ONG em Uberlândia atendeu 1.931 pessoas entre fevereiro e dezembro de 2021 I Foto: GETTY IMAGES
Um cruzamento de dados do aplicativo “Salve Maria”, da Casa da Mulher e da Secretaria Municipal de Saúde revelou que, desde março de 2019, 858 notificações de violência doméstica foram atendidas em Uberlândia. Do total, 84% dos casos são reincidentes, ou seja, quando o crime aconteceu mais de uma vez com a mesma vítima.
Ainda de acordo com o levantamento feito pelo Município, os tipos de violência mais notificados são: física (48%), psicológica (34%), moral (8%), sexual (5%) e patrimonial (5%). Além disso, os bairros com mais registros do crime são: São Jorge (5,8%), Jardim Canaã (3,8%), Morumbi (3,6%), Shopping Park (3,1%) e Luizote de Freitas (3,1%).
MAIS RESULTADOS DO LEVANTAMENTO:
Classificação das vítimas por cor ou raça:
Ocorrência por dias de semana:
De acordo com Ludmila Carneiro, delegada da Polícia Civil, o número de casos de violência contra a mulher deve ser ainda maior, uma vez que a corporação acredita na subnotificação de denúncias. Por outro lado, a militar afirmou que o fato de a pauta da violência doméstica estar cada vez mais em evidência pode mudar a realidade vivida por milhares de mulheres não só em Uberlândia, mas em todo o Brasil.
“A violência doméstica tem sido cada vez mais discutida, é algo que não sai do radar. Nós percebemos que a quantidade de denúncias tem sido cada vez maior e isso se deve à tomada de consciência da sociedade. Temos tido um crescimento de denúncias por terceiros, seja de amigos, vizinhos ou familiares. A violência doméstica tem que ser tratada por toda a sociedade, não pode ficar apenas na intimidade do casal”, disse.
Os dados divulgados pela Prefeitura ainda revelam que dos acionamentos feitos pelo aplicativo 50% foram feitos pela própria vítima, 26% por pessoas anônimas, 14% por familiares e 10% por vizinhos. Segundo Ludmila, a legislação brasileira tem avançado em projetos que visam a obrigatoriedade de denúncia por terceiros em caso de violência contra a mulher.
“É de fundamental importância que os familiares apoiem a vítima. Precisamos reforçar essa consciência. Sabemos que em muitos casos a mulher tem várias questões familiares que podem dificultar a tomada de decisão de procurar ajuda. Por isso, as famílias precisam estar atentas, a sociedade precisa estar atenta, para termos a consciência de reforçar a convicção dessas mulheres, para que elas possam ser firmes e empoderadas, justamente para que elas possam evitar essa reincidência e romper este ciclo”, ressaltou.
APOIO À MULHER Fundada em 1997, a SOS Mulher e Família de Uberlândia tem como objetivo apoiar, orientar e encaminhar pessoas que vivenciam ou vivenciaram violência doméstica, conjugal e familiar, seja física, sexual, patrimonial, moral ou psicológica, através de atendimentos psicossociais e jurídicos.
Segundo o último levantamento feito pela instituição, a Organização não Governamental (ONG) atendeu 1.931 pessoas entre fevereiro e dezembro de 2021. Do total, 236 foram acolhidas para orientações, informações ou agendamentos para atendimentos, e 792 pessoas foram atendidas nas áreas do serviço social, psicológico e jurídico.
Para a coordenadora da instituição, Suyane Rodrigues, a reincidência de violência contra a mulher é um sinal de alerta para a sociedade. Em sua opinião, ela pode acontecer por vários motivos, incluindo dependência emocional, financeira, medo ou julgamento. Ainda segundo ela, muitas mulheres que procuram ajuda da ONG acabam voltando, uma vez que elas sofrem os impactos da violência doméstica por muito tempo.
“A reincidência significa que a mulher ainda está naquela mesma relação. Temos que entender o motivo de ela ter procurado ajuda no sentido emergencial, ter procurado a Polícia Militar (PM) ou alguma outra instituição, e o motivo de ela ainda estar passando pela mesma situação. É muito comum que algum caso violento seja estabilizado, mas que depois aconteça novamente”, explicou.
Em conversa com a reportagem, Suyane falou sobre o atendimento continuado oferecido pela SOS Mulher e Família. A pessoa que procura pela ONG possui ajuda psicológica e orientação jurídica e pode ser acompanhada por até seis meses, com a ajuda de voluntários especializados no assunto.
“A pessoa procura a ONG e o primeiro passo é ser atendida por uma assistente social. A partir daí, fazemos um mapeamento da situação e um plano de atendimento individual, onde levantamos tudo pelo qual a mulher está passando, com quem ela mora, qual é a sua realidade socioeconômica, há quanto tempo ela tem sofrido violência e o que ela acha que pode ser feito para melhorar a situação”.
Posteriormente, a coordenadora da instituição disse que a ONG oferece atendimento psicológico e consultoria jurídica. “Se ela tiver algum processo jurídico encaminhado ou se ela pretender entrar com algum processo, seja de guarda ou pensão, nós a orientamos. Nós fazemos uma assessoria e, caso seja da vontade dela, nós acompanhamos o encaminhamento e ficamos à disposição para acompanhar o processo junto dela”, relatou.
CONSCIÊNCIA Suyane falou ainda sobre o crescimento da consciência da sociedade no que diz respeito às denúncias de violência doméstica. De acordo com ela, o acesso à internet e as redes sociais auxiliam a mulher na obtenção de informações de contatos e instituições de apoio à proteção do gênero.
“As informações estão muito acessíveis hoje. É importante que a mulher entenda o que ela pode fazer e para onde ela vai. Nós podemos atendê-la por telefone ou vídeo-chamada. Não queremos que o deslocamento seja um impedimento para as mulheres que sofreram algum tipo de violência”, enfatizou a coordenadora da SOS Mulher e Família.
COMO DENUNCIAR? Os canais utilizados para realizar qualquer tipo de denúncia de violência contra mulher são:
-Polícia Militar Minas Gerais no 190
- Delegacia Virtual do Estado no site www.delegaciavirtual.sids.mg.gov.br
- Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres (DEAM): 34 3210-8304