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10/10/2021 às 13h00min - Atualizada em 10/10/2021 às 13h00min

Aumento da temperatura impõe desafios ao agronegócio em Uberlândia e região

Especialistas ouvidos pelo Diário afirmam que clima cada vez mais quente e crise hídrica devem impactar cada vez mais na produção nos próximos anos

LORENA BARBOSA
Produtores rurais investem cada vez mais na preparação do solo para que a lavoura seja mais resistente | ACERVO PESSOAL
Com os termômetros beirando a casa dos 36°C nos últimos meses, o clima seco e cada vez mais quente tem sido percebido com maior intensidade em Uberlândia e no Triângulo Mineiro. Segundo dados do Instituto de Meteorologia da Universidade Federal de Uberlândia, foram mais de 120 dias até o registro das primeiras chuvas. As alterações climáticas e os frequentes recordes nas temperaturas impactam não apenas na rotina da população como também no agronegócio.
 
De acordo com especialistas ouvidos pelo Diário, os fatores climáticos influenciam desde o plantio até a colheita, seja em relação às alterações da temperatura, no excesso ou falta de chuvas e nos fortes ventos. As pragas e outras doenças que atingem a lavoura podem ser potencializadas com essas mudanças mais drásticas.
 
Neste ano, as secas e as geadas foram desafiantes para o produtor rural do Triângulo Mineiro, mas a perspectiva é de melhora para a próxima safra, conforme explica o produtor e diretor do Sindicato Rural de Uberlândia, Júlio César Pereira Júnior.
 
"O período seco deste ano começou mais cedo e durou por muito tempo. Esse foi o grande prejuízo do período da entressafra. Logo depois nós tivemos prejuízos com algumas geadas. A safra de 2021/2022 começou agora e as chuvas estão dentro do esperado. A perspectiva é melhor em relação a este ano", contou o produtor.
 
Júlio César explica ainda que para driblar as condições climáticas e não ser tão dependente das chuvas, os produtores precisam nutrir melhor as culturas para que elas sobrevivam mesmo com longos períodos de estiagem e planejar toda a preparação do solo.
 
"É preciso aprender para melhor aproveitar os períodos chuvosos. Tem ano que não vai chover e quanto melhor nosso berço, que é a preparação do solo com material orgânico, melhor será o enfrentamento da falta de chuva", destacou.
 
A região do Triângulo Mineiro, propícia para o plantio de soja, deve ser afetada nos próximos anos. Projeções da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostram que até 2070 aproximadamente 41% das áreas onde o grão é cultivado deverão diminuir por causa da crise hídrica. A falta de chuva acaba forçando um processo de irrigação para compensar a falta da água, o que provoca perdas nas safras de grãos e altera a rotina da produção agrícola. Algodão, arroz, café, feijão e milho podem deixar de ter espaço em locais onde, hoje, são favoráveis ao plantio.
 
Em entrevista ao Diário, o engenheiro agrônomo e especialista em climatologia, Roberto Terumi Atarassi, disse que no último ano estava mais fácil projetar como seriam as safras. O especialista explica que a localização de Minas Gerais, por estar entre uma região seca, ao norte, e outra mais úmida, ao sul, dificulta a previsão deste cenário.  Segundo ele, ao longo dos anos, as temperaturas na região mais ao norte do estado devem aumentar e chegar até a região do Triângulo Mineiro. Tudo isso faz com que as projeções climáticas a longo prazo sejam mais imprecisas.
 
"A tendência é de aumento nas temperaturas da nossa região. O consumo de água aumenta, porque as plantas consomem mais águas. Ao mesmo tempo, as chuvas devem diminuir por aqui. À medida que os produtores precisam mais da irrigação a crise hídrica da região aumenta. A quantidade de água diminui nos reservatórios que produzem energia, que acaba ficando mais cara", alerta Atarassi.
 
REDUÇÃO DE IMPACTO
Para o produtor e diretor do Sindicato Rural de Uberlândia, Júlio César Pereira Júnior, um dos caminhos para diminuir o impacto ambiental do agronegócio na natureza e, como consequência, diminuir a contribuição com o aumento das temperaturas, o desmatamento e a estiagem, é o equilíbrio entre o lucro e a sustentabilidade.
 
“Muito se fala que ou o produtor sacrifica e arrebenta com toda a parte ambiental da fazenda dele, ou ele preserva e não possui lucro. Eu acredito que a gente dá conta de preservar e ter lucro. Dá pra ser sustentável e também lucrativo”, disse.
 
Em conversa com a reportagem, o climatologista e professor doutor em Geografia e de Climatologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Paulo Cezar Mendes, disse que o desmatamento e o crescente número de queimadas têm contribuído para o aumento da temperatura. 
 
Segundo o especialista, a temperatura média do planeta aumentou cerca de 1°C em relação ao período pré-industrial. Esse aquecimento é resultado do aumento da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, produzido pela queima de combustíveis fósseis e mais ações causadas pelo homem. “O processo de desmatamento e queimadas também influenciam essas alterações climáticas”, afirmou.
 
 
 
 
 

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