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14/08/2021 às 14h00min - Atualizada em 14/08/2021 às 14h00min

Desmatamento de seis hectares preocupa moradores do setor sul

Área será utilizada para construção de empreendimento imobiliário

SÍLVIO AZEVEDO
Região possui quase cinco mil árvores | DIVULGAÇÃO
Ambientalistas e moradores da região Sul de Uberlândia estão preocupados com o possível início de obras que desmatará cerca de seis hectares de cerrado para a construção de um empreendimento imobiliário no Jardim Sul. O parecer técnico elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Serviços Urbanos (SMMASU) deverá ser votado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental (Codema) na reunião que acontece na próxima terça-feira (17).
 
Imagens de drone, que compõem o parecer da Secretaria de Meio Ambiente, mostram uma vegetação bem densa e, ainda segundo o parecer, há estimativa de que existam quase cinco mil árvores de espécies variadas, sendo parte delas, 250, imunes de corte pela legislação municipal, como o pequi e ipê amarelo, e não imunes, como sucupira branca, pau terra, caviúna, mucuíba e sucupira preta.
 
Para compensar o corte das espécies imunes à corte, a empresa deverá compensar com o plantio de 172 mudas de ipês amarelos e 410 pequis no mesmo local ou em outra área indicada, além de fazer a manutenção delas por cinco anos, substituindo as que não se desenvolverem adequadamente.
 
A preocupação maior, segundo um morador que mora próximo ao local do empreendimento, mas que preferiu não se identificar, é que seja o início de um processo de desmatamento de toda área nativa que existe entre os bairros Jardim Sul, Jardim Botânico, Gravatás, Itapema Sul, Karaíba e Jardim Inconfidência.
 
“É muito intrigante esses desmatamentos. Falam em proteger o meio ambiente, mas começam eliminando o cerrado. A gente fica muito chateado, pois esperamos que o poder público aja em favor da maioria, mas favorece uma minoria. Já sabemos que tem projetos para desmatar a área em torno do córrego Mogi, que é próximo e não queremos deixar que essa área desapareça”, disse.
 
O morador ainda contou ainda que, quando comprou a área, anos atrás, a escolha foi por um local tranquilo, com área verde para que tivesse uma qualidade de vida melhor, mas pelo visto, segundo ele, em breve, só terá a visão de muros e muito movimento.
 
“Vou perder a tranquilidade que tenho hoje. Um local quase sem movimento que vai crescendo. Hoje serão seis hectares, amanhã mais seis, depois 10. Questiono uma coisa também. A região está preparada para esse crescimento populacional? A rede de saneamento suporta a chegada desses novos empreendimentos? A infraestrutura de trânsito está preparada para esse crescimento exponencial de fluxo de veículos? Não é só o meio ambiente que perde, mas um todo. E tudo com a anuência dos órgãos públicos”.

O biólogo e diretor de sustentabilidade da ONG Associação para Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro (Angá), Gustavo Malacco, também associa o desmatamento aos constantes eventos severos causados pelas chuvas na região Sul.
 
“Quando a gente fala em desmatamento na cidade para instalação de condomínios, você impermeabiliza mais ainda as áreas e, consequentemente, agrava o problema urbano. Aí teremos mais enchentes, mais inundações na cidade. Essa área funciona como um filtro nessa região jusante que é muito impactada e a montante que tem a possibilidade de reter, de infiltrar a água. É um debate muito importante com a sociedade que isso pode ser a salvação”.
 
Malacco diz ainda que a Organização Nações Unidas (ONU) publicou relatório mostrando que a ação do homem está afetando o planeta e, em alguns casos, de maneira irreparável, com a temperatura da Terra aumentando em aproximadamente 1,5⁰C.
 
“Na segunda-feira saiu o novo relatório Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que deixou claro que os impactos severos são realidade, continuarão a ser severos e se intensificarão nos grandes centros urbanos. Isso que estamos falando das enchentes que acometem as médias e grandes cidades”.
 
RESPOSTAS
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que todo empreendimento imobiliário precisa passar pelo crivo ambiental. Dessa forma, é necessária a apresentação do projeto com objetivo específico do empreendimento. “No caso do empreendimento imobiliário citado, o município informa que se trata de um projeto aprovado pelo Codema em 2018, respeitando todas as medidas do Código Florestal”, constou a nota.

Com relação à construção de um parque ambiental na região do Córrego Mogi, a Secretaria disse que grande parte da área se trata de propriedade privada, mas que por ser de interesse do município, será feito um estudo da região para a possível construção de um dispositivo no local.

“Já sobre a infraestrutura de transporte, a Prefeitura de Uberlândia informa que todo empreendimento imobiliário aprovado passa por estudo e, consequentemente, aprovação e propostas de adequação, tanto pelas secretarias de Trânsito e Transporte, Meio Ambiente e Serviços Urbanos, bem como a de Planejamentos Urbano”, finalizou.
 
 

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