08/05/2022 às 13h00min - Atualizada em 08/05/2022 às 13h00min
ONG em Uberlândia pede apoio para auxiliar imigrantes e refugiados
Instituição tem recebido cidadãos que fogem da guerra; engenheira conta desafios vivenciados por familiares na Ucrânia
SÍLVIO AZEVEDO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Ucraniana conseguiu tirar a mãe de Kiev dias antes do início da guerra I Foto: ARQUIVO PESSOAL Uberlândia tem se tornado um berço de acolhimento de refugiados e imigrantes. Conforme mostrou o Diário em reportagem recente, a cidade abriga mais de quatro mil cidadãos estrangeiros que contam com o apoio de voluntários para se adaptar. O trabalho solidário é desenvolvido, entre outras instituições, pela ONG Refugiados Udi, que atende 800 famílias de diversas nacionalidades, entre elas grupos de ucranianos que fogem da guerra. A demanda é crescente e o apoio da população tem sido cada vez mais necessário para manter as atividades.
A organização não governamental foi criada em 2020 para prestar apoio a famílias que se instalam em Uberlândia. Há aproximadamente um mês, a instituição acolheu duas famílias ucranianas que vieram em busca de refúgio por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia. A chegada dos grupos se deu através da Organização Não Governamental (ONG) Casa dos Imigrantes, de São Paulo, que os encaminhou para a Refugiados Udi, com apoio da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
De acordo com a coordenadora da Refugiados Udi, Clelia Zachi, as famílias fugiram de Kiev e foram auxiliadas pela instituição. A pedido, ambas não estão concedendo entrevistas e nem querem ser expostos. “A adaptação é igual a de outros. Estavam assustados e tristes. Temos que saber lhe dar com cada um. Quando chegam, estão em uma situação dificuldade. Temos dois psicólogos que acolhem os refugiados e que eles possam entender que a vida continua e devem recomeçar”, afirmou a coordenadora.
Ainda de acordo com a responsável pela ONG, as famílias tinham uma situação financeira estável na Ucrânia, mas perderam tudo com a guerra. “Eles tinham uma situação financeira bem boa, pelo menos um deles era administrador de duas empresas. Bombardearam uma empresa e depois a outra, e ele perdeu tudo. Eles ficam mais assim por isso. Muito forte a pessoa perder tudo”, contou.
A coordenadora relatou que as famílias ainda não se conformaram com a situação e que pensam ainda estar dentro de um pesadelo. “Eles falam que ainda não acordaram dessa guerra. Acham que está sendo um sonho, mas que vai passar. Se acreditarem que está sendo real, podem não suportar. Por isso preferem pensar que estão sonhando”.
As duas famílias chegaram ao país por intermédio de amigos que estão no país há mais tempo. Em São Paulo, os conhecidos organizaram os trâmites para a fuga para o Brasil. “Se não fosse por eles, não conseguiriam vir tão rápido. Saíram de Kiev para a Polônia e depois para o Brasil. Assim que tudo começou esperaram para ver se cessavam, mas como não diminuiu saíram. Mas saíram antes do tumulto, de muita gente nas estradas”, contou Clélia.
Para continuar o trabalho com os refugiados, a instituição pede apoio da população. “Necessitamos do básico de alimentação, roupa. Chegam sem nada, só com a mochila nas costas. É uma regra e não tem como trazer. São itens para moradia, mobília, roupa, alimentos. Temos famílias venezuelanas, haitianos, Bangladesh, síria, Paquistão, Ucrânia, Afeganistão e algumas de países que estão em estado de refúgio da África”.
Os interessados em contribuir podem procurar a ONG no endereço Rua Atenas, 591, no bairro Tibery, ou pelo telefone (34) 9 9906-0326. A instituição também aceita doações em dinheiro por meio da chave PIX: 40044171000137.
FUGINDO DO CONFLITO
A ofensiva militar teve início em 24 de fevereiro, data em que a Rússia lançava uma ofensiva militar contra a vizinha Ucrânia. Os rumores de um ataque se confirmaram e já perduram por 70 dias. Três dias antes, diante da possibilidade de uma invasão russa, a engenheira ucraniana Oksana Kovalenko, que mora no Brasil há 10 anos, conseguiu trazer a mãe, que morava na região da capital Kiev.
“Sou ucraniana, cheguei com 23 anos no Brasil e moro há 10 anos, mas a minha vida toda está na Ucrânia. Tenho família, parentes, amigos que estão lá sofrendo com tudo isso. Consegui tirar minha mãe dois dias antes da guerra começar. Tirei dia 21 e a guerra começou dia 24. Outros parentes conseguiram nos primeiros 10 dias de conflito. Minha irmã e minha cunhada, com crianças e tios conseguiram ir para outros países da Europa. Minha irmã e minha cunhada estão na Bulgária e meus tios retornaram para Kiev, que está menos perigosa”, contou.
Atualmente morando em Paracatu, Oksana desembarcou em Uberlândia onde concluiu mestrado e doutorado em engenharia mecânica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ela casou-se com um brasileiro. Mesmo a distância não impede a engenheira de pensar e ajudar os compatriotas que estão passando por situações complicadas por causa da guerra.
“De fato, desde o início da guerra estou aqui, mas vivendo lá. Diariamente acompanho as notícias e me comunicando com minha família, amigos, como estão passando, a situação de cada um. Tentamos ajudar cada um. Nos primeiros dias, anunciamos uma vaquinha para ajudar a uma família para se deslocar de Ucrânia para Portugal, onde uma organização do todo apoio aos ucranianos. Ajudamos com transporte e logística. Era uma mãe e um filho de seis anos com autismo”, relatou ao Diário.
No início, era preciso ficar até de madrugada à espera de notícias de familiares e amigos que tentavam fugir do combate. “Não conseguimos viver a vida normal. Vivemos com muita preocupação. Nas primeiras semanas nem dormíamos. Íamos dormir umas 3h da madrugada, porque era início da manhã lá e, como os bombardeios eram de noite, de manhã começaram os contatos com amigos e familiares para saber se estavam todos vivos”, disse. • Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
VEJA TAMBÉM: