Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
28/02/2021 às 12h00min - Atualizada em 28/02/2021 às 12h00min

Alta dos combustíveis já é sentida em Uberlândia

Donos de postos reclamaram sobre reajustes feitos pela Petrobras; economista classifica troca no comando da estatal como “populismo tarifário”

IGOR MARTINS
Desde janeiro, já são quatro reajustes na gasolina e três no diesel | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Somente em fevereiro, a Petrobras anunciou dois aumentos consecutivos da gasolina nas refinarias do país. No dia 8, o crescimento médio anunciado foi de 8% e, na última semana, houve novo acréscimo no preço. Com a mais recente decisão da estatal, os preços da gasolina e do diesel chegaram a R$ 2,48 e R$ 2,58 por litro, nas refinarias, e, em média, a R$ 5,27 e R$ 3,54 (etanol) por litro, nas bombas dos postos de combustíveis de Uberlândia, respectivamente.

Desde janeiro, já são quatro reajustes na gasolina e três no diesel. As constantes mudanças e aumento dos combustíveis geraram reclamações por parte de empresários e cidadãos de Uberlândia, que já sentiram no bolso os novos preços praticados nas bombas dos postos de gasolina.

“O aumento é ruim para todo dono de posto. Nós temos um reflexo imediato nas bombas e isso diminui muito o consumo, a gente acaba perdendo muito cliente. Todos nós estamos sufocados com os reajustes nos preços. O último aumento foi muito grande. Foi algo desproporcional e surreal”, disse Cibelle Rodovalho, dona de um posto de combustíveis no bairro Planalto, em Uberlândia.

Segundo ela, os reajustes da Petrobras afetaram diretamente o capital de giro de sua empresa. Como grande parte de seus clientes compram com o cartão de crédito, a negociação com as distribuidoras ficou comprometida. Uma das alternativas encontradas pela empresária foi antecipar os recebimentos das maquininhas de cartão.

“O custo do combustível para nós está ficando muito alto. Eu preciso ter muito mais dinheiro para manter o posto agora, eu preciso desse capital de giro. Eu pago para os meus distribuidores à vista e, por isso, eu preciso antecipar o cartão. Além de pagar a taxa da maquininha, eu ainda pago juros para antecipar os recebíveis. Está realmente muito complicado”, detalhou Cibelle.

A uberlandense defendeu ainda a necessidade de alteração na cobrança de impostos sobre combustíveis em Minas Gerais. De acordo com ela, o estado é um dos que possuem maior tributação em cima do produto. “Se essa situação não mudar, nenhum empresário vai dar conta”, disse.

“Em Minas, o Governo é quem decide por quanto eu vendo o combustível. O imposto sobre a gasolina aqui é de 32%. Eles não cobram o imposto em cima do valor que eu vendo. De 15 em 15 dias, eles fazem coleta de preço e decidem tributar em cima de um valor que eu posso não estar cobrando, mas que um concorrente pode. Se eu cobro R$ 4,50, o imposto precisa ser em cima desse valor. Se o concorrente cobra R$ 5,30, o imposto precisa ser em cima do valor do concorrente. Não dá para cobrar o mesmo imposto para todos. Precisamos de uma política de preços que seja mais clara”, contou Cibelle Rodovalho.
 
OSCILAÇÃO
Para o economista Benito Salomão, a troca de comando na Petrobras, ocorrida na última sexta-feira (19), contribuiu diretamente para o aumento do petróleo nas bombas dos postos de combustíveis em Uberlândia. Com o impasse na estatal, aliada à volatidade do câmbio, a flutuação no preço da gasolina é algo natural, na visão do especialista.

“Toda vez que o dólar sobe, isso reflete no preço do petróleo. Como é uma cadeia monopolizada, isso vai ser repassado para as distribuidoras e, posteriormente, para os postos. [A troca de comando] afeta a credibilidade da empresa, mas o que precisa ser tratado de fato é o câmbio. Por que o Basil apresenta um câmbio tão volátil? Por que o dólar no Brasil tem dado os movimentos que nós temos visto?”, questionou.

