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08/06/2021 às 12h15min - Atualizada em 08/06/2021 às 12h15min

Usuários do SUS reclamam de demora e dificuldade para fazer exame de covid em Uberlândia

Conselheira de saúde afirma que recebeu relatos de pessoas que não conseguiram fazer o teste

FERNANDO NATÁLIO
Prefeitura informou que o pedido para realização de testes é feito conforme avaliação médica I Foto: Secom/PMU
Usuários do SUS em Uberlândia têm reclamado de demora e dificuldade para fazer o exame para detecção de coronavírus nas unidades da rede pública de saúde da cidade.

A doméstica e cozinheira Vanessa Mariana Gomes foi uma das pessoas que passou por esse problema. Em fevereiro deste ano, ela teve covid-19. Na ocasião, teve que fazer um teste particular, que confirmou a doença, porque na rede pública municipal foi informada que o exame teria de ser agendado.

“Fui na UAI (Unidade de Atendimento Integrado) Martins. Estava com sintomas parecidos com o da dengue, com dores de cabeça e no corpo. Fizeram o exame de dengue e não foi constatada. Então, disseram que devia ser covid. Mas, falaram que o exame deveria ser feito oito dias após o início dos sintomas. Eu não ia esperar esse tempo para saber se estava doente ou não. Fiz o exame, mas minha família teve que se juntar para pagar, pois eu não tinha condições para isso”, explicou.

Ainda de acordo com Vanessa Gomes, em fevereiro, mesmo sem a realização de exame de covid na UAI Martins para confirmar se ela estava com a doença, foi indicado tratamento com Azitromicina (antibióticos com efeito antibacteriano que não tem eficácia comprovada no tratamento do coronavírus), Loratadina (anti-histamínico utilizado no tratamento de sintomas alérgicos) e Dipirona (anti-inflamatório com ação analgésica e antitérmica), caso tivesse febre.

Também conforme Vanessa Gomes, pouco mais de três meses depois de ter covid e enfrentar dificuldade para fazer o exame de detecção da doença, no fim de maio, ela voltou a ter sintomas gripais e, novamente, não conseguiu a assistência médica devida na rede pública.

“Tive dor de cabeça, nariz entupido, estava espirrando. Temi que pudesse ser covid. Fui na UAI Martins novamente e, mais uma vez, não fizeram exames. Me encaminharam para a UAI Roosevelt e deram um atestado de sete dias. Na UAI Roosevelt, me encaminharam para fazer o exame no postinho do meu bairro, o Jaraguá, que não faz exame de coronavírus. Dessa vez, desisti de buscar nova assistência médica e preferi ficar em casa. Acho que era crise de sinusite, mas é uma situação complicada porque não tive o diagnóstico”, reclamou.
 
COM SINTOMAS, MAS SEM EXAME
A dificuldade e a demora para fazer o exame de covid também foi enfrentada por um pedreiro ouvido pela reportagem do Diário e sua esposa há cerca de uma semana. Ambos não quiseram ser identificados. “Fomos na UAI Planalto com dores de cabeça, de garganta, nas juntas e nas costas, moleza e tosse. Lá, o médico disse que era suspeita de covid e nos mandou para a UAI Luizote, pois a UAI Planalto não estava atendendo casos de coronavírus. Na UAI Luizote, passamos por consulta e o médico nem examinou direito e já passou remédios para tomarmos contra a covid. Mas, não fizeram o exame de coronavírus. O médico disse que só estão fazendo o teste em casos graves”, relatou a esposa.

Com receio de ter outra doença, o casal resolveu fazer um sacrifício financeiro e realizar um exame de antígeno na farmácia, com resultado rápido, que deu negativo. “Na UAI deram remédios para tomarmos para covid. E se estivéssemos com dengue? Tomando alguns medicamentos poderíamos até piorar, ter dengue hemorrágica. Por isso, resolvemos pagar o exame para meu marido, mas não tive como pagar para eu também fazer o teste”, pontuou.

Apesar do teste feito por seu marido ter dado negativo, a dona de casa ainda teme que o casal possa estar com coronavírus e disse que voltará a buscar o atendimento médico na rede pública municipal. “Esses exames de farmácia não são tão confiáveis. Estamos tendo falta de ar. Vou voltar na UAI e explicar que não estamos bem. Espero que nos atendam como deveriam e que façam o exame certo”, disse complementou. O RT-PCR é considerado o exame padrão-ouro no diagnóstico da covid-19.
 
PROBLEMAS AO CONSELHO
A conselheira do Conselho Distrital Oeste, Tania Lucia dos Santos, contou ao Diário que em maio deste ano, recebeu relatos de mais de dez pessoas com sintomas de covid-19 que não conseguiram fazer o exame de detecção do coronavírus na rede pública de saúde de Uberlândia. “O problema é que na rede pública se a pessoa chega com dois ou mais sintomas de covid o médico nem pede exame, já a afasta por dez dias e orienta medicações como a Azitromicina e a Ivermectina (ambas não têm eficácia comprovada para tratar o coronavírus) para tratar de Covid”, afirmou.

Para Tania dos Santos, “é uma situação complicada porque, mesmo sem condições financeiras, essas pessoas têm que pagar por um exame particular para ter certeza se estão ou não com a doença, até porque nas empresas que trabalham muitas vezes há a exigência do resultado do teste”.

Ainda de acordo com a conselheira de saúde, enquanto não tem o resultado do exame, parte dessas pessoas toma os medicamentos sem ter confirmação de diagnóstico. “Talvez nem precisam tomar esses remédios. É uma situação absurda”, afirmou. “O que queremos é que o município faça a testagem, com o exame RT-PCR, que é o mais confiável, e dê o diagnóstico correto e em tempo adequado para essas pessoas”, completou.
 
POSICIONAMENTO DA PREFEITURA
Questionada pelo Diário de Uberlândia sobre a demora e a dificuldade enfrentada por usuários do SUS para fazer o exame de detecção do coronavírus na rede pública na cidade, a Prefeitura de Uberlândia informou que o pedido para realização de testes, seja ele o rápido ou PCR, é feito conforme avaliação médica.

Disse ainda que novos estudos esclarecem que o teste PRC obtém melhores resultados entre o quarto e oitavo dia de sintomas. Já a indicação para o teste rápido é que seja realizado após o oitavo dia de sintoma.

O município disse também que assinou recentemente um contrato mais robusto com um laboratório da cidade para coleta e realização dos exames para detecção da doença e esclarece que já testou o equivalente a 55% da população da cidade desde o início da pandemia. Esclareceu ainda que a paciente V.M.G foi atendida, medicada e encaminhada ao posto de saúde de referência pra agendar o teste rápido”.



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