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06/02/2022 às 13h00min - Atualizada em 06/02/2022 às 13h00min

Pesquisadores da UFU apontam aumento da mortalidade de doenças tropicais durante a pandemia

Segundo os resultados, a taxa de mortalidade de Malária, Leishmaniose Visceral, Leptospirose e Dengue cresceu em 2020

MARIELLE MOURA
Os resultados apontaram que em 2020 a taxa de mortalidade da Malária subiu 82,55% I Foto: AGÊNCIA BRASIL
Durante os primeiros meses da pandemia da Covid-19 no Brasil foi registrado um aumento da mortalidade relacionada a doenças tropicais. O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e divulgado em janeiro deste ano. Segundo os resultados, a taxa de mortalidade de Malária, Leishmaniose Visceral, Leptospirose e Dengue aumentou em 2020 em relação aos anos anteriores.
 
O epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Stefan Vilges de Oliveira informou que o estudo mostrou que a taxa de mortalidade das doenças tropicais aumentaram no país nos oito primeiros meses de 2020. Contudo, o número de internações diminuiu.
 
“Fizemos essa pesquisa no primeiro período da pandemia. Comparado com anos pré-pandemia, observamos algumas variações importantes, principalmente a redução do número de internações por essas doenças e aumento da taxa de mortalidade por algumas delas”, disse Stefan.
 
Os resultados apontaram que em 2020 a taxa de mortalidade da Malária subiu 82,55% no país, apesar da queda de 29,3% nas internações. A Leishmaniose Visceral e a Leptospirose registraram aumento na mortalidade de 32,64% e 38,98%, respectivamente. O número de internações por essas doenças diminuiu no período, com quedas de 32,87% e 43,59%.

A pesquisa utilizou os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) durante os primeiros oito meses de 2020 e comparou com os valores médios do mesmo período dos anos de 2017 a 2019. “A fins comparativos, nós selecionamos os mesmos meses da análise do período pandêmico e comparamos com os três anos anteriores para verificar essas alterações nesses padrões", informou.

Em Minas Gerais, no ano de 2020 foram registrados 231 casos confirmados e 11 mortes por Leishmaniose Visceral Humana. Em 2021, foram contabilizados 210 casos confirmados e 23 óbitos pela doença.
 
Em relação à Leptospirose, em 2020 foram registrados 219 casos confirmados e 21 mortes em Minas. Em 2021, foram contabilizados 84 casos confirmados e 8 óbitos. Além disso, 32 casos foram confirmados de Malária em Minas Gerais em 2020 e nenhum óbito foi registrado. No ano passado foram 26 casos confirmados e também não houve registro de mortes pela doença no estado.
 
Já em relação a Dengue, o estudo apontou um aumento de 29,51% nas internações e de 14,26% na taxa de mortalidade. Em Minas, no ano passado foram registrados, segundo a Secretaria Estado de Saúde (SES), 15.393 casos  e sete pessoas morreram pela doença. Em Uberlândia, foram 1.988 casos confirmados da doença em 2020 e 701 em 2021.

EXPLICAÇÕES
De acordo com o professor, uma das hipóteses do estudo é que as doenças, por serem semelhantes à Covid-19, poderiam estar com diagnósticos tardios. “Nós selecionamos essas doenças porque inicialmente queríamos entender se existia alguma confusão de diagnóstico com a Covid-19. As doenças escolhidas, em algum momento do seu curso clínico, apresentam sintomas similares aos da Covid-19. Uma das nossas hipóteses é de que provavelmente em algum momento essas doenças fossem confundidas com a Covid-19 e tendo um diagnóstico mais tardio poderiam estar tendo desfechos desfavoráveis, como o aumento da mortalidade”, explicou.
 
Ainda de acordo com Stefan, o medo da população em procurar hospitais também pode ser a causa do aumento. “Outra justificativa foi que com o início da pandemia ocorreu também uma mensagem muito forte de que as pessoas deveriam ficar em casa e só procurar a assistência médica em casos mais graves, e, consequentemente, nós vimos as pessoas não procurando a assistência médica por medo de ser infectado e esses casos também chegaram de forma mais tardia a atenção hospitalar. Acreditamos que essa redução das internações é por esse temor dos pacientes”, afirmou.
 
Ainda segundo Stefan, os estudos continuam com o objetivo de mapear faixa etária e sexo desses pacientes, e também os estados onde a incidência de aumento foi maior. “Fizemos este estudo inicial utilizando o  Sistema de Informações Hospitalares e vamos analisar outros dados de outros sistemas”, explicou.
 
Por fim, o epidemiologista falou sobre a importância de dados mais concretos das doenças tropicais e o risco que a falta do registro pode causar no sistema de saúde. Ele também completou analisando o impacto que a pandemia teve sobre os casos. “Nós observamos que a pandemia teve um impacto importante nessas outras doenças, que são doenças endêmicas no nosso território. Por conta de uma otimização dos esforços para dar conta da pandemia, tivemos uma série de outras doenças que são menos incidentes na população que foram deixadas de lado”, completou.
 
 

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