O economista classificou a decisão do presidente Jair Bolsonaro como um “populismo tarifário”. De acordo com Salomão, a medida tomada pelo político pode ser comparada à de Dilma Rousseff na época de seu governo, quando tentou impedir reajustes no preço do petróleo, gerando grande prejuízo para a Petrobras.

“[Jair Bolsonaro] não chegou a anunciar que vai segurar o preço do petróleo, mas se ele discordou da política de preços, você naturalmente enxerga que ele pretende adotar uma medida de tabelamento do petróleo. Isso foi feito pela Dilma por volta de 2011 ou 2012. A medida dela quase quebrou a Petrobras e o setor do petróleo. É o mais clássico exemplo de populismo”, explicou o economista.

Benito Salomão defendeu ainda a ideia da construção de um fundo, que funcionaria como uma espécie de seguro para compensar as flutuações do preço do petróleo futuramente. Segundo ele, o Governo Federal deveria pensar em uma reserva que seria capaz de segurar o preço dos combustíveis em caso de aumento do dólar.

“Quando o dólar aumentar e isso refletir no preço das refinarias, o dinheiro usado nesse fundo poderia compensar. A Petrobras não precisaria aumentar o preço nas bombas, já que essa sobra vai compor o fundo. Isso seria importante para a estatal suportar um tempo com o seu caixa. O preço do combustível não seria tão afetado com as condições financeiras”, detalhou.
 
INSATISFAÇÃO
O Diário de Uberlândia entrou em contato com o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), entidade que representa os cerca de 4 mil postos de combustíveis do estado. Em comunicado, a Minaspetro afirmou que os “revendedores são apenas mais um elo na cadeia de comercialização, esta que é extensa e composta por importantes players durante o processo, desde o refino até a disponibilização do produto ao consumidor final”.

Assim sendo, a entidade diz que os postos de combustíveis dependem das decisões e repasses (caso eles aconteçam) por parte de outros agentes do setor, como o governo, refinarias, usinas de etanol e companhias distribuidoras.

Por fim, a Minaspetro lamentou, enquanto defensor dos interesses dos donos de postos de combustíveis em Minas Gerais, em relação à alta tributação incidente sobre os combustíveis, “que sufoca o empresário, fecham dezenas de estabelecimentos em todo o Brasil e impedem o crescimento sustentável do país”.
 
 
O QUE DIZ A PETROBRAS
De acordo com a estatal, o preço cobrado nas refinarias corresponde a cerca de 33% do preço pago pelos consumidores finais da gasolina e a 51% do preço final do diesel. A Petrobras explica que “até chegar ao consumidor são acrescidos tributos federais e estaduais, custos para aquisição e mistura obrigatória de biocombustíveis, além das margens brutas das companhias distribuidoras e dos postos revendedores de combustíveis”.

Os preços praticados nas refinarias da Petrobras são reajustados de acordo com a taxa de câmbio e a variação do preço internacional do petróleo, negociado em dólar. Desde janeiro, a empresa já reajustou três vezes o preço do diesel e quatro vezes o da gasolina, que tinha o valor médio de R$ 1,84, ao sair das refinarias, em 29 de dezembro e chegou a R$ 2,48 (valor nas refinarias) com o novo reajuste.

Em 18 de janeiro, a estatal anunciou um aumento médio de R$ 0,15 para a gasolina e manteve o preço do diesel. No dia 26 do mesmo mês, um novo reajuste elevou o preço nas refinarias em R$ 0,10 para a gasolina e em R$ 0,09 para o diesel. Já em 8 de fevereiro, foi anunciado um aumento de R$ 0,17 para a gasolina e de R$ 0,13 para o diesel.
 

 
 
 
 
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90