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27/06/2021 às 10h03min - Atualizada em 27/06/2021 às 10h03min

Mudança de rotina durante a pandemia pode afetar comportamento de pets

Cães demoram até 15 dias para processar a nova rotina; procura por consultas veterinárias, banho e tosa cresce 20% em Uberlândia

GABRIELE LEÃO
Para Laiz de Souza, pets foram essenciais durante o isolamento social | Foto: Arquivo pessoal
À medida que a pandemia de covid-19 segue o curso, uma questão fica muito evidente: diversas pessoas têm optado por ficar mais próximas dos pets, ou em outros casos, recorrem a adoção para ter mais companhia nos tempos de quarentena. Mas, assim como os humanos, os cães têm sentimentos e comportamentos que precisam ser observados para manter a saúde e bem-estar do pet em dia e evitar que a mudança de rotina seja menos traumática. 

A servidora pública Laiz Campos de Souza, de 34 anos, adotou oito gatos e quatro cães antes da pandemia e os pets, que têm verdadeiro significado para ela, foram essenciais durante o isolamento social. 

"No início de 2020 recebi o diagnóstico de depressão e precisei passar por uma cirurgia, logo em seguida veio a pandemia, consequentemente meus amigos se afastaram, além disso, foi necessário ficar em quarentena. Logo pensei em adotar outros animais, principalmente os que já viviam em abrigos. Durante esse tempo, passei por momentos de muita sensibilidade emocional, e o que me ajudou a superar essas crises foi pensar nos meu pets. A gente coloca um amor tão grande, e eles foram essenciais nesse momento da minha vida, pois eram a única companhia diária e sempre sentiam quando algo não estava certo comigo. Hoje, tudo na minha vida gira em torno deles", comentou Laiz.

Com a publicitária Rayana Melo, de 31 anos, não foi muito diferente. No início da pandemia, ela trabalhou de forma remota, mas, sabendo da possibilidade de voltar a trabalhar de forma presencial, precisou se adaptar e buscar soluções para preservar os sentimentos dos pets. "Quando houve a possibilidade de ir até a empresa, mesmo que por meio período, optei por revezar para que os meus cães se adaptem melhor, num futuro próximo do fim da pandemia. E agora, que já voltei ao trabalho presencial integral, tenho percebido um comportamento mais agitado, como quebrar vasos de plantas, buracos no quintal e o Jorginho, o filhote que adora brincar, usa diversas maneiras de chamar minha atenção quando estou em casa, como trazer os brinquedos e até mesmo uivar. Sinto falta deles o tempo todo, e sei que logo eles vão se adaptar a essa nova rotina", disse a publicitária. 

 

ADAPTAÇÃO DOS PETS
Mas engana-se quem pensa que apenas os seres humanos precisam se adequar às novas rotinas. A cinóloga e etóloga especialista em comportamento e distúrbio canino, Adriana de Oliveira, classificou os pets da quarentena em dois grupos: O primeiro, sendo cães que já conviviam com suas famílias antes da pandemia, e o segundo em cães adotados no período da pandemia, e cada um deles segue uma linha de comportamentos diferentes.

Segundo a especialista, "o grupo 1 já sofreu com mudanças nas rotinas em algum momento da vida. A grande maioria foi educada e condicionada dentro de rotinas totalmente diferentes. Disponibilidade de tempo e de pessoas costumava ser mais escassa antes da pandemia. O cão costuma ficar ansioso quando não entende o que se espera dele. Quando acostumado a uma rotina, isso muda drasticamente, o cão entra em um processo de adaptação, ele precisa de certa forma entender e antecipar o que acontece a sua volta. Quando não consegue fazê-lo, os distúrbios de ansiedade começam a aparecer. Alguns cães respondem à ansiedade com distúrbios psicossomáticos, podendo adoecer fisiologicamente, outros podem se tornar agressivos ou agitados e outros desenvolvem apatia", explicou Adriana. 

"Já o grupo 2 foi condicionado a uma disponibilidade de tempo excessiva, pessoas sempre presentes, concessões, liberdade em excesso. No caso desse grupo de cães, o que preocupa é a rotina que eles encontrarão. Temos a métrica de não permitir a um cão, na fase infantil ou da adaptação, aquilo que ele não terá permissão para fazer quando adulto. Esse grupo de cães, na sua maioria, irá desenvolver ansiedade por separação. Distúrbios no processo do entendimento do vínculo e da liderança", afirmou. 

Adriana também explicou que o cão pode se sentir inseguro com a mudança de rotina, e quando é colocado sob estresse, pode demorar até três dias para entender e processar os acontecimentos. “Por isso é sempre bom estar atento aos comportamentos deles, pois cães mais independentes têm mais facilidade de adaptação, mas aqueles que têm uma personalidade mais acuada e reservada podem sofrer. O tempo para registrar essas novas memórias pode demorar até 15 dias, por isso é importante sempre estimular que eles brinquem sozinhos e que os donos simulem saídas de casa em algum período, assim evita que esse período seja tão traumático”, orientou. 

REFLEXOS
O veterinário Rodrigo de Oliveira é dono de um pet shop em Uberlândia, e percebeu o aumento na procura por banhos, tosas e consultas durante a pandemia. “Ao passar mais tempo em casa, os donos começaram a observar melhor os comportamentos dos pets, mas, além disso, eles também têm procurado cuidar mais do bem-estar e qualidade de vida dos animais. De 2020 até o momento, registramos um aumento de 20% na procura por consultas, banho e tosa, de pets de diversos tamanhos”, comentou. 

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