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02/03/2022 às 14h30min - Atualizada em 02/03/2022 às 14h30min

Cobertura vacinal contra poliomielite em Uberlândia está abaixo da meta

Município tem índices entre 76% e 87%, sendo que taxa ideal é de 95%; infectologista faz alerta para evitar retorno da doença que está erradicada

IGOR MARTINS
Índices de vacinação contra a paralisia infantil em Minas sofrem queda consecutiva desde 2016 | Foto: PMU/Divulgação
Assim como acontece em todo o estado de Minas, a vacinação contra a poliomelite em Uberlândia está abaixo da meta recomendada pelo Ministério da Saúde (MS). Dados da Superintendência Regional de Saúde (SRS) apontam que, até a última semana de fevereiro, a taxa de cobertura vacinal na cidade estava em 80% para bebês menores de um ano, 76% para crianças de 15 meses de idade e 87% para menores na faixa de quatro anos. O índice considerado ideal pelo MS é de 95%.
 
Os índices ficam ainda piores quando os números englobam toda a regional de Uberlândia, composta por 18 municípios. Os dados contabilizados foram de 79,9% para menores de um ano, 73,5% para crianças de 15 meses e 77,8% para crianças de quatro anos.
 
Na última semana, o Governo de Minas fez um alerta para a baixa cobertura vacinal da paralisia infantil, que vem apresentando resultados abaixo da meta desde 2016. O último balanço estadual divulgado registrou a vacinação de 73,7% para menores de um ano, 66,3% para crianças de 15 meses e 59,6% para crianças com quatro anos.
 
A doença está erradicada no Brasil desde 1995, mas os baixos índices de cobertura estão preocupando especialistas da área de saúde. Em entrevista ao Diário, a infectologista Silvia Nunes Szente Fonseca afirmou que a baixa imunização não apenas em Uberlândia, mas em todo o estado de Minas, é algo trágico. Segundo ela, a doença está controlada na América há mais de 20 anos e isso se deu justamente pela alta eficácia e adesão à vacinação.
 
Segundo a médica, dados epidemiológicos comprovam que a doença continua sendo uma preocupação mundial, uma vez que países como Afeganistão e Paquistão ainda são regiões endêmicas da poliomielite. “Enquanto houver crianças com poliomielite, todos estão em risco. Com todas as migrações e deslocamentos humanos, a vacinação é uma das primeiras coisas afetadas”, relatou Silvia.
 
MOVIMENTO ANTIVACINA
Na visão da infectologista, o Brasil ainda é um país com baixo movimento antivacina, o que pode fazer com que os reflexos sejam menores em relação a outras nações. Especialista da área da saúde desde a década de 80, a médica conta que viu de perto o momento de erradicação da paralisia infantil em solo brasileiro.
 
“Quando nós tivemos a introdução da vacina contra a poliomielite, foi uma grande descoberta. Ela rapidamente erradicou os casos. O movimento antivacina no Brasil ainda é pequeno, mas já vimos que basta ter gente desinformada e má para influenciar a população a não tomar os imunizantes”, alertou.
 
O último caso de poliomielite registrado no Brasil aconteceu em 1989, no estado da Paraíba. Segundo a infectologista ouvida pelo Diário, muitas mães sequer sabem da existência da vacina contra a enfermidade, já que há tanto tempo não se fala sobre um caso grave da doença no país.
 
“Nós temos o maior programa de imunização do mundo. Temos tantas vacinas que nem passa pela cabeça de muitas mães sobre o perigo da poliomielite. Precisamos que os postos de saúde abram nos feriados, nos finais de semana, até porque as mulheres têm entrado cada vez mais no mercado de trabalho. Aumentando a oferta, nós aumentamos também a cobertura vacinal. A vacina é a única forma de prevenção contra a paralisia infantil”, destacou a especialista.
 
EXEMPLO
A contadora Aline Lorrayne Santos Cintra não deixa sua filha Rafaela perder nenhuma vacina. Ela conta que com um ano e seis meses, a pequena já foi imunizada contra todas as doenças existentes, seguindo o Programa Nacional de Imunização (PNI).
 
“Eu acho a vacinação muito importante. Eu mesmo não sabia que tinha tantas vacinas. Tem um motivo para tantas doenças terem sido erradicadas no Brasil. Eu sempre tento estar em dia com a cobertura vacinal da minha filha”, disse.
 
A DOENÇA
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a poliomielite é uma doença contagiosa aguda causada por vírus que pode infectar crianças e adultos e em casos graves pode acarretar paralisia muscular.
 
A transmissão acontece quando as fezes infectadas entram em contato com a boca, mas em casos raros, o contágio também acontece pelo ar. O vírus da pólio se desenvolve na garganta ou no intestino e é disseminado pela corrente sanguínea. Ao chegar ao sistema nervoso, o vírus ataca neurônios e provoca a paralisia dos membros inferiores e superiores.
 
A campanha nacional de vacinação contra a poliomielite foi criada em 1980. O Ministério da Saúde adverte que uma pessoa em viagem de turismo ou negócios pode levar o vírus a outros países. Por isso, mesmo com a erradicação do poliovírus selvagem em todo o continente americano, as campanhas vacinais permanecem no Brasil, como uma medida de segurança.
 
O PNI recomenda a vacinação de crianças a partir de dois meses até menores de cinco anos de idade, como doses do esquema básico, sendo descrita sob duas formas distintas:
 
a) vacina poliomielite 1, 2, 3 (atenuada) (VOP) é apresentada sob a forma líquida em frasco multidose, sendo apresentada, geralmente, em bisnaga conta-gotas de plástico; e,
b) vacina de poliomielite VIP (aos 2 e 4 meses) e uma dose da VOP (aos 6 meses), com intervalo de 60 dias entre as doses e mínimo de 30 dias.
 
São realizadas doses de reforço com a VOP aos 15 meses e aos 4 anos de idade.
 
Cada dose da vacina corresponde a duas gotas. A vacina pode ser administrada simultaneamente com as demais vacinas dos calendários de vacinação do Ministério da Saúde.
 
Em Uberlândia, há 74 salas de vacina que realizam as ações de imunização. O atendimento acontece de segunda a sexta-feira. Nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF), o funcionamento é das 7h30 às 16h30. Já nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o atendimento acontece das 7h30 às 18h. Nas Unidades de Atendimento Integrado (UAI), o horário vai das 8h às 20h.
 
COBERTURA VACINAL DA PÓLIO NA REGIÃO:
 
UBERLÂNDIA:
Menores de 1 ano: 80,60%
15 meses: 76%
4 anos: 87,28%
 
ARAGUARI:
Menores de 1 ano: 57,47%
15 meses: 51,18%
4 anos: 50,08%
 
MONTE ALEGRE:
Menores de 1 ano: 63,18%
15 meses: 36,36%
4 anos: 42,68%
 
PATROCÍNIO:
Menores de 1 ano: 66,80%
15 meses: 57%
4 anos: 62,41%

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