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02/06/2021 às 12h00min - Atualizada em 02/06/2021 às 12h00min

Projetos e ações buscam levar absorventes às mulheres carentes de Uberlândia

Falta de acesso à higiene básica é realidade em Uberlândia; vereadora quer incluir item na cesta básica e em locais públicos

BRUNA MERLIN
Estudo da UNICEF mostra que 4 milhões de meninas não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais I Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Você já ouviu falar em pobreza menstrual? O problema está relacionado à falta de acesso a absorventes e outros produtos higiênicos que afeta milhares de mulheres no Brasil. Um relatório desenvolvido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) apontou recentemente que 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em casa e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.
 
Parece ser uma realidade distante para muitas pessoas, mas, infelizmente, ela está mais perto do que parece. Em Uberlândia, ações e projetos buscam levar dignidade menstrual às mulheres de baixa renda. A falta de acesso a absorventes, que ainda não é considerado um item básico de higiene e muitas vezes é categorizado como um produto de beleza, é uma realidade para muitas mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade.
 
Com isso, a menstruação, que deveria ser vista como algo natural, acaba se tornando um peso e atinge negativamente a vida pessoal e profissional delas. Segundo a médica de Família e Comunidade, Natália Madureira Ferreira, a carência desse produto essencial afasta as mulheres até mesmo de frequentar ambientes sociais. “Muitas meninas deixam de ir para a escola porque não têm absorventes. Isso também acontece com adultas que faltam no trabalho ou até mesmo preferem nem trabalhar devido à menstruação”, disse.
 
Além da interferência na vida social, a falta de recurso acaba prejudicando a saúde íntima feminina, já que muitas mulheres precisam utilizar alternativas para continuar tendo uma vida normal na medida do possível. O uso de revistas, jornais e até miolo de pão são alguns dos materiais utilizados para substituir o famoso e inalcançável absorvente.
 
Ainda de acordo com Natália Ferreira, essas soluções não são nada seguras e podem acarretar diversos problemas de saúde. “A introdução de materiais no canal vaginal que não são ideais e recomendados pode causar alergias, lacerações e traumas, infecções gravíssimas e diversas doenças”, acrescentou.
 
PANDEMIA
O que já era algo difícil se tornou ainda pior com a chegada da pandemia do novo coronavírus. Em razão da crise econômica e a supervalorização dos preços, o acesso ao absorvente ficou ainda mais impossível para aquelas mulheres que usam o pouco do dinheiro que têm para poder comprar comida e outros mantimentos.
 
Elaine dos Santos Lopes não imaginava que diversas mulheres estavam em pobreza menstrual até realizar uma ação de arrecadação de produtos básicos. Ela, que é líder da Cozinha Comunitária, conseguiu oferecer diversos produtos de higiene, inclusive o absorvente, para mulheres da região do bairro Prosperidade.

“Conseguimos recursos financeiros de uma empresa da cidade e quando fui perguntar o que essas mulheres estavam precisando todas disseram que era absorvente e outros produtos como shampoo e sabonete”, relatou.
 
Para Elaine, o absorvente deveria ter sido incluído como item da cesta básica há muito tempo. “A pobreza menstrual existe há anos, mas só agora que está sendo discutida. É um absurdo você pensar como diversas mulheres passam por essa situação que fere a dignidade feminina”, finalizou.
 
PROJETO
Em Uberlândia, o tema chegou à Câmara Municipal de Uberlândia. Recentemente, a vereadora Dandara Tonantzin (PT), apresentou ao Legislativo um projeto que busca disponibilizar absorventes em locais públicos, principalmente em escolas. Para ela, o objetivo é oferecer dignidade menstrual às mulheres de baixa renda.
 
O projeto também pretende colocar o absorvente como item básico de higiene e que ele faça parte da cesta básica das famílias em extrema carência. “Atualmente, o absorvente é um produto de luxo e isso está erradíssimo. Fizemos uma emenda para que esse produto seja colocado nas cestas básicas entregues pelo Programa Pró-Pão da Prefeitura de Uberlândia”, explicou ela.
 
Além de mover ações no Legislativo, Dandara também participa de grupos assistenciais da cidade como o Movimento 034 que realiza arrecadação de cestas básicas que inclui o absorvente como item essencial. “É uma grande rede de solidariedade para que essas famílias e mulheres recebam o mínimo para sobreviver”, destacou.
 
Os interessados em contribuir com o Movimento 034 podem entrar em contato pelo número (34) 9 9900-3034 ou através das redes sociais do grupo.
 

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