08/02/2022 às 12h45min - Atualizada em 08/02/2022 às 12h45min
Com bandeira vermelha, empresários de Uberlândia chegam a pagar R$ 30 mil por mês em conta de energia
Tarifa de escassez hídrica, prevista até abril deste ano, está dificultando orçamento de empresas
GABRIELE LEÃO
A bandeira de Escassez Hídrica incide uma tarifa de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos | Foto: Agência Brasil Trinta mil reais de energia elétrica. Esse é o valor pago mensalmente por apenas um dos empresários de Uberlândia que têm passado sufoco para manter as atividades e custear a conta de luz. O encarecimento da conta é consequência da bandeira vermelha 2, ou tarifa da Escassez Hídrica, que começou em setembro de 2021 e, pelo menos até abril, deve apertar ainda mais o orçamento das empresas.
Em entrevista ao Diário, o gerente de uma loja têxtil, no Centro de Uberlândia, Cícero Feitosa, contou que a conta de energia tem atingido valores na casa dos R$ 30 mil mensais. Segundo ele, dentro desse montante, a bandeira vermelha corresponde a R$ 4 mil, ou seja uma alta de 13%, se comparado a uma cobrança sem a tarifa.
“Esse valor de tarifa poderia ser revertido na contratação de mais funcionários, por exemplo. Para tentar driblar esse valor, temos um contrato com a Cemig para evitar o gasto exagerado de energia em horários de pico, mas mesmo assim, o valor mensal pago é muito elevado. Estamos estudando outras maneiras de cortar esses gastos, como energia solar”, explicou.
O mesmo problema acontece com as três padarias que o empresário Ednaldo da Silva mantém abertas. Segundo ele, as despesas somente com a conta de luz ultrapassam os R$18 mil. O proprietário chegou a entrar em contato com a concessionária de energia elétrica para tentar diminuir o valor, mas não obteve sucesso.
“Infelizmente esse valor acaba sendo repassado para o cliente final, pois além do aumento dos insumos e impostos, uma das nossas principais fontes de produção é a energia e se o pagamento atrasa, ficamos sem atendimento ao público. Está muito difícil de manter tudo funcionando”, comentou.
Um levantamento do extrato da conta feita pelo dono das padarias apontou que o custo da bandeira vermelha somente em uma das três unidades é de R$1.360, algo em torno de 7,5% do total do custo pela energia. Assim como o gerente da loja de roupas têxtil, ele aponta que o valor poderia ser usado para a geração de empregos.
Ainda de acordo com o empresário, para sair das altas taxas, a solução foi recorrer à energia solar. “Mesmo que seja um investimento alto no início, a recompensa a longo prazo vai ser mais benéfica para o meu negócio e assim podemos garantir um melhor atendimento para o cliente final”, explicou.
AVALIAÇÃO ECONÔMICA
O economista e professor do curso de Pós-Graduação de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Fábio Terra, explicou que a cobrança da bandeira Escassez Hídrica, é nacional, ou seja, o valor é repassado para toda a população e não há possibilidade de haver uma suspenção em apenas uma região que recebe grades volumes de chuva, por exemplo.
“A bandeira de Escassez Hídrica contempla o valor de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos. Esse valor extra foi necessário para fortalecer o enfrentamento do cenário hídrico de 2021, o pior em 91 anos. Uberlândia, e todo o país, passam por um cenário de instabilidade, uma fez que ainda temos os reflexos da pandemia e quanto maior a cobrança da população, menor é o poder de compra”, disse o economista.
Fábio Terra reforçou que a medida estabelecida de setembro a abril é uma maneira encontrada para poupar água, uma vez que este é o período de seca no país. “A maioria do país usa a energia elétrica, mas nos períodos de seca, as termoelétricas são usadas como fonte principal para garantir a energia elétrica. Quanto são acionadas para atender a demanda da população, mais cara será a produção de energia. Isso se deve pelo fato de que as usinas térmicas utilizam combustíveis fósseis”, explicou.
O QUE DIZ A COMPANHIA
Por meio de nota enviada ao Diário, a Cemig esclareceu que não define quando é aplicada uma bandeira tarifária ou não, uma vez que o Brasil é conectado por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN) que é dividido em quatro subsistemas na questão de geração: o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o subsistema Sul, o subsistema Nordeste e o subsistema Norte.
De acordo com a Cemig, as usinas de Minas Gerais estão, majoritariamente, no subsistema Sudeste/Centro-Oeste que apresenta o nível de reservatório, em 6 de fevereiro de 2022, de 45,53%, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A companhia ressaltou que, como o sistema brasileiro é interligado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) leva em consideração todos os subsistemas para definir a bandeira que vai vigorar no país.
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