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28/04/2021 às 10h16min - Atualizada em 28/04/2021 às 10h16min

Exposição às telas de aparelhos eletrônicos aumenta quantidade de crianças com miopia

Uso de notebooks, tabletes, celulares, TVs e computadores tem sido mais frequente durante a pandemia

NILSON BRAZ
Isabela Geneiro da Silva, de 13 anos, usa o notebook para assistir às aulas online | Foto: Arquivo pessoal

Se as telas eletrônicas já faziam parte da nossa realidade, com mais de um ano de pandemia elas deixaram de ser parte para ser praticamente o todo. Da obrigação a diversão, os celulares, tablets, TVs e computadores passaram a suprir muito do que o isolamento social nos privou em época de coronavírus.
 

Com apenas 13 anos de idade, Isabela Geneiro da Silva tem vivido isso na pele. E nos olhos também. O notebook é a sala de aula desde quando começou a pandemia, a diversão passou a ser no celular e na TV, o contato com os amigos é só por chamada de vídeo e até a comemoração do aniversário teve ser virtual. E os reflexos disso estão aparecendo. Luciana Geneiro da Silva, mãe da Isabela, percebeu que a filha vinha reclamando de dores de cabeça e irritação nos olhos. Consequência do uso frequente de celular e outras telas de aparelhos eletrônicos.
 

“Quando ela fez dez anos, nós demos um celular de presente pra ela. Até então ela nunca teve problema de visão. Quando a gente foi lá no ano seguinte, já tinha desenvolvido um pouquinho a miopia. O doutor Adael explicou essa questão das tecnologias, de ficar muito tempo, que pode acontecer. Vinha estável, e agora, com 13 [anos], a gente percebeu que ela começou a reclamar de dores de cabeça. Na última consulta, que é anual, vimos que o grau de miopia dobrou”, comentou Luciana.
 

O médico da menina, Adael Soares, conversou com o Diário de Uberlândia e contou que essa resposta do corpo à exposição de telas eletrônicas já é de conhecimento geral da comunidade médica como um dos fatores principais do desenvolvimento da miopia. O estímulo luminoso recorrente e constante faz com que uma parte do olho mude de forma, induzindo a miopia. “Aumentou muito o número de queixas de crianças com embaçamento visual e dor de cabeça. Isso aumentou, pelo menos, uns 30% no meu consultório. Então a criança chega, nunca teve, ou que já usava óculos, com a visão embaçada, dores de cabeça e a gente vê que o grau aumentou”, comentou o oftalmologista.
 

E esse é um comportamento observado em outros locais pelo mundo. “Com a pandemia, o uso de telas tem aumentado demais, tá havendo um aumento da miopia nesses pacientes. Para se ter uma ideia, um estudo feito durante o lockdown chinês, que durou cinco meses, com mais de 120 mil crianças, percebeu um aumento de 0,4 graus de miopia. Esse aumento é considerado muito alto quando acontece em poucos meses” disse Adael.
 

O estudo citado pelo médico foi publicado em uma renomada revista científica norte-americana. O levantamento analisou dados de um grupo de crianças chinesas entre 6 e 13 anos que já era acompanhado desde 2015 quanto aos problemas oftalmológicos. Com a pandemia, foi possível analisar os impactos do isolamento social na saúde dessas crianças. O estudo apontou que nos cinco meses de lockdown, comparado com os anos anteriores, teve um aumento de 400% na prevalência de miopia nas crianças de 6 anos. Nas mais velhas o número foi menor, mas ainda preocupante. Nos participantes com 7 anos o aumento foi de 200% e aos 8 anos de 40%. Ou seja, mais crianças desenvolveram a doença estando em isolamento social.
 

“O que acontece é o tempo de duração do estímulo. O recomendado, antes da pandemia, era uma hora de TV e mais uma hora de eletrônicos. Agora, com as aulas online, isso é praticamente impossível. Então não é chegar mais perto, ficar mais longe da tela, isso tudo não interfere, o que se pode tentar fazer é diminuir o máximo possível. Tentar fazer intervalos, sem telas, entre uma atividade e outra”, disse o médico.
 

A mãe da Isabela comentou sobre a dificuldade de achar uma alternativa para utilização mais constante das telas de computadores e celulares. “Das 13h30 às 18h10 ela tem aula online, não tem como evitar [de ficar no computador]. Depois tem o celular, tem trabalho pra fazer. Então não tem como eu falar pra ela sair do computador, ou sair do celular. É uma coisa que vem refletindo em todo mundo, não foi só com ela. Eu também tive um aumento de grau, meu esposo que trabalha o dia todo no computador foi a mesma coisa. E por ter que ficar dentro de casa, a gente tenta nos distrair com séries, filmes”, finalizou Luciana.
 

OUTROS PROBLEMAS

Mas não é só a miopia que aparece com mais frequência quando se trata do uso frequente de telas de aparelhos eletrônicos. É muito comum que as pessoas sintam irritação nos olhos, incômodo, ardor nos olhos. E a explicação é simples, concentrados na frente da TV ou com o celular, piscamos menos do que deveria. “Essa coceira, ou irritação que dá, é porque, normalmente, a gente pisca de 20 a 25 vezes por minuto. Quando a gente tá no computador ou em uma tela, em geral, a gente fica tão concentrado que diminui o número de piscadas. Estudos mostram que, de 25, cai para 5 vezes por minuto. E é piscar que lubrifica o olho, que dispara a lágrima. O piscar que estimula a produção de lágrima. Com isso o olho resseca muito.

O olho seco costuma gerar uma descamação na superfície da córnea. Isso arranha, dá a sensação de que tem areia nos olhos, arde, coça, fica vermelho. Então o que a gente pode fazer? O ideal é que a cada hora [de aula online], cinco minutos de descanso. A cada duas horas, dez minutos. Qual é a melhor forma de descansar o olho? É você olhar pro horizonte, olhar para o céu, porque a gente não foca em nada. É quando o olho está 100% relaxado. E quando tiver com sintoma de irritação, lubrificar o olho com lágrima artificial”, finalizou Adael.



 

 

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