2022 às 11h00min - Atualizada em 16/06/2022 às 11h00min

Alta no preço das embalagens afeta faturamento de comerciantes em Uberlândia

Dona de confeitaria chegou a pagar 20% mais caro no plástico, papel e papelão

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Além de armazenar devidamente o produto, embalagem chama a atenção do consumidor | Foto: Ateliê Brigadeira/Divulgação
Nos últimos meses, diversos comerciantes de Uberlândia têm notado crescimento nos preços de embalagens. O cenário afeta diretamente o faturamento dos empresários que precisaram reduzir a margem de lucro dos estabelecimentos para continuar atendendo os clientes. Segundo o Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel e Papelão no Estado de Minas Gerais (Sinpapel), a alta dos produtos é ocasionada pelos aumentos nos custos de energia, transporte e mão de obra. 

Dona da Ateliê Brigaderia, Camila Quirino de Oliveira Terra trabalha com confeitaria há aproximadamente cinco anos. No fim de 2021, ela optou por abrir a própria loja e disse que tem percebido a alta de produtos de embalagem nos últimos sete meses, afetando o orçamento da empresa.

Por ser um estabelecimento totalmente voltado para o delivery, Camila organiza as entregas e utiliza caixas, embalagens de isopor e papel para fechar e entregar as encomendas. Segundo a empresária, o preço dos materiais subiu entre 20% e 25% desde janeiro. “Tudo o que eu comprava em janeiro hoje está mais caro. Uma embalagem para bolo custava R$ 8, hoje está R$ 9,90”, relatou.

Ainda de acordo com a confeiteira, a não utilização de embalagens não é uma opção em seu estabelecimento, muito pelo contrário. Durante relato à reportagem, ela disse que uma embalagem bonita e bem-feita costuma chamar a atenção dos clientes e agrega valor ao produto final.

“Uma embalagem boa vende os produtos por si só, então eu tenho que investir nessa parte, é um diferencial. Eu sempre procuro negociar de uma forma que vai ficar melhor para mim, mas eu sei que o cliente também sofre porque eu preciso repassar para ele. Está complicado para todo mundo, até para os fornecedores, mas temos que procurar maneiras de continuar sobrevivendo”, contou Camila.

No mês marcado por festas juninas, Camila explica que a embalagem mais utilizada será o plástico, mas isso varia dependendo da época do ano. Para garantir as vendas, ela deve investir em materiais de qualidade e que chamem a atenção do consumidor.

“O kit junino eu consigo colocar em uma sacola de plástico, mas realmente depende da época. Geralmente, eu uso muito papel e papelão, porque tem uma durabilidade boa. Esse mês vou usar o plástico, até por ter um valor mais acessível, então eu vou me adaptando. A embalagem não pode ser deixada de lado, eu tenho que me adaptar ao valor dela”, finalizou a empresária.

MARGEM DE LUCRO
Em conversa com o Diário, o empresário Moisés Mamede relatou que os aumentos ocasionados pela inflação diminuíram sua margem de lucro desde o início da pandemia. 

O proprietário da Abelinha Doces Caseiros contou que o preço das embalagens sofreu diversos reajustes nos últimos dois anos, atrapalhando o fluxo de caixa da empresa.Segundo Mamede, as embalagens de vidro, plástico e isopor tiveram aumento de 5% no início da pandemia, logo após o lockdown decretado em Uberlândia. Em 2021, houve novo reajuste de 13% e, de acordo com o empresário, a última alta foi de aproximadamente 19%, com o início da guerra na Ucrânia.

“Todas as embalagens aumentaram na mesma proporção. Um vidro de doce com tampa custava R$ 1,50 antes da pandemia e hoje está R$ 2,95. Eu não consigo repassar o preço todo para o cliente e tive que diminuir a margem de lucro. Isso reflete muito na questão de expansão dos negócios. Eu fiquei mais restrito para fazer investimentos e gerar empregos”, disse.

Moisés Mamede relatou ainda que o volume de vendas na loja caiu desde a chegada da covid-19, mas o aumento dos preços fez com que o faturamento mensal permanecesse o mesmo. “As pessoas perderam o poder de compra. A classe mais pobre não consegue consumir produtos supérfluos. O doce não é um produto essencial, e isso impacta o consumo”.

Em um ano marcado por eleições presidenciais e um cenário imprevisível, o empresário espera por dias melhores e afirmou que o momento ainda é de precaução. “Agora é hora de tentar manter o negócio até o início de 2023. Vamos ver se esse conflito acaba e se a sombra da pandemia vai embora. Precisamos conviver o resto da vida com essa doença e sempre com muito cuidado. Os consumidores e comerciantes têm sofrido muito nos últimos anos”, relatou.

QUEDA NA OFERTA
Na visão do presidente da Sinpapel, Antônio Eduardo Baggio, o encarecimento das embalagens é reflexo da pandemia de covid-19. Ele contou que, com a chegada do coronavírus, a engrenagem de produção foi desarticulada devido às restrições de circulação existentes em diversos países do mundo, além da escalada global do dólar.

De acordo com Baggio, o preço da moeda americana fez com que exportadores brasileiros passassem a mandar produtos para fora do país, o que diminuiu a oferta nacional e ocasionou o aumento do valor do produto. 

Questionado sobre a guerra na Ucrânia, o presidente do sindicato afirmou que o impacto não é tão relevante como se imagina para o setor de embalagens. Segundo ele, o Brasil tem interdependência com relação aos mercados europeus e o reflexo é indireto.

“O que aconteceu é que a Rússia deixou de oferecer produtos para alguns clientes na Europa e nos Estados Unidos, por causa do boicote e das sanções. Houve maior demanda por materiais de embalagens no Brasil e isso esquentou um pouco esse mercado”, relatou Antônio.

Ainda de acordo com Antônio Eduardo Baggio, o petróleo, assim como a guerra entre ucranianos e russos, tem pouca influência no preço final das embalagens no Brasil. Ele explica que o setor não depende do combustível para produzir materiais, sendo útil apenas no transporte dos produtos.

Com o recuo do dólar desde maio, atingindo até mesmo R$ 4,75, o mercado de embalagens deve normalizar nos próximos meses, afirmou Baggio. “Eu acredito que o preço das embalagens está no limite. Nós tivemos um grande impacto no custo de produção nas empresas e na mão de obra, e tem também a questão do transporte e da alta dos combustíveis que impactou na produção do papel. Imagino que vai haver um equilíbrio com o recuo do dólar e teremos uma pequena queda no preço das embalagens”, disse.

Para o restante de 2022, o presidente da Sindpel acredita em um crescimento do mercado de embalagens entre 2,5% e 3,5%. “Novos fabricantes estão entrando no mercado e novos tipos de consumo surgiram durante a pandemia. A economia está voltando aos eixos e o nosso setor sempre teve um crescimento em torno disso anualmente. A economia como um todo está voltando”, contou Baggio.


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