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22/08/2021 às 11h00min - Atualizada em 22/08/2021 às 11h00min

Pandemia intensifica sintomas de transtornos psicológicos entre jovens

Estudo mostra que jovens estão demonstrando níveis mais elevados de depressão e ansiedade; Câmara Municipal de Uberlândia recebe projeto para implantar capelania escolar

SÍLVIO AZEVEDO
Os mais afetados pelos transtornos mentais são meninas e os jovens mais velhos | AGÊNCIA BRASIL
Muito se fala sobre os efeitos que a Covid-19 causou na economia mundial. A tiracolo, problemas sociais vêm acompanhando essa situação. No meio disso tudo a saúde mental sofre com essa pressão causada pelo isolamento social, perda de entes queridos ou a perda do emprego.

Mas não é somente os adultos e idosos que têm sofrido com problemas de saúde mental. Uma pesquisa feita por um grupo de trabalho da Universidade de Calgary, no Canadá, estima que a cada quatro jovens, um possui depressão, enquanto a cada cinco, um possui sintomas de ansiedade. O trabalho foi publicado na revista científica JAMA Pediatrics.

Ainda segundo a universidade, esses sintomas duplicaram em crianças e adolescentes devido à Covid-19. Segundo a metanálise, que incorpora 29 estudos com quase 81 mil jovens de todo o planeta, os mais afetados são meninas e os jovens mais velhos, que demonstraram níveis mais elevados de depressão e ansiedade.

Conforme dito pela psicóloga de Uberlândia, Isabella Contino, a pandemia alterou a vida cotidiana de várias pessoas em um período curto de tempo. Segundo ela, a sociedade ensina desde cedo a controlar e resolver problemas, mas não a lidar com eles quando estão fora do controle das pessoas.

“Mudamos nosso estilo de vida, saímos de um piloto automático, daquela maneira automática de agir, fomos expostos a situações de desemprego, isolamento social e principalmente ao medo de ser contaminado, que causa muita vulnerabilidade e estresse. Isso afeta a nossa saúde mental na medida em que percebemos que há uma sensação de desamparo, de falta de segurança. Há também a inabilidade de lidar com as mudanças repentinas que também gera ansiedade, irritabilidade e desconforto em relação a esse contexto em que estamos inseridos”, explicou.

Ainda de acordo com a profissional, as causas de ansiedade e depressão são várias, como fatores biológico, social, psicológico, história de vida, personalidade e genética, e a pandemia pode intensificar os sintomas em quem já tem o transtorno.

“É como se fossem ingredientes de um bolo. São necessários todos os ingredientes para fazer um bolo. Não dá para fazer só com um ou outro ingrediente. Para algumas pessoas, a situação de pandemia pode ter sido mais um ingrediente do bolo que estava faltando para desenvolver algum transtorno. O que acontece é que todo o estresse e os medos gerados pela pandemia costumam intensificar consideravelmente os sintomas de tais transtornos. E é sempre importante reforçar que, nesses caso, a ajuda qualificada de um profissional de saúde mental é imprescindível”, complementou.

O servidor público federal, Lucas Pires, de 30 anos, teve uma crise depressiva em março deste ano. Além do estresse do trabalho, inclusive com jornadas triplas durante 10 dias, ele sofreu com a distância das família e as notícias de perdas causadas pela Covid-19.

“No começo do ano eu tive uma sobrecarga de trabalho muito grande no trabalho. Me desgastou muito. Foi do final de dezembro até março, que foi quando a gente teve um período crítico da pandemia. Como trabalho na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), comecei a me envolver com movimento sindical, lidando com mortes de pessoas próximas. Notícias de mortes, sobrecarga de trabalho, longe da minha família, o problema se tornou um pouquinho mais grave. No início de abril entrei em uma crise depressiva”, detalhou.

Mesmo fazendo terapia, buscou ajuda de um psiquiatra e, aos poucos, conseguiu estabilizar os efeitos da doença. “Já fazia terapia há um ano e resolvemos que eu deveria procurar um psiquiatra. Comecei o tratamento da depressão e foi se normalizando até junho, quando consegui uma estabilidade melhor”, disse.

Com a depressão, Lucas abandonou as atividades, inclusive as que fazia como escritor e produtor cultural. “Parei com todas elas para me tratar. Com orientação do psiquiatra, o retorno a essas atividades se daria gradativamente conforme fosse melhorando. Fiquei dois meses isento de todas as atividades”.

Outro fator que vem contribuindo para o seu tratamento foi a sonhada transferência para Uberlândia. “Nesse meio tempo saiu minha transferência de Patos de Minas para Uberlândia, que era algo que eu já esperava. Junto com a terapia, o tratamento psiquiátrico e a volta para Uberlândia me ajudou muito porque eu conseguiria estar perto de amigos e família e me ajudou muito a estabilizar o tratamento”, contou Lucas.


Projeto
Na Câmara Municipal de Uberlândia, alguns projetos tratando da saúde mental de crianças e jovens estão sendo colocados em pauta. Um deles, do vereador Neemias Miqueias (PSDB), trata da capelania escolar. “A capelania é uma atividade executada há muitos anos em hospitais, escolas, orfanatos, asilos etc. Nesses locais, as pessoas sempre precisam de aconselhamento ou até mesmo de uma palavra de alegria e esperança, especialmente, nessa ‘pós-pandemia’. Por isso, os capelães levarão palavras que inspiram e direcionam”, explicou.

Neemias foi presidente da Fundação Filadélfia, que possui cinco escolas na cidade, e busca acompanhar as dificuldades que pais, alunos e servidores da educação encontram nesse período de pandemia.

“Muitos me relataram evasão escolar, depressão, angústia das mais diversas, crises familiares. Diante disso, estamos propondo ações e falando com o executivo e com entidades educacionais sobre alternativas que auxiliem a comunidade escolar nessa reta final de pandemia e nos pós-pandemia que será um período bem maior”, disse.

O projeto foi deliberado na última sessão do mês de agosto e deve entrar na pauta de discussões do Plenário da Casa nas ordinárias de setembro.


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