Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
02/06/2022 às 08h40min - Atualizada em 02/06/2022 às 08h40min

Uberlândia apresenta queda na cobertura vacinal de pelo menos 10 doenças

Taxa de imunização abaixo do ideal coloca saúde da população em risco, segundo especialista

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Vacinas da BCG, poliomielite, pentavalente e tríplice viral estão longe do índice recomendado pelo Ministério da Saúde I Foto: Danilo Henriques/Secom/PMU

Historicamente, o Brasil sempre foi destaque quando o assunto é cobertura vacinal. Apesar de oferecer uma série de imunizantes gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a imunização em massa da população tem sofrido queda na adesão. O cenário não é diferente em Uberlândia. O Município está com taxas abaixo do ideal em pelo menos 10 doenças, no balanço de 2021, e está ainda mais longe de alcança-las em 2022.
 
De acordo com dados do Programa Nacional de Imunização (PNI), a vacina BCG havia atingido 63% do público-alvo na cidade até o dia 27 de maio, data da última atualização do programa. Os números alcançados em 2020 e 2021 foram de 78% e 75%, respectivamente. O imunizante protege contra a tuberculose e pode ser aplicado em crianças de até quatro anos de idade.
 
A vacina tríplice viral, que protege contra os vírus do sarampo, caxumba e rubéola também apresentou queda drástica nos últimos dois anos. A primeira dose teve cobertura de 92% em 2020 e 75% em 2021. Atualmente, a vacina tem índice de apenas 32% em Uberlândia. A cobertura da segunda dose é ainda menor, com 30% em 2022.
 
O imunizante pentavalente também está com situação crítica no município. Há dois anos, a taxa de imunização atingiu 96% do público-alvo, número que caiu para 75% em 2021. Até a última semana, a aplicação havia ocorrido em 28% do público. A vacina protege contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e a bactéria “haemophilus influenza”, responsável por infecções no nariz, meninge e garganta.
 
O caso mais grave na cidade de Uberlândia diz respeito à vacina da poliomielite, que causa paralisia infantil. A dose para crianças com menos de um ano atingiu índice de 90% de cobertura em 2020 e 75% em 2021. Em 2022, a taxa registrada pelo PNI é de 28%. A dose atenuada VOP tem cobertura de 27% no ano.
 
Segundo o professor doutor em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Elias José de Oliveira, os índices estão longe do ideal, já que a taxa preconizada pelo Ministério da Saúde é de 95% para a maioria das enfermidades. Na visão do especialista, a pandemia da covid-19 tem forte influência na queda da cobertura vacinal na cidade.
 
“A pandemia trouxe o fator de mobilização do ‘ficar em casa’ e do isolamento social. Isso contribuiu muito para a não procura das vacinas. Além disso, as unidades de saúde ficaram associadas como um foco de pessoas doentes com a covid, e isso trouxe uma preocupação da exposição ao vírus”, explicou.
 
ERRADICAÇÃO DE DOENÇAS
Em conversa com a reportagem, Oliveira relembrou que o Brasil erradicou o sarampo graças à vacinação em massa. Entretanto, o país voltou a registrar casos entre 2018 e 2021, tendo até mesmo óbitos em decorrência da enfermidade. O mais grave, para ele, é que a doença é evitável com a imunização pela vacina tríplice viral, oferecida gratuitamente pelo SUS.
 
“Isso é algo que me preocupa muito. O Brasil foi exemplo para o mundo entre as décadas de 70 e 90 na erradicação de doenças. Os nossos índices de vacinação chegavam acima de 95% da população. Falar de rubéola, caxumba e principalmente sarampo é falar de doenças que eram comuns há 60 anos. Doenças essas que trouxeram graves problemas de saúde, como esterilidade, surdez, deficiências e lesões incuráveis”, detalhou o professor.
 
Outro fator que preocupa o especialista são as fake news e o aumento de movimentos anti-vacina pelo mundo. Segundo ele, várias pessoas têm deixado de receber imunizantes ou de levarem os filhos às unidades de saúde após receberem mensagens em redes sociais com informações inverídicas.
 
De acordo com o doutor em imunologia, a vacina estimula o organismo a produzir anticorpos contra agentes infecciosos e o seu não recebimento deixa as pessoas vulneráveis contra as mais variadas infecções. Dessa maneira, a população pode ter um surto a qualquer momento, quando a simples imunização resolveria esse problema. Em sua visão, o futuro é nebuloso e é difícil prever o que pode acontecer em um curto-prazo.
 
“Se eu tenho um filho, vou querer que ele use muleta? Vou querer que ele não me traga um neto, ou que ele fique surdo? Essa é a pergunta que eu faço para os pais que não querem levar os filhos para vacinarem. A vacina protege a pessoa ao estimular o corpo a combater infecções e protegendo-a de complicações. Nós estamos no século XXI e ainda estamos combatendo infecções do século XVIII”, disse.
 

• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram

INFLUENZA
Na segunda-feira (30), a Prefeitura de Uberlândia alertou sobre a baixa adesão às campanhas de vacinação de vacinação contra o sarampo e influenza. Até o fechamento desta reportagem, haviam sido aplicadas 68 mil doses da vacina contra a gripe e 16,1 mil contra o sarampo. A procura, segundo o Município, está abaixo do ideal.
 
Em relação à vacinação contra o vírus Influenza, são 40 mil crianças e 60 mil adultos que ainda estão desprotegidos. Contra o sarampo, ainda faltam 48 mil crianças e 18.500 profissionais de saúde.
 
“Quando a gente olha para a vacinação contra a Influenza, temos apenas 15% das crianças vacinadas e 43% dos idosos. No sarampo não é diferente, porque a meta dos dois grupos que devem tomar está na média dos 25%. É uma adesão muito baixa em comparação com os anos anteriores e isso preocupa. Estamos falando de doenças que tem complicações graves e podem levar ao óbito”, disse a coordenadora do Programa de Imunização, Claubia Oliveira.
 
A vacina da gripe contempla os idosos (pessoas com 60 anos ou mais), forças armadas, motoristas, profissionais da educação da rede pública e particular, gestantes e puérperas, pessoas com comorbidades e deficiência e trabalhadores de saúde, que neste ano devem tomar também a vacina contra o sarampo juntamente com as crianças de 6 meses a menores de 5 anos de idade (4 anos, 11 meses e 29 dias).
 
Em Uberlândia, a vacinação ocorre em todas nas salas de imunização até sexta-feira (3). Nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) será das 8h às 18h. Já nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSFs) será das 7h30 às 16h30. Nas salas de vacina das Unidades de Atendimento Integrados (UAIs) o atendimento acontecerá das 8h às 20h. Para atender melhor os trabalhadores, haverá horário estendido das 8h às 20h também nas UBSs Brasil e Tocantins.



VEJA TAMBÉM:

Em um dia, Uberlândia registra 374 casos de covid-19


Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90