16/09/2021 às 09h45min - Atualizada em 16/09/2021 às 09h45min
Com alta da inflação, consumidor de Uberlândia precisa mudar padrão de vida
Mercado financeiro projeta inflação a 8% neste ano, sendo a 23ª alta consecutiva na previsão
GABRIELE LEÃO
Consumidor assalariado sente o impacto da alta dos preços em até 4 pontos acima do IPCA | Foto: DIVULGAÇÃO A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, subiu, novamente, de 7,58% para 8%, neste ano. Essa é a 23ª elevação consecutiva na projeção e, segundo o economista de Uberlândia Benito Salomão, o consumidor assalariado deve sentir ainda mais os efeitos da economia.
Em agosto, puxada pelos combustíveis, a inflação subiu 0,87%, sendo a maior inflação para o mês desde o ano 2000, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o indicador acumula altas de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses, o maior acumulado desde fevereiro de 2016, quando o índice alcançou 10,36%.
O eletricista técnico, Paulo Sérgio Ribeiro tem percebido o aumento dos preços e do custo de vida durante a pandemia. Na casa onde vive com a família de cinco pessoas, ele é o único que tem renda fixa e precisou cortar gastos significativos para manter os suprimentos básicos.
“Não consigo mais ir ao mercado e comprar as coisas que desejo, por exemplo, sempre mantenho as compras do que é realmente necessário e normalmente em menor quantidade. A compra básica do início do mês não dura o mês todo. Além disso, precisei cortar os gastos com combustível e laser”, comentou.
A esposa do eletricista, Mirian Santos saiu do trabalho há três anos para cuidar do filho do casal, de cinco anos. A criança precisa de terapias específicas para o tratamento do Transtorno Global de Desenvolvimento (TGD), distúrbio que afeta algumas funções do desenvolvimento humano, como a fala e o aprendizado.
Sem a cobertura do convênio médico para o tratamento, o casal tinha um investimento de cerca de R$ 650 mensais para a terapia da criança, mas com as contas atrasadas e dívidas, a terapia teria que entrar na lista de cortes do orçamento.
“Conversamos com a terapeuta, encontramos uma solução para continuar o tratamento do meu filho. Trocamos o valor da mensalidade por faxina. Se não tivéssemos essa opção, hoje ele não teria mais acesso às terapias”, comentou Mirian.
Desde o início da pandemia, ela faz bicos como doméstica para ajudar nas despesas de casa, mas com o aumento do custo de vida, tem sido cada vez mais desafiador.
INTERFERÊNCIAS NA ALTA
O economista, Benito Salomão comentou que os fatores climáticos, pandemia e falta de segurança na economia impactam para a alta da inflação.
“Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, estabelecida atualmente em 5,25% ao ano. Quando há o aumento da taxa básica de juros, as taxas mais altas podem dificultar a recuperação da economia. Além disso, ainda temos os acontecimentos climáticos que impactaram no setor de produção, como o café, que teve a safra comprometida por causa das geadas”, explicou.
PROJEÇÃO
A projeção para 2021 está acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior de 5,25%.
Benito ainda comentou que a expectativa é que a inflação continue subindo e pode voltar a apresentar recuperação em 2023, mas até lá, o consumidor ainda vai sentir os impactos no dia a dia.
“Para se ter uma ideia, a inflação está demasiadamente elevada e em algumas regiões já passou de 10%. As pessoas de baixa renda sentem ainda mais o impacto desse aumento e essa sensação pode chegar até 4 pontos acima do IPCA cheio. Nesse caso, a inflação impacta o trabalhador como um imposto indireto, que vai corroendo a renda do assalariado e não há outra alternativa a não ser diminuir o padrão de vida”, comentou.
