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24/10/2021 às 13h00min - Atualizada em 24/10/2021 às 13h00min

Cirurgias de explante de silicone crescem e pacientes de Uberlândia relatam experiência

No Brasil, número de procedimentos para remoção da prótese aumentou 33%; motivos vão desde rejeição do corpo até mudança nos padrões de beleza

LORENA BARBOSA
A quantidade de cirurgias para a retirada de próteses passou de 14,6 mil para 19,4 mil em um ano | GETTY IMAGES
As cirurgias para implante de silicone continuam sendo um dos procedimentos mais realizados no Brasil. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, são feitos mais de 211 mil procedimentos por ano no país. Entretanto, um outro procedimento cirúrgico também vem crescendo. O número de explantes de silicone aumentou 33%, se comparado os anos de 2018 e 2019, quando foi feito o último levantamento. A quantidade de cirurgias para a retirada de próteses passou de 14,6 mil para 19,4 mil. Os motivos vão desde rejeição do corpo até novos padrões ou percepção de beleza.
 
A empreendedora, Ana Cláudia Dias colocou silicone há mais de 15 anos. Depois de cerca de 10 anos com a prótese, ela começou a sentir vários incômodos. Dor na mama, cansaço, sudorese excessiva, coceiras e queda de cabelo foram alguns dos sintomas. As dores eram tantas que ela não conseguia praticar exercícios. Ana Cláudia foi ao ginecologista e descobriu que ela poderia estar com a Síndrome de Asia, uma doença autoimune e inflamatória que desencadeia uma série de sintomas nas mulheres. A solução foi voltar à mesa de cirurgia e retirar a prótese.
 
“O cirurgião disse que eu poderia tentar trocar só que o problema poderia continuar porque o meu corpo já estava dando rejeição. Aí eu resolvi tirar. A retirada do silicone é muito mais complexa do que para colocar. Porque tem que tirar tudo e reconstruir a mama”, explicou a empreendedora.
 
Três meses depois da operação Ana Cláudia começou a sentir melhoras. Quase todos os sintomas sumiram. A experiência serviu para que ela pensasse a respeito da importância de avaliar bem quando se submeter a uma cirurgia plástica.
 
“Meus seios eram lindos, eu tenho muito arrependimento. Eu posso falar que foi por influência, ver todo mundo colocando. As amigas todas colocando. Foi por vaidade, mas não por necessidade”, concluiu a empreendedora.
 
A maquiadora Thamires Queirós fez o explante em janeiro deste ano. Ela contou que colocou a prótese muito jovem, aos 19 anos. Na época, a motivação também era puramente estética. Ela viu as amigas fazendo a cirurgia e quis fazer também. Thamires disse que a prótese sempre a incomodou, mas toda vez que ela procurava um médico, o profissional dizia que era normal.
 
“Eu era muito nova quando coloquei e não tinha muita noção das coisas. No momento que eu coloquei eu me senti realizada. A prótese sempre incomodou, mas eu achava que era normal. Desde que coloquei eu perdi a sensibilidade do seio”, conta Queirós.
 
Ainda segundo a maquiadora, o processo de retirada foi bem pensado e planejado. Foi  preciso ainda uma preparação na autoestima. “Eu comecei a seguir nas redes sociais várias mulheres com seios naturais, com seios pequenos. E aí cada dia mais eu fui vendo que aquela prótese não fazia parte de mim e eu não me arrependo da retirada. Eu me sinto mais confortável, eu uso até mais decotes hoje, acho mais sexy, mais elegante”, concluiu Thamires.
 
PROCEDIMENTO
O cirurgião plástico, Júlio Bonetti é representante da Associação Brasileira de Cirurgia Plástica e chefe do Serviço de Cirurgia Plástica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ele disse que realmente a procura no consultório pelo explante tem aumentado muito, mas destacou que poucos são feitos por questões de rejeição. A maioria é por uma mudança de percepção de beleza ou mal julgamento estético na hora da colocação da prótese. Ainda segundo o médico, uma mulher que faz o procedimento cirúrgico muito jovem, quando chega a uma idade mais avançada vai ter outro entendimento.
 
“Eu estou há 36 anos atuando com a cirurgia plástica e eu assisti ao longo dos anos um crescimento acentuado no tamanho de próteses que as pacientes colocavam e hoje nós estamos assistindo a uma diminuição gradativa no tamanho. A mulher que eu coloquei prótese aos 25 anos no início da minha carreira, hoje ela está com 61 e a visão dela é outra”, avaliou o cirurgião.
 
O médico explica que a colocação de prótese é uma cirurgia relativamente simples, mas é uma cirurgia. E que como qualquer procedimento cirúrgico envolve riscos e deve haver acompanhamento constante. Cabe ainda ao médico explicar todas as indicações, contra indicações e também as chances de rejeição que podem chegar em até 5%.
 
“Tem vários estudos mostrando que a prótese é de baixíssimo risco. Porém, baixíssimo não quer dizer zero. A primeira coisa a se fazer é procurar um médico de confiança, de preferência um membro da Associação Brasileira de Cirurgia Plástica. A cirurgia não termina no momento que sai do centro cirúrgico. Você vai fazer um acompanhamento por vários meses. E depois pelo menos de 2 em 2 anos”, alertou Bonetti.
 
Tanto a colocação quanto a retirada da prótese envolve anestesia, centro cirúrgico, pós-operatório, e todo o risco envolvendo esses procedimentos. De acordo com o profissional, a motivação de fazer uma cirurgia plástica deve ser bastante clara e envolver necessidade, não apenas estética.
 
"Está fazendo porque não tem mama ou porque está acompanhando uma moda? Se ela está  acompanhando uma moda, está indo pelo caminho errado. A prótese de silicone foi feita para quem tem mamas pequenas ou a mama aquém da proporção do corpo daquela pessoa. É uma coisa meio temerária seguir a moda fazendo uma cirurgia”, alertou o especialista.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